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quinta-feira, 6 de junho de 2013

O NOVO "TONEL DAS DANAIDES"

Gravura publicada pelo jornal "O António Maria" de 5 de Março de 1891
 
Diz uma lenda grega que os 50 filhos de Egipto, irmão gémeo do rei Danao se casaram com as 50 filhas deste rei, conhecidas pelas Danaides. Mas havendo uma disputa pelo trono o rei Danao ordenou-lhes que matassem os maridos na noite de núpcias, uma ordem que foi executada com excepção de uma das Danaides As restantes quarenta e nove assassinas foram punidas por Hades a encherem de água um tonel, mas este cheo de furos na base deixava passar a água e, assim, nunca foi possível enchê-lo.
A expressão “tonel das Danaides” passou, então,  a significar, figuradamente, o esforço infindável que nunca termina, ou seja, o  trabalho feito repetidamente sem que nunca apresente um resultado proveitoso.
 
A história repete-se, hoje, bem parecida com a crise financeira de 1891 - onde os empréstimos externos eram correntes a ponto de culminar com a bancarrota em 13 de Junho de 1892, - depois de não ser possível recorrer ao apoio do Baring Brotheres de Londres para pagar os juros da dívida pública e nos termos voltado para a agiotagem do banqueiro Henri Burnay, estribados nas suas relações com a praça de Paris, prometendo em troca a concessão do comércio dos tabacos, o mais rendoso que Portugal tinha na época.
Sempre fomos assim: um "bonzinhos"...
Não tardou, para o pagamento dos juros que a  Casa da Moeda, representada ao fundo da gravura que se reproduz, começasse a encher  o "Tonel das Danaides" - que o caricaturista chamou por esse nome mitológico, mas tendo-lhe acrescentado o nome de Agiotagem - não havendo, como na lenda grega,  mameira de o encher pela natureza da dívida, enquanto a Indústria amargurada se sentava a um canto de mãos na cabeça sem ver modos de sair da crise porque o dinheiro se esvaía todo.
Hoje não temos Casa da Moeda o que complica, sobremaneira, a situação de ter de encher o novo "Tonel das Danaides" com os juros que se assemelham aos da velha agiotagem, que não tem culpa dos desmandos económicos que  temos levamos a cabo - ontem como hoje - gastando sem rei nem roque as magras economias internas e as externas, de maior vulto, destinadas a promover um  desenvolvimento, que entendemos, não estava na valorização do parque industrial e outras valorizações - como a agricultura e as pescas que reduzimos, educadamente - mas antes, no betão armado das autoestradas, para citar, apenas, um dos desvarios em que embarcamos nos tempos recentes.
Razão, porque, repetimos 121 anos depois, a cena de levarmos -  com a compostura de gente civilizada, um acto que nos fica bem - paulatinamente os "cestos" cheios do dinheiro dos juros qua a "troika" nos emprestou, assemelhando-se a nossa atitude com a da antiga lenda grega, porque o novo "Tonel das Danaides" que nos obrigam a encher - por culpa nossa, como aconteceu com as quarenta e nove personagens mitológicas - engole sofregamente o dinheiro que estamos obrigados a pagar... parecendo não ter fundo, até porque, pago o resgate, vamos continuar a encher um outro "Tonel das Danaides", mas este, pelo que é dito, vai ser mais suave pelo contentamento de resultar de termos cumprido e irmos ao "Mercado" como pessoas bem comportadas...
Pois, é. Tem de ser assim.
É que, segundo dizem por aí umas cabeças bem pensantes, é um acto normal pedir dinheiro emprestado e, depois, pagar juros com ar alegre... e viva a festa!
E vivam também, todos os "Toneis das Danaides" da agiotagem internacional, pois vão continuar a existir, para mal dos nossos pecados, enquanto não tivermos a cabeça no lugar, aprendendo a viver frugalmente.


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