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quarta-feira, 19 de junho de 2013

I Estação da Via Sacra - Jesus é codenado à morte



Disseste, Senhor, verdades duras de ouvir, como daquela vez, em Jerusalém
onde viviam ao arrepio das coisas novas que trazias,
os sacerdotes, os fariseus, os saduceus, os escribas e os levitas,
todos atentos a tudo quanto dizias e ao modo como Te comportavas:

- Não é dos homens que recebo a glória,
mas conheço-vos e sei que o amor de Deus não existe em vós.(1)

Foi um reboliço, Senhor!
Não falaste demais. Disseste, apenas, coisas certas... coisas que sentias.
E, impertinentemente, continuaste a Tua saga num certo dia de madrugada.
Aconteceu no Templo. Os escribas e os fariseus apostados em Te perder,
trouxeram uma mulher adúltera e fizeram questão de Te lembrar a Lei de Moisés.

- E tu, que dizes? (2) -  perguntaram-Te.

Serenamente, deixaste a escrita que fazias sobre o pó do chão e respondeste-lhes:

- Quem de vós estiver sem pecado seja o primeiro a lançar-lhe uma pedra! (3)

E recomeçaste, ignorando-os, a escrita interrompida, enquanto eles envergonhados
se afastavam escondendo-se das setas das Tuas palavras!...
Feriste, Senhor, o seu orgulho de zelosos aplicadores da Lei, e continuaste assim
contra as práticas corruptas dos fiéis servidores dos Césares da Roma Imperial
que dominavam a Judeia, até que um deles - um fariseu, mais uma vez! -
te mandou os seus discípulos na companhia de alguns dos esbirros de Herodes
para Te fazerem a pergunta cheia de ódio e de malícia:

- É ou não lícito pagar o tributo a César? (4)

E logo, Tu - mostrando-lhes um dinheiro - a responder com outra pergunta:

- De quem é esta imagem e esta inscrição? (5)
- De César - responderam.
Então -  dai, pois a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. (6)

Foi demais, para eles. A Tua sabedoria era uma incontornável barreira
e, ainda não foi daquela vez que Te apanharam!
E acirraste-os mais, como, naquele dia, quando entraste em festa em Jerusalém
e o povo que Te amava estendeu as suas capas e atapetou de ramos de árvores
todas as ruas por onde passaste, rompendo em altos brados de louvor:

Hosana ao Filho de David! Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor! (7)

Depois - o grande escândalo! - chamaste para a Tua mesa os pobres e  pecadores
e até dormiste em casa de Zaqueu, o conhecido chefe dos gabeleiros...
e eras conhecido por ensinares aos teus amigos normas subversivas como esta:
Não julgueis para não serdes julgados... (8)
De facto, Senhor, pisaste o risco. Não só fazias como ensinavas coisas estranhas!
Sobretudo, coisas muito ao contrário de uma sociedade orgulhosamente instalada
em rituais sem alma.

Puseste-Te contra todos os grandes senhores de Jerusalém
e nem sequer poupaste os doutores da Lei que só impunham deveres!
Estes, sobretudo, não te perdoaram. Tinham jurado que Te haviam de prender
e para tanto traçaram um plano, urdido como costumam fazer os algozes:
Começaram por minar por dentro o Teu grupo,
- um facto que fez escola e se tem repetido ao longo da história dos homens -
Fazendo valer uma razão que não tinham,
mas, apenas, o ódio vesgo contra tudo o que fazias e, sobretudo, contra tudo
o que dizias deles: ai de vós escribas e fariseus hipócritas... (9)
conseguiram que o seu plano se cumprisse, usando um dos Teus amigos
Aconteceu isto na noite da Tua Última Ceia.

Judas, por não poder olhar-Te por mais tempo de olhos nos olhos
abandonou-Te, ainda com o bocado de pão molhado que lhe havias dado
e saiu a correr ao encontro do grupo dos fariseus e dos guardas dos sacerdotes
que Te deitaram a mão por entre as oliveiras do horto onde costumavas ir.
Prenderam-te, julgando que calariam a voz incómoda que lhes havia chamado
sepulcros branqueados, (10) não sabendo que o Teu Espírito já dera frutos eternos
e a Tua morte, que o pretor Pilatos sancionou, após o julgamento sumário
de Anás e Caifás, não foi - como eles supunham - o Teu fim e o dos Teus amigos...
foi, antes, o princípio de tudo.
Tu, Senhor, estás vivo e liberto até à consumação dos séculos.
Com a Tua morte libertaste todos os homens!





Senhor:
Rolaram já muitos séculos desde aquela noite no vale verdejante do Cédron
e eu aceito - e sinto - que tudo quanto disseste dos poderosos de Jerusalém
está vivo.

Sem ter a força das Tuas, eu podia usar as mesmas palavras...
sinto, porém, que me falta a Tua frontalidade, o teu desassombro, a Tua sabedoria!
Mesmo assim, Senhor, faz que eu me redima
e não tenha medo.

Ajuda-me a ser mais firme.
Eu sei que é do Teu lado que está a Verdade.
Fica comigo, Senhor! Ajuda-me a lutar e, sobretudo,
ajuda-me a chamar todas as coisas pelo seu nome!
sem medos,
sem tibiezas,
sem abandonos...
aconteça o que acontecer!


(1) - Jo. 5, 41-42
(2) - Jo. 8, 5
(3) - Jo. 8, 7
(4) - Mt. 22,17
(5) - Mt. 22, 20
(6) - Mt. 22, 21
(7)  - Mt. 21,9
(8)  - Mt. 7, 2
(9)  - Mt. 23, 13
(10)  - Mt. 23, 27

1 comentário:

  1. Bendito seja Deus que motivou estes sentimentos e abençoado seja o homem que os acolheu e partilhou com tanto elã. Se não fosse deveras teu amigo, não me perdoaria nesta hora de o não ser porque dignifica a amizade quem bebe deste jeito o néctar sagrado da Boa Nova.
    A Costa

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