Pesquisar neste blogue

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A falta que faz à sociedade a Palavra da Igreja



Um dos problemas que enfermou o último quartel do século XX foi assinalado por um tom social menos brando, com o começo da expansão das drogas e a perda daquela parte  sempre importante - de alguma inocência da sociedade - de que resultaram movimentos de pendor racionalista geradores de contraculturas, a par de uma grande prosperidade nos países mais ricos, e o facto que foi utilizado de se ter utilizado a despropósito o desenvolvimento das sociedades, ao arrepio do que disse a Encíclica “Populorum Progressio” publicada em 1967.

Com efeito, criaram-se na época grandes disparidades económicas, estando num dos lados os Países ricos e do outro, os mais pobres e pobres numa criação de desigualdades sociais que feriam a sensibilidade da Igreja.
Paulo VI que compreendeu profundamente a necessidade de ultrapassar os limites da dimensão económica e política do desenvolvimento, pôs em evidência o seu carácter ético e cultural, propondo como norma que o desenvolvimento para ser real teria de ser um compromisso de todos os homens e do homem todo.
Sem esquecer a questão social, aventou-se naquele importante documento papal que a solução se havia de encontrar a partir do equilíbrio universal, baseado na justiça e no dever de solidariedade entre os povos, culminando o seu pensamento com a célebre intuição profética: o desenvolvimento é o novo nome da paz.
Vinte anos depois, João Paulo II, ao fazer o balanço dos efeitos que a “Populorum Progressio” causou na sociedade humana, concluiu por um valor positivo, mas não deixou de apontar algumas sombras, pelo facto de ter aumentado o fosso entre ricos e pobres, geograficamente entre o Norte e o Sul, como se o desenvolvimento tivesse parado a meio do caminho, em virtude do má utilização dos recursos económicos que deixou para segundo plano o desenvolvimento dos povos.
Continuaram, irresponsavelmente, as sociedades de pé no acelerador, a vestir a moda do século XX – ser sem ter -  no prosseguimento de um desenvolvimento falacioso das sociedades, há que pôr em evidência a sabedoria da Igreja, quando diz que o mundo contemporâneo leva-nos a verificar, primeiro que tudo, que o desenvolvimento não é um processo rectilíneo, quase automático e de per si ilimitado, como se, com certas condições, o género humano tivesse de caminhar expeditamente para uma espécie de perfeição indefinida. (1)
Eis, porque, com todo o propósito, João Paulo II afirmou que havia entrado  em crise a própria concepção «económica» ou «economicista», ligada à palavra desenvolvimento. Hoje, de facto, compreende-se melhor que a mera acumulação de bens e de serviços, mesmo em benefício da maioria, não basta para realizar a felicidade humana. E, por conseguinte, também a disponibilidade dos multíplices benefícios reais, trazidos nos últimos tempos pela ciência e pela técnica, incluindo a informática, não comporta a libertação de toda e qualquer forma de escravidão. A experiência dos anos mais recentes demonstra, pelo contrário, que se toda a massa dos recursos e das potencialidades, postos à disposição do homem, não for regida por uma intenção moral e por uma orientação no sentido do verdadeiro bem do género humano, ela volta-se facilmente contra ele para o oprimir. (2)
Profeticamente, João Paulo II acertou no alvo.
Quando a economia se esquece que a sua função não é só a de produzir riqueza, mas que esta deve reger-se por uma intenção moral e por uma orientação no sentido do verdadeiro bem do género humano, o que acontece é aquilo a que assistimos, actualmente.
Os homens, ostensivamente entranhados no primado da razão – que julgam um valor absoluto - viram as costas aos ensinamentos da Igreja, mas sem cuidarem que o fazem contra si mesmos, ignorando ou desprezando os motivos fortes que a norteou, quando ela, fiel depositária de um saber milenar condenou o Iluminismo e o capitalismo sem rosto humano, geradores das grandes crises pela falta da intenção moral, que devia estar implícita e não está, nas atitudes balizadas só pela razão, mas esquecendo  a orientação no sentido do verdadeiro bem do género humano.



(1) - João Paulo II, in Encíclica "Solicitudo Rei Socialis" nº 27 - cap.4: O Desenvolvimento Humano Autêntico
(2) - idem, nº 28
 

Sem comentários:

Enviar um comentário