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sábado, 1 de junho de 2013

Não tomes o primeiro lugar



Faz parte da sabedoria divina.
Um convite recebido é sempre uma deferência, mas pode não ser de tal monta que o convidado por muito importante que seja – ou assim se julgue – chegue ao local da festa e se sente num lugar da frente, ou seja, em lugar destacado, sem dar atenção àquele que lhe dirigiu o convite e a quem compete a distribuição dos convidados.
Conta a Escritura, que num determinado sábado, Jesus foi convidado por um dos notáveis da terra, um chefe da seita dos fariseus. Ao vê-lo, no local da festa, segundo o relato de S. Lucas (14, 1.7-14) muitos começaram a observá-lo sem suspeitarem que Ele era o observador mais atento de todos.
E o que viu?
Deu-se conta, de imediato, da forma apressada como os convidados escolhiam os primeiros lugares da mesa do repasto, sem respeito algum pelas regras de sociabilidade humana, correndo o risco de poder chegar alguém julgado mais importante pelo dono da festa e serem expulsos dos lugares abusivamente conquistados a esmo, por satisfação de vaidades mesquinhas de importâncias falaciosas, podendo até vir a ser relegados para os últimos lugares.
Tendo em conta esta possibilidade, conta S. Lucas, que num dado tempo da festa, Jesus disse: reclina-te no último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante de todos os que estiverem contigo à mesa. Porque todo o que a si mesmo se exaltar será humilhado, e aquele que a si mesmo se humilhar será exaltado.
A sabedoria humana - a roçar o divino - está aqui à vista de todos os que a queiram entender.
Não disputemos, pois, os lugares de destaque, nem aspiremos a ser dos primeiros entre os que rendem culto às fatuidades de um mundo que se compraz no cumprimento destas vaidades.
 Seja, antes, a nossa luta dirigida no sentido de eliminarmos com a nossa acção as diferenças que separam, uns dos outros, os homens, e seja o nosso ideal mais forte o empenho de aproveitarmos as muitas oportunidades que se nos apresentam, todos os dias, de termos atitudes serenas, muito ao jeito dos que fazem da vida uma conquista, não em bicos de pés, mas antes, com modo de quem vive sem atropelar direitos que podem pertencer a outros, como o facto desses outros merecerem os primeiros lugares, antes de nós.
O último lugar que pode apontar o sítio dos mais humildes, não é uma desonra, porque a humildade é uma posição interior que cada homem assume para si mesmo, não podendo  ser avaliada pela fortuna que não se tem, pois há homens ricos que se comprazem em ser humildes, passando quantas vezes despercebidos e sem alardes tontos de disputas de lugares de destaque.
É por esta e outras tantas atitudes de ordem temporal a apontar para o sagrado – um facto que nunca foi descurado por Jesus – que a figura ímpar do galileu se impõe a um mundo onde imergem homens como o brilhante militar de Saint-Cyr que serviu na Argélia e, depois, foi o padre Charles de Foucauld, (1858-1916) que um dia afirmou: Eu tenho uma repugnância extrema por tudo o que me levaria a me distanciar deste último lugar, afirmando isto quando vivia isolado, entre os tuaregues da região do Sahara.
Ele que era o primeiro sentia-se feliz em ser o último daquela tribo do deserto.

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