O
comportamento é um espelho no qual todos mostramos o que somos
Montapert
, Alfred
Ser coerente é ser lógico ou dito de outro
modo, é agir de acordo com a consciência,
tendo-se, embora, a certeza que o cumprimento desse estatuto sócio-cultural é,
muitas vezes, correr-se o risco de não se ser desejável, seja qual seja o
ângulo pelo qual é julgado todo aquele que se mantém resoluto na coragem de
seguir firme em cima do seu caminho, fiel a uma linha de rumo que erradica da
vivência humana a forma não de viver
conforme os momentos, mas vivê-los de acordo com a linha orientadora de uma
vontade determinada.
Não,
obstante, cumpre deixar uma fronteira na linha do pensamento pronta a não ser
irredutível, porque não sendo o interior do homem uma coisa que se veja, mas
algo que se vai descobrindo e se molda com a constância da fidelidade a
princípios que não se deixam vencer sem uma luta interior na fidelidade a
atitudes firmes perante o desenrolar da vida, as mudança de rumo, são sempre
uma vitória do homem sobre si mesmo, não deixando – nunca – que as aparências sejam nele a exaltação de um
rótulo enganador, como se estas fossem uma preocupação com a embalagem, mas na
realidade, com esta cobrindo as falsidades das atitudes que se situam longe da
conexão entre o que se diz e o que se faz.
A coerência, é, assim, uma atitude lógica,
racional – espiritual ou não – mas fazendo sempre deste modo de agir uma das virtudes maiores
da vivência humana, centrando-se a vida em conformidade com as regras da moral
e da ética, sem contudo, ela ter de assentar, necessariamente, em qualquer
associação de grupo ou de credo.
A coerência é, por isso, um acto livre de cada
homem, pressupondo dois pólos convergentes, - a moral e a ética – e sem os
quais devidamente harmonizados todos os esforços fracassam.
Pelo lado da moral – que impõe uma acção
consciente segundo a razão - a coerência nada tem a ver com religião, porque
não é esta que a fundamenta, mas é, antes, a moral que a justifica ao fazer do
homem um ser que pela procura de entender o destino e o seu lugar de pleno
direito e deveres perante os outros, se afirma – mesmo sem ser religioso – alguém
que está de pé perante a vida, e mesmo sem o saber, a cumprir uma vivência religiosa, que é afinal, uma das
metas postas ao dispor do homem para a sua realização plena.
Pelo lado da ética - que constitui o objecto da
moral - os actos do ser humano, sendo este um ser possuidor de “razão”, são
livres, correctos ou não ou, simplesmente, bons e maus, conscientes ou inconscientes.
Logo, a coerência ao fundar-se sobre estes dois
grandes pilares da sociabilidade humana, projecta o homem pelo modo como vive,
como alguém que pode e deve mostrar caminhos direitos pela lógica da sua
afirmação perante os seus iguais, sendo certo, que é na lógica do pensamento
que se fundam os princípios básicos da coerência humana.
Embora não haja um consenso firme quanto à definição
da lógica, esta é, contudo, um estado espiritual conducente a processos válidos
através dos quais o homem procura a verdade desde os tempos de Aristóteles
(384-322 a .
C. ) que a definiu como uma ciência autónoma dedicada especialmente aos actos
do pensamento na busca de equilíbrios de juízo e raciocínio, que não tendo em
conta qualquer conteúdo material, estruturasse
o homem.
Cabe aqui por inteiro a assunção de um modelo
de coerência que ao por de lado o materialismo - que admite como causa de todos
os fenómenos universais a matéria e as propriedades que a formam – usa,
racional e espiritualmente, para seu proveito, sentimentos humanos contrapostos
aos da exaltação do homem anti-espiritual, que a seu modo, não deixa de ter,
também, uma atitude de coerência, sendo deste confronto que nascem duas
atitudes com nomes iguais, mas de sinal contrário quanto à ordenação das
ideias.
Uma, aristotélica, cujo fundamento se funda na
influência intelectual até hoje exercida pelo grande sábio grego sobre o
pensamento humano e a outra, mais recente, como produto das ideias iluministas
aparecidas no séc. XVIII e que segundo Immanuel Kant, mediante o uso judicioso
da razão, seria possível um progresso sem limites, ponto de partida do desejo
incontrolável de reexaminar e pôr em questão todas as ideias e os valores
recebidos.
Temos assim, que a coerência, sendo de difícil
definição, é uma atitude válida para duas concepções distintas, cabendo ao
homem no uso da razão, seguir a que o aproxima de uma ideia teísta ou, a que negando
valores espirituais o faz próximo da exaltação de si mesmo, devendo ter, no
entanto, uma e outra, virtudes sociais e nunca, como já foi dito, fazer a
exaltação do rótulo, agindo-se ao invés do que se diz e não se pratica, porque
então a coerência é uma mentira, seja ela rotulada de espiritual ou
materialista.
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