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segunda-feira, 17 de junho de 2013

A coerência



O comportamento é um espelho no qual todos mostramos o que somos
Montapert , Alfred    


Ser coerente é ser lógico ou dito de outro modo, é agir de acordo com  a consciência, tendo-se, embora, a certeza que o cumprimento desse estatuto sócio-cultural é, muitas vezes, correr-se o risco de não se ser desejável, seja qual seja o ângulo pelo qual é julgado todo aquele que se mantém resoluto na coragem de seguir firme em cima do seu caminho, fiel a uma linha de rumo que erradica da vivência humana  a forma não de viver conforme os momentos, mas vivê-los de acordo com a linha orientadora de uma vontade determinada.
Não, obstante, cumpre deixar uma fronteira na linha do pensamento pronta a não ser irredutível, porque não sendo o interior do homem uma coisa que se veja, mas algo que se vai descobrindo e se molda com a constância da fidelidade a princípios que não se deixam vencer sem uma luta interior na fidelidade a atitudes firmes perante o desenrolar da vida, as mudança de rumo, são sempre uma vitória do homem sobre si mesmo, não deixando – nunca – que  as aparências sejam nele a exaltação de um rótulo enganador, como se estas fossem uma preocupação com a embalagem, mas na realidade, com esta cobrindo as falsidades das atitudes que se situam longe da conexão entre o que se diz e o que se faz.
A coerência, é, assim, uma atitude lógica, racional – espiritual ou não – mas fazendo sempre  deste modo de agir uma das virtudes maiores da vivência humana, centrando-se a vida em conformidade com as regras da moral e da ética, sem contudo, ela ter de assentar, necessariamente, em qualquer associação de grupo ou de credo.
A coerência é, por isso, um acto livre de cada homem, pressupondo dois pólos convergentes, - a moral e a ética – e sem os quais devidamente harmonizados todos os esforços fracassam.
Pelo lado da moral – que impõe uma acção consciente segundo a razão - a coerência nada tem a ver com religião, porque não é esta que a fundamenta, mas é, antes, a moral que a justifica ao fazer do homem um ser que pela procura de entender o destino e o seu lugar de pleno direito e deveres perante os outros, se afirma – mesmo sem ser religioso – alguém que está de pé perante a vida, e mesmo sem o saber, a cumprir uma  vivência religiosa, que é afinal, uma das metas postas ao dispor do homem para a sua realização plena.
Pelo lado da ética - que constitui o objecto da moral - os actos do ser humano, sendo este um ser possuidor de “razão”, são livres, correctos ou não ou, simplesmente, bons e maus, conscientes ou inconscientes.
Logo, a coerência ao fundar-se sobre estes dois grandes pilares da sociabilidade humana, projecta o homem pelo modo como vive, como alguém que pode e deve mostrar caminhos direitos pela lógica da sua afirmação perante os seus iguais, sendo certo, que é na lógica do pensamento que se fundam os princípios básicos da coerência humana.
Embora não haja um consenso firme quanto à definição da lógica, esta é, contudo, um estado espiritual conducente a processos válidos através dos quais o homem procura a verdade desde os tempos de Aristóteles (384-322 a. C. ) que a definiu como uma ciência autónoma dedicada especialmente aos actos do pensamento na busca de equilíbrios de juízo e raciocínio, que não tendo em conta qualquer conteúdo material, estruturasse  o homem.
Cabe aqui por inteiro a assunção de um modelo de coerência que ao por de lado o materialismo - que admite como causa de todos os fenómenos universais a matéria e as propriedades que a formam – usa, racional e espiritualmente, para seu proveito, sentimentos humanos contrapostos aos da exaltação do homem anti-espiritual, que a seu modo, não deixa de ter, também, uma atitude de coerência, sendo deste confronto que nascem duas atitudes com nomes iguais, mas de sinal contrário quanto à ordenação das ideias.
Uma, aristotélica, cujo fundamento se funda na influência intelectual até hoje exercida pelo grande sábio grego sobre o pensamento humano e a outra, mais recente, como produto das ideias iluministas aparecidas no séc. XVIII e que segundo Immanuel Kant, mediante o uso judicioso da razão, seria possível um progresso sem limites, ponto de partida do desejo incontrolável de reexaminar e pôr em questão todas as ideias e os valores recebidos.
Temos assim, que a coerência, sendo de difícil definição, é uma atitude válida para duas concepções distintas, cabendo ao homem no uso da razão, seguir a que o aproxima de uma ideia teísta ou, a que negando valores espirituais o faz próximo da exaltação de si mesmo, devendo ter, no entanto, uma e outra, virtudes sociais e nunca, como já foi dito, fazer a exaltação do rótulo, agindo-se ao invés do que se diz e não se pratica, porque então a coerência é uma mentira, seja ela rotulada de espiritual ou materialista.

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