(…) Pobre é aquele que sempre escuta e que ninguém escuta.
O pobre sempre escutou.(…) Quanto a si ninguém o escutou durante o dia. Aqui
está a raiz de toda a pobreza. Quando assim se define o pobre: aquele que
escuta sempre e ninguém o escuta, transcreve-se a palavra do Eclesiastes:”A
sabedoria do pobre é desprezada e suas palavras não são ouvidas” (Ecl 9, 16).
Sua palavra é desprezada, ninguém lhe presta atenção.
Jacques Loew
in, Jesus Chamado o Cristo
Jacques Loew, antes de
se ordenar sacerdote, era um advogado profundamente marcado pelas condições
miseráveis dos estivadores do porto de Marselha, onde viria a descobrir uma
grande miséria física e moral entre os portuários, mas o grande choque foi ver,
na vivência diária a ausência de Deus, o que brutalizava mais aquele ambiente
pesado.
Foi viver com eles,
numa casa alugada, o que causou espanto ao ver-se um sacerdote intrometido
entre os operários, trabalhando como eles e auferindo o salário deles,
escandalizando a própria Igreja, avessa àquele entendimento.
Mas foi aquele meio
pobre onde Deus estava ausente que o fez descrever o admirável conceito do que
é ser pobre, como alguém que tendo ouvidos não é escutado e tendo fala não é
ouvido.
Há um provérbio bem
demonstrativo da desumanidade que caracteriza alguma sociedade doente do nosso
tempo onde se movem os deserdados da sorte: entre
o rico e o pobre não há parentesco, como se o homem se tivesse esquecido de
uma vez para sempre do velho conceito que Moisés proclamou na terra de Moabe,
(Dt 1,17): Não fareis acepção de pessoas
em juízo; de um mesmo modo ouvireis o pequeno e o grande; não temereis a face
de ninguém, porque o juízo é de Deus; e a causa que vos for difícil demais, a
trareis a mim, e eu a ouvirei.
Deus falou assim
através de Moisés.
No entanto, o homem,
cheio de si mesmo trocou-lhe as voltas e, ainda que o velho patriarca tenha
dito que não era lícito fazer acepção de
pessoas e em qualquer assunto seria ouvido o pequeno e o grande, numa clara alusão ao facto de todos os homens
estarem submetidos às mesmas leis da Natureza, nascendo fracos, sujeitos às
mesmas dores, destruindo-se o corpo do rico como o do pobre, mesmo assim,
aquilo a que assistimos é uma contínua subjugação do pobre ao mais rico ou mais
forte, de quem tudo escuta, mesmo os impropérios, sem nunca ter a felicidade de
serem ouvidas as suas razões, ainda que sejam por demais pertinentes.
E, no entanto, na Sua
imensa Sabedoria, Deus a nenhum homem concedeu superioridade natural, sendo
todos iguais perante Ele, resultando desta vontade divina que a diversidade das aptidões entre os homens –
que dá a uns um conceito mais elevado na falaciosa escala de valores sociais,
não deriva da natureza íntima de cada um,
mas do grau de riqueza ou cultura e de que alguns não abdicam a favor do
que menos tem ou menos sabe.
Esquece, no entanto,
todo aquele que faz ouvidos moucos às
queixas do pobre que nele existe a sabedoria dos simples, dos que de tanto
terem ouvido e sem poderem falar, transportam consigo riquezas infindas de
experiência humana, onde Jesus que se fez pobre, lhes dirá, um dia: Vinde, benditos de meu Pai. Possuí por
herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo, porque tive
fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e
me acolhestes (…) Então os justos lhe perguntarão: Senhor, quando te vimos com
fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? Quando te vimos
forasteiro, e te acolhemos? ou nu, e te vestimos? Quando te vimos enfermo, ou
na prisão, e fomos visitar-te?
E virá a resposta
pronta: (…) sempre que o fizestes a um
destes meus irmãos, mesmo dos mais pequeninos, a mim o fizestes.
Sem comentários:
Enviar um comentário