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segunda-feira, 3 de junho de 2013

A tijela de madeira


A TIJELA DE MADEIRA 
(Uma história simples)

Francisco era uma vida gasta debaixo do peso dos seus noventa anos, encurvado e de mãos trémulas. Com a vista embaciada, contava os passos trémulos e lentos. Tinha por única família, um filho, a esposa deste e o Carlitos, o neto com apenas cinco anos.
À mesa da refeição amiudadas vezes a tijela caía das mãos do ancião, partindo-se em cacos, levando consigo a colher e a comida que ficava inaproveitada, quando não acontecia que o copo extravasava para a toalha, tornando o avô algo complicada a hora do repasto, quando a família se reunia.
Estes factos deram em gerar algum desconforto, especialmente na esposa do filho, que mais cordato e compreensivo, desculpava o pai, olhando à idade e à doença que lhe havia afectado a visão e o controle dos movimentos.
Mas isso não obstou que um dia, ambos, tenham acordado no seguinte:

- É urgente tomarmos uma providência... já chega de leite derramado e de comida pelo chão.
Tanto bastou para relegarem o velhinho para um canto da cozinha onde comia sozinho e para que não houvesse mais loiça partida, passaram a servir-lhe as refeições numa tijela de madeira.
Havia lágrimas nos olhos gastos do avô, ao ver-se isolado e posto à margem da sua pequena família, um facto em que apenas reparava o pequeno Carlitos, quando nas suas deambulações infantis passava pela cozinha, ou de propósito por lá passava para fazer companhia ao avô e continuar a ouvir dele as histórias que ele adorava.
Aconteceu, um dia, que os pais à hora de o deitar, foram dar com o filho sentado no chão numa ocupação muito estranha.
Não brincava, tendo embora, ao redor de si muitos dos seus brinquedos favoritos que, no entanto, permaneciam como que esquecidos.

O menino entretinha-se a atar pequenos pedaços de madeira, deixando interiormente um vazio em forma de concha.
- Que fazes, Carlitos? – perguntaram os pais admirados com tão esquisito brinquedo.
Docemente, sem largar as ataduras que as pequeninos dedos iam fazendo, na sua voz cantante, respondeu com outra pergunta:
- Ah! Não adivinhais?
- Não... não sabemos o que é isso... mas o que está fazendo revela que tens habilidade, o que muito nos agrada, meu filho...
Este, rematou, desvendando o mistério:

- Estou a fazer uma tijela de madeira para o papá e a mamã comerem, quando eu for grande.
E o almoço do dia seguinte reuniu de novo a família à mesa.
Na troca de olhares entre o mais velho e o mais novo notava-se que havia um conluio secreto e o olhar do Carlitos era um pavio aceso em cima da mesa, em honra daquele momento.
E coisa importante: dali em diante deixou de haver aborrecimentos quando a tijela, o garfo ou a colher caiam, ou se entornava o leite.
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 Nota: Paráfrase livre de um diaporama recebido

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