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sábado, 8 de junho de 2013

O presente-futuro



Já dissemos mais de uma vez que a história verdadeiramente humana não é concatenação mecânica de factos, “brutos”, e portanto futuro dedutível simplesmente do passado; mas é história aberta, tomada de posição do espírito na sua criatividade diante daquilo que já está presente para suscitar o futuro.
Bruno Forte (1)
in, Jesus de Nazaré (História de Deus-Deus na História)


Numa análise que vai desaguar na cristologia imanente dos Evangelhos, somos conduzidos pelo autor, para nos dizer convictamente, que a verdade humana é história de liberdade, pois só ela é que dá o verdadeiro sentido à vida do homem, caracterizando indelevelmente  o seu agir.
Aponta, depois, os vários andares em que se move esta liberdade, como aquele que se alicerça nas profundezas da consciência, onde ela se realiza como opção fundamental, permitindo-lhe a escolha radical do horizonte de vida, num desejo natural de alcançar a plenitude, chamando a si a selecção dos meios indispensáveis na prossecução de um tal desiderato.
Tal escolha, pode levar o homem, muitas vezes, a decisões modestas, mas que são quase sempre, definitivas na autodeterminação que lhe é exigida, tendo em mira uma conquista futura, a qual não pode dispensar o facto da opção fundamental conter pressupostos que sustentem a realização do desejo natural da realização pretendida, mas devendo as escolhas ser fiéis ao caminho da liberdade, configurado como um trilho de libertação em que o abandono das coisas que diminuem o homem, têm como fito a sua promoção, e onde o uso do inverso conduz à sua alienação.
Temos assim, como ponto assente que a história da liberdade pode ser história de libertação ou história de alienação.
É o ponto de partida para nos determos na opção fundamental de Jesus de Nazaré, Caminho, Verdade e Vida, tríduo da verdadeira história de libertação a que todos os homens – abandonadas as alienações – são chamados a aceder.
Trata-se do “mistério” das tentações no deserto como relata o Evangelho de S. Mateus (4,1): Então foi conduzido Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo, a quem impõe, derrotando-o com a opção fundamental assumida, enquanto homem e em submissão ao Pai, proferindo a célebre máxima: nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus, a que se junta, no fim da existência terrena o da  agonia do Getsêmani, onde a súplica humana dirigida ao Pai, se queres afasta de mim este cálice; (Lc 22, 42) cede, ante o sobrenatural que havia n’Ele, finalizando numa obediência total Àquele que O enviara: todavia não se faça a minha vontade, mas a tua.
Seguir Jesus, significa, em face das opções que Ele tomou, que qualquer delas têm de ser as nossas, vividas na nossa própria história pessoal dentro do nosso quotidiano, porque pelo exemplo pedagógico que nos deixou Ele é a grande referência no que concerne à opção fundamental que é preciso fazer a partir do âmago das nossas relações humanas, adquirindo ou rejeitando valores em confronto, numa procura consciente de encontrarmos o que é fundamental, como o sentido de justiça, a elevação do amor humano, o equilíbrio do poder e a orientação de vida e, tudo isto, tendo Deus como base de apoio da nossa opção, erigindo-a como um bem absoluto e acção primordial, onde a nossa história pessoal seja levada a confundir-se com a História de Libertação escrita desde o alto da Cruz.
Tenhamos, contudo, presente que a opção fundamental não obedece a uma varinha mágica, porque ela é uma elaboração lenta que nasce sempre – e é bom que assim aconteça – dos conflitos e desafios que a vida coloca a todos os homens, mas há-de ser sempre destas conturbações que o presente-futuro pode ser entendido como uma construção que se faz em cima do tempo que passa, não representando esta dicotomia qualquer anomalia que as palavras podem deixar supor, mas uma realidade possível desde que o homem ponha em qualquer hora o Espírito de Deus, e nela tenha o desejo de estar a construir o seu próprio futuro terreno e celeste, fazendo de toda a hora que passa uma tomada de posição do espírito na sua criatividade diante daquilo que já está presente para suscitar o futuro.
(1)     - Bruno Forte é doutor em Teologia e Filosofia na Faculdade Teológica da Itália Meridional

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