É da
comunidade que todo o cristão recebe a sua vida e impulsos sobrenaturais; e
recebe-os tanto mais abundantemente quanto melhor se dedicar com plena
consciência às necessidades dela. Cidadão de dois mundos, o cristão deve
esforçar-se por fazer valer as exigências do reino de Deus no seu mundo social.
Estamos no dinamismo da história da salvação, no qual o próprio mundo, em
virtude da incarnação do Verbo, se encontra envolvido.
Bernhard Haring (1)
in, Força e Fraqueza da Religião, cap.: Teologia do Meio
Ambiente
O teólogo alemão desenvolve
a sua temática nesta parte do livro, utilizando o meio ambiente como um
potencial portador de graça, apontando que toda
a ética humana está enraizada no solo da história e do ambiente, indo
buscar para defesa da sua tese o facto de Cristo ter tomado sobre os seus
ombros o peso e a dor da humanidade,
o que obriga desde logo, o homem a ser solidário com o mundo de que é parte,
não podendo em consciência fugir desta lei que o faz – ainda que o não sinta –
participante do drama da Cruz, levando-o a afirmar que é do meio onde vive que todo o cristão recebe a sua vida e
impulsos sobrenaturais, pela acção do poder da graça.
Desenvolve, pois, a
partir daqui, todo um processo de teologia do meio ambiente chamando à
necessidade de todos os cristãos serem santificadores das comunidades onde
vivem, no pressuposto, que não o sendo, correm o risco de serem asfixiados pelo
poder da massa anónima, se se esquecem de viver com a chama do amor de Deus,
que o faz cidadão de dois mundos,
onde deve fazer valer as exigências do
reino de Deus no seu mundo social
Daí, que para agir em
plenitude o cristão não pode viver isolado, mas antes, inserido numa
comunidade, seja ela, a família, o clube do bairro, a tertúlia do café ou a
paróquia, fonte espiritual indispensável, porque doutra sorte, os revezes,
sempre à espreita, não deixam de acontecer.
Para isto exige-se a
lei da prudência, levando em linha de conta que a teologia do meio ambiente exige do cristão consciente das suas
responsabilidades uma forma de laicado aberto ao exterior das próprias
comunidades cristãs, que não podem isolar-se nos seus casulos, tendo por
cumprir tarefas de cultura espiritual relativamente ao mundo, que exerce hoje,
como nunca aconteceu, uma influência perniciosa que rouba, até, ao mais
avisado, a força da afirmação dos valores cristãos que de modo algum podem
perder a sua identidade natural.
O mundo actual, como
diz Bernhard Haring está envolvido numa
dinâmica da história da salvação, que
muito mais, que uma simples história, constitui uma interpretação da história
do homem em que a mensagem mais importante não pode esquecer a intervenção de
Deus, sem vir ao caso, como foi criado o mundo, mas atendendo a que ele é uma
criação que escapa à inteligência humana, que não podendo ir ao encontro dos
mínimos detalhes, procura ver nos seus significados, sinais evidentes em que se
fundou a formação literária dos primeiros Patriarcas – a partir de várias sagas
e lendas – até à chegada à terra de Canaã, ponto de partida para a grande
aventura do povo de Deus, até ao momento culminante do sacrifício da Cruz.
Exige-se, por tudo
isto, ao cristão actual, um trabalho consciente que leve ao mundo o espírito
salvífico de Jesus em relação ao meio, na certeza que em virtude da incarnação do Verbo, o mundo dos homens faz parte
desde então de uma envolvência espiritual que atinge toda a humanidade, mesmo
aquela que parece andar adormecida.
.......................................................................................................................................................
(1) - Bernhard Häring (1912 -
1988) foi um teólogo católico alemão. Autor de vários livros, onde a temática
da consciência foi desenvolvida a partir de valores cristãos
Sem comentários:
Enviar um comentário