Já
dissemos mais de uma vez que a história verdadeiramente humana não é
concatenação mecânica de factos, “brutos”, e portanto futuro dedutível
simplesmente do passado; mas é história aberta, tomada de posição do espírito
na sua criatividade diante daquilo que já está presente para suscitar o futuro.
Bruno Forte (1)
in, Jesus de Nazaré (História de Deus-Deus na História)
Numa análise que vai
desaguar na cristologia imanente dos Evangelhos, somos conduzidos pelo autor,
para nos dizer convictamente, que a verdade humana é história de liberdade, pois só ela é que dá o verdadeiro sentido
à vida do homem, caracterizando indelevelmente
o seu agir.
Aponta, depois, os
vários andares em que se move esta liberdade, como aquele que se alicerça nas
profundezas da consciência, onde ela se realiza como opção fundamental, permitindo-lhe a escolha radical do horizonte de vida, num desejo natural de
alcançar a plenitude, chamando a si a selecção dos meios indispensáveis na
prossecução de um tal desiderato.
Tal escolha, pode levar
o homem, muitas vezes, a decisões modestas, mas que são quase sempre,
definitivas na autodeterminação que lhe é exigida, tendo em mira uma conquista
futura, a qual não pode dispensar o facto da opção fundamental conter pressupostos que sustentem a realização do
desejo natural da realização pretendida, mas devendo as escolhas ser fiéis ao
caminho da liberdade, configurado como um trilho de libertação em que o
abandono das coisas que diminuem o homem, têm como fito a sua promoção, e onde o uso do inverso conduz
à sua alienação.
Temos assim, como ponto
assente que a história da liberdade pode
ser história de libertação ou história de alienação.
É o ponto de partida
para nos determos na opção fundamental
de Jesus de Nazaré, Caminho, Verdade e Vida, tríduo da verdadeira história de libertação a que todos os
homens – abandonadas as alienações – são chamados a aceder.
Trata-se do “mistério” das tentações no deserto como relata o Evangelho
de S. Mateus (4,1): Então foi conduzido
Jesus pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo Diabo, a quem impõe,
derrotando-o com a opção fundamental
assumida, enquanto homem e em submissão ao Pai, proferindo a célebre máxima: nem só de pão viverá o homem, mas de toda
palavra que sai da boca de Deus, a que se junta, no fim da existência
terrena o da agonia do Getsêmani, onde a súplica humana dirigida ao Pai, se queres afasta de mim este cálice; (Lc
22, 42) cede, ante o sobrenatural que havia n’Ele, finalizando numa obediência
total Àquele que O enviara: todavia não
se faça a minha vontade, mas a tua.
Seguir Jesus,
significa, em face das opções que Ele tomou, que qualquer delas têm de ser as
nossas, vividas na nossa própria história pessoal dentro do nosso quotidiano,
porque pelo exemplo pedagógico que nos deixou Ele é a grande referência no que
concerne à opção fundamental que é
preciso fazer a partir do âmago das nossas relações humanas, adquirindo ou
rejeitando valores em confronto, numa procura consciente de encontrarmos o que
é fundamental, como o sentido de justiça, a elevação do amor humano, o
equilíbrio do poder e a orientação de vida e, tudo isto, tendo Deus como base
de apoio da nossa opção, erigindo-a como um bem absoluto e acção primordial,
onde a nossa história pessoal seja levada a confundir-se com a História de
Libertação escrita desde o alto da Cruz.
Tenhamos, contudo,
presente que a opção fundamental não
obedece a uma varinha mágica, porque
ela é uma elaboração lenta que nasce sempre – e é bom que assim aconteça – dos
conflitos e desafios que a vida coloca a todos os homens, mas há-de ser sempre
destas conturbações que o presente-futuro pode ser entendido como uma
construção que se faz em cima do tempo que passa, não representando esta dicotomia
qualquer anomalia que as palavras podem deixar supor, mas uma realidade
possível desde que o homem ponha em qualquer hora o Espírito de Deus, e nela
tenha o desejo de estar a construir o seu próprio futuro terreno e celeste,
fazendo de toda a hora que passa uma
tomada de posição do espírito na sua criatividade diante daquilo que já está
presente para suscitar o futuro.
(1)
- Bruno Forte é doutor
em Teologia e Filosofia na Faculdade Teológica da Itália Meridional
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