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sábado, 1 de junho de 2013

O pobre que ninguém escuta



(…) Pobre é aquele que sempre escuta e que ninguém escuta. O pobre sempre escutou.(…) Quanto a si ninguém o escutou durante o dia. Aqui está a raiz de toda a pobreza. Quando assim se define o pobre: aquele que escuta sempre e ninguém o escuta, transcreve-se a palavra do Eclesiastes:”A sabedoria do pobre é desprezada e suas palavras não são ouvidas” (Ecl 9, 16). Sua palavra é desprezada, ninguém lhe presta atenção.
Jacques Loew
in, Jesus Chamado o Cristo


Jacques Loew, antes de se ordenar sacerdote, era um advogado profundamente marcado pelas condições miseráveis dos estivadores do porto de Marselha, onde viria a descobrir uma grande miséria física e moral entre os portuários, mas o grande choque foi ver, na vivência diária a ausência de Deus, o que brutalizava mais aquele ambiente pesado.
Foi viver com eles, numa casa alugada, o que causou espanto ao ver-se um sacerdote intrometido entre os operários, trabalhando como eles e auferindo o salário deles, escandalizando a própria Igreja, avessa àquele entendimento.
Mas foi aquele meio pobre onde Deus estava ausente que o fez descrever o admirável conceito do que é ser pobre, como alguém que tendo ouvidos não é escutado e tendo fala não é ouvido.
Há um provérbio bem demonstrativo da desumanidade que caracteriza alguma sociedade doente do nosso tempo onde se movem os deserdados da sorte: entre o rico e o pobre não há parentesco, como se o homem se tivesse esquecido de uma vez para sempre do velho conceito que Moisés proclamou na terra de Moabe, (Dt 1,17): Não fareis acepção de pessoas em juízo; de um mesmo modo ouvireis o pequeno e o grande; não temereis a face de ninguém, porque o juízo é de Deus; e a causa que vos for difícil demais, a trareis a mim, e eu a ouvirei.
Deus falou assim através de Moisés.
No entanto, o homem, cheio de si mesmo trocou-lhe as voltas e, ainda que o velho patriarca tenha dito que não era lícito fazer acepção de pessoas e em qualquer assunto seria ouvido o pequeno e o grande, numa clara alusão ao facto de todos os homens estarem submetidos às mesmas leis da Natureza, nascendo fracos, sujeitos às mesmas dores, destruindo-se o corpo do rico como o do pobre, mesmo assim, aquilo a que assistimos é uma contínua subjugação do pobre ao mais rico ou mais forte, de quem tudo escuta, mesmo os impropérios, sem nunca ter a felicidade de serem ouvidas as suas razões, ainda que sejam por demais pertinentes.
E, no entanto, na Sua imensa Sabedoria, Deus a nenhum homem concedeu superioridade natural, sendo todos iguais perante Ele, resultando desta vontade divina que  a diversidade das aptidões entre os homens – que dá a uns um conceito mais elevado na falaciosa escala de valores sociais, não deriva da natureza íntima de cada um,  mas do grau de riqueza ou cultura e de que alguns não abdicam a favor do que menos tem ou menos sabe.
Esquece, no entanto, todo aquele que faz ouvidos moucos às queixas do pobre que nele existe a sabedoria dos simples, dos que de tanto terem ouvido e sem poderem falar, transportam consigo riquezas infindas de experiência humana, onde Jesus que se fez pobre, lhes dirá, um dia: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo, porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me acolhestes (…) Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos? Quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos visitar-te?
E virá a resposta pronta: (…) sempre que o fizestes a um destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes.

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