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segunda-feira, 3 de junho de 2013

Ser cidadão de dois mundos



É da comunidade que todo o cristão recebe a sua vida e impulsos sobrenaturais; e recebe-os tanto mais abundantemente quanto melhor se dedicar com plena consciência às necessidades dela. Cidadão de dois mundos, o cristão deve esforçar-se por fazer valer as exigências do reino de Deus no seu mundo social. Estamos no dinamismo da história da salvação, no qual o próprio mundo, em virtude da incarnação do Verbo, se encontra envolvido.
Bernhard  Haring (1)
in, Força e Fraqueza da Religião, cap.: Teologia do Meio Ambiente


O teólogo alemão desenvolve a sua temática nesta parte do livro, utilizando o meio ambiente como um potencial portador de graça, apontando que toda a ética humana está enraizada no solo da história e do ambiente, indo buscar para defesa da sua tese o facto de Cristo ter tomado sobre os seus ombros o peso e a dor da humanidade, o que obriga desde logo, o homem a ser solidário com o mundo de que é parte, não podendo em consciência fugir desta lei que o faz – ainda que o não sinta – participante do drama da Cruz, levando-o a afirmar que é do meio onde vive que todo o cristão recebe a sua vida e impulsos sobrenaturais, pela acção do poder da graça.
Desenvolve, pois, a partir daqui, todo um processo de teologia do meio ambiente chamando à necessidade de todos os cristãos serem santificadores das comunidades onde vivem, no pressuposto, que não o sendo, correm o risco de serem asfixiados pelo poder da massa anónima, se se esquecem de viver com a chama do amor de Deus, que o faz cidadão de dois mundos, onde deve fazer valer as exigências do reino de Deus no seu mundo social
Daí, que para agir em plenitude o cristão não pode viver isolado, mas antes, inserido numa comunidade, seja ela, a família, o clube do bairro, a tertúlia do café ou a paróquia, fonte espiritual indispensável, porque doutra sorte, os revezes, sempre à espreita, não deixam de acontecer.
Para isto exige-se a lei da prudência, levando em linha de conta que a teologia do meio ambiente exige do cristão consciente das suas responsabilidades uma forma de laicado aberto ao exterior das próprias comunidades cristãs, que não podem isolar-se nos seus casulos, tendo por cumprir tarefas de cultura espiritual relativamente ao mundo, que exerce hoje, como nunca aconteceu, uma influência perniciosa que rouba, até, ao mais avisado, a força da afirmação dos valores cristãos que de modo algum podem perder a sua identidade natural.
O mundo actual, como diz Bernhard  Haring está envolvido numa dinâmica da história da salvação, que muito mais, que uma simples história, constitui uma interpretação da história do homem em que a mensagem mais importante não pode esquecer a intervenção de Deus, sem vir ao caso, como foi criado o mundo, mas atendendo a que ele é uma criação que escapa à inteligência humana, que não podendo ir ao encontro dos mínimos detalhes, procura ver nos seus significados, sinais evidentes em que se fundou a formação literária dos primeiros Patriarcas – a partir de várias sagas e lendas – até à chegada à terra de Canaã, ponto de partida para a grande aventura do povo de Deus, até ao momento culminante do sacrifício da Cruz.
Exige-se, por tudo isto, ao cristão actual, um trabalho consciente que leve ao mundo o espírito salvífico de Jesus em relação ao meio, na certeza que em virtude da incarnação do Verbo, o mundo dos homens faz parte desde então de uma envolvência espiritual que atinge toda a humanidade, mesmo aquela que parece andar adormecida.
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(1)      - Bernhard Häring (1912 - 1988) foi um teólogo católico alemão. Autor de vários livros, onde a temática da consciência foi desenvolvida a partir de valores cristãos

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