Aquele que não prega a todos a exigência da
superação é responsável pela mediocridade (…)
Pierre Blanchard
In, “A Santidade e o
Nosso Tempo”
Num dos capítulos do
seu livro, o autor chama como antítese da sua tese, o pensamento de Aristóteles
(384 - 322 a .C.)
verberando o que ele afirma na sua obra “Ética a Nicómaco” quando nega a
igualdade das pessoas e da sua dignidade, contrapondo-lhe a afirmação
humanizada de Jesus: Sede perfeitos como
o vosso Pai celestial é perfeito e, na mesma linha, o pensamento paulino: A vontade de Deus é que sejais santos.
Para o filósofo grego
estavam no cume da sociedade as elites e para o cumprimento das tarefas menores
estavam os escravos, o que determinava na teoria das ideias para haver uma
classe superior teria de haver o seu
oposto, ou seja, sub-homens aos super-homens que ele defendia.
Jesus veio revolucionar
esta desumana concepção da sociedade, não tendo, contudo, o seu discurso ganho,
até hoje, a clareza do seu pensamento, porquanto as sociedades imperfeitas pela
malquerença humana tem estabelecido uma regra aristocrática, que até os
cristãos de todos os tempos têm subscrito e onde não tem faltado alguma
cobardia colectiva ou a falta de uma verdadeira consciência das palavras do
fundador da Igreja que seguem, que a todos dá a graça de se sublimarem, pois
desde o advento de Jesus todos os homens passaram a ser chamados num mesmo
plano de igualdade de deveres e direitos.
Eis, porque, é preciso
inverter a tendência de um mundo aristotélico, que continua a deixar contaminar a sua natureza por um mal endémico
que o delito social causa no interior da natureza humana, não sendo este apenas
praticado, mas sancionado, promovido e até imposto.
Razão porque todo
aquele que se demite de fazer o discurso da exigência, levando todo o homem a
superar-se, passa a ser responsável pelo abaixamento cultural da sociedade ao
fomentar o aparecimento de castas privilegiadas e relegando uma parte
considerável da sociedade para condições que roçam a indignidade da vivência
humana.
Neste campo surgiu como
uma figura de apóstolo, António Sérgio (1883-1969), que teve a força
intelectual de afronta românticos, positivistas, integralistas e marxistas
leninistas, com uma energia missionária própria dos cristãos das primeiras
eras, ao defender uma filosofia com profundas implicações humanas e sociais,
advogando o cooperativismo como uma forma de organização social mais
directamente implicada na concepção do
homem como ser activo e criador.
Em termos práticos o
grande pensador advogava uma filosofia com profundas implicações humanas,
regendo-se o comportamento e a acção de cada um para o todo social de que faz
parte.
Este mestre do
pensamento, estava com efeito, bem dentro do sede perfeitos, tal como Jesus proclamou ao incitar cada um a ser
um agente de mudança de si mesmo e com reflexos imediatos na sociedade, que é,
afinal, donde partem – ou não - os benefícios que tendem a dar a todos os
homens a perfeita dignidade da sua condição entre os seus iguais, não só de
aspecto morfológico, mas e fundamentalmente, de aspectos orgânicos de um devir
concertado dentro do tecido social, onde
as mudanças só fazem sentido se abarcarem todos e não, apenas, para privilegiar
grupos isolados.
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