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segunda-feira, 17 de junho de 2013

A Exigência da Superação



Aquele que não prega a todos a exigência da superação é responsável pela mediocridade (…)
Pierre Blanchard
In, “A Santidade  e o Nosso Tempo”

Num dos capítulos do seu livro, o autor chama como antítese da sua tese, o pensamento de Aristóteles (384 - 322 a.C.) verberando o que ele afirma na sua obra “Ética a Nicómaco” quando nega a igualdade das pessoas e da sua dignidade, contrapondo-lhe a afirmação humanizada de Jesus: Sede perfeitos como o vosso Pai celestial é perfeito e, na mesma linha, o pensamento paulino: A vontade de Deus é que sejais santos.
Para o filósofo grego estavam no cume da sociedade as elites e para o cumprimento das tarefas menores estavam os escravos, o que determinava na teoria das ideias para haver uma classe  superior teria de haver o seu oposto, ou seja, sub-homens aos super-homens que ele defendia.
Jesus veio revolucionar esta desumana concepção da sociedade, não tendo, contudo, o seu discurso ganho, até hoje, a clareza do seu pensamento, porquanto as sociedades imperfeitas pela malquerença humana tem estabelecido uma regra aristocrática, que até os cristãos de todos os tempos têm subscrito e onde não tem faltado alguma cobardia colectiva ou a falta de uma verdadeira consciência das palavras do fundador da Igreja que seguem, que a todos dá a graça de se sublimarem, pois desde o advento de Jesus todos os homens passaram a ser chamados num mesmo plano de igualdade de deveres e direitos.
Eis, porque, é preciso inverter a tendência de um mundo aristotélico, que continua a deixar  contaminar a sua natureza por um mal endémico que o delito social causa no interior da natureza humana, não sendo este apenas praticado, mas sancionado, promovido e até imposto.
Razão porque todo aquele que se demite de fazer o discurso da exigência, levando todo o homem a superar-se, passa a ser responsável pelo abaixamento cultural da sociedade ao fomentar o aparecimento de castas privilegiadas e relegando uma parte considerável da sociedade para condições que roçam a indignidade da vivência humana.
Neste campo surgiu como uma figura de apóstolo, António Sérgio (1883-1969), que teve a força intelectual de afronta românticos, positivistas, integralistas e marxistas leninistas, com uma energia missionária própria dos cristãos das primeiras eras, ao defender uma filosofia com profundas implicações humanas e sociais, advogando o cooperativismo como uma forma de organização social mais directamente implicada  na concepção do homem como ser activo e criador.
Em termos práticos o grande pensador advogava uma filosofia com profundas implicações humanas, regendo-se o comportamento e a acção de cada um para o todo social de que faz parte.
Este mestre do pensamento, estava com efeito, bem dentro do sede perfeitos, tal como Jesus proclamou ao incitar cada um a ser um agente de mudança de si mesmo e com reflexos imediatos na sociedade, que é, afinal, donde partem – ou não - os benefícios que tendem a dar a todos os homens a perfeita dignidade da sua condição entre os seus iguais, não só de aspecto morfológico, mas e fundamentalmente, de aspectos orgânicos de um devir concertado dentro do  tecido social, onde as mudanças só fazem sentido se abarcarem todos e não, apenas, para privilegiar grupos isolados.

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