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domingo, 16 de junho de 2013

As qualidades acima dos defeitos


AS QUALIDADES ACIMA DOS DEFEITOS


O local desta história é a carpintaria do Sr. José.
Quando ele estava ausente, pelo silêncio da noite aconteceu uma reunião estranha que nunca se tinha visto. Algumas das ferramentas de trabalho a que associaram alguns materiais, resolveram fazer uma assembleia para dirimirem entre si, certos aspectos funcionais com o fim de elegerem qual seria de entre eles o elemento mais importante.
O martelo, ciente da sua importância tomou a presidência, de imediato.
Não senhor. Não podia ser.
A presidência só devia ser eleita quando fosse escolhida por maioria absoluta o melhor elemento – ferramenta ou material - de que resultou que em uníssono as vozes discordantes o tenham apeado do lugar, dizendo que ele, apesar do barulho das pancadas nem sempre acertava nos pregos.
Era o seu defeito.
O martelo, algo envergonhado, entendeu a censura e saiu do lugar.
Seguiu-se-lhe o serrote, vaidoso de abrir a madeira, algo que lhe parecia importante, mas não tendo conseguido vencer, pelo facto, segundo o parecer das outras companheiras, de fazer muito lixo.
Foi, então, a vez do prego, convencido de que pelo facto de unir a madeira viria a ganhar a presidência daquela reunião.
Nem penses nisso, foi logo admoestado. Quantas vezes, rachas a madeira e te entortas, dando trabalho dobrado ao carpinteiro para pôr a direito o que tu estragas...
Vaidosa como era, foi a vez da lixa.
Ela, sim. 
Alisava todas as imperfeições e só por isso merecia ser eleita.
Não contou, porém, com a animosidade que se gerou, dizendo que ela, antes de polir a madeira para se envaidecer do seu trabalho, gerava muitos atritos e também fazia muito lixo.
De seguida apareceu na contenda o metro.
Como sem ele não era possível medir fosse o que fosse e não era possível fazer obra, avançou, na certeza que seria ele a ganhar a presidência.
Mas não. O metro, nem pensar, pelo simples motivo de se pensar uma ferramenta única, cheia de vaidade e, ainda, só ser considerado um metro depois do carpinteiro o abrir, quando até então, vivia encolhido no seu bolso como se tivesse vergonha da sua condição.
Finalmente, apresentou-se a madeira.
Ela, sim. Material nobre que era e sem a qual não era possível dar forma às obras da carpintaria, puxou dos seus galões e disse com modos arrogantes:
- Os últimos são os primeiros. Compete-me a mim, a presidência desta reunião, por ser o elemento mais importante.
Houve um momento de silêncio. Efectivamente, aquela asserção não era destituída de sentido, mas ao mesmo tempo, o serrote, o martelo e o prego, empertigaram-se e disseram:
- Tu, de facto, és muito importante, mas que obra fazias sem nós para te moldar as formas e para te unir?
Com tanta discussão e falta de entendimento, amanheceu e o Sr. José entrou na oficina, como sempre, à hora regimental.
Juntou perto da sua bancada de trabalho as ferramentas e os materiais: o martelo, o serrote, os pregos, a lixa e o metro e a madeira e deu começo ao fabrico de uma estante que lhe haviam encomendado.
Na noite que se seguiu àquele dia de trabalho, houve, uma nova reunião.
Novamente o martelo se fez ouvir para dizer o seguinte:
-Vejamos o que acontece connosco. Todos nós temos qualidades e defeitos. Eu, porque falho pancadas e entorto pregos, para além do barulho que faço, embora se reconheça que uno as peças que o Sr. José fabrica. Acontece o mesmo convosco, de acordo com as características de cada um.
Todos ficaram mudos e a pensar naquelas palavras que pareciam sábias.
E todos entenderam que o Sr. José tomava as qualidades e os defeitos de cada um e numa harmonia perfeita, trabalhava com todos e era com eles que satisfazia as encomendas dos seus clientes, sentindo-se envaidecidos, porque no fim constituíam uma equipe unida e prestável e tinham um grande contentamento por agirem juntos em prol do mesmo objectivo.
Esta história transladada para a vivência humana, sugere os seguintes e breves considerandos:
Todos os homens são imperfeitos.
Mas se se unirem, com as suas muitas qualidades e defeitos que sempre acontecem, podem fazer obra que se veja.
Não apontemos, pois, apenas os defeitos, porque ao fazê-lo estamos a ferir a auto-estima que é algo que nunca deve ser atingido.
Procuremos, antes, as qualidades e se reconhecermos que elas são de elevado grau, deixemos que o seu portador faça de guia e dirija assembleias, porque é sempre necessário haver dirigentes capazes, mas não os derrotemos por malícia ou má vontade, fazendo que os defeitos se sobreponham às qualidades, porque é um erro de análise que cometemos.
Se nas ferramentas e nos materiais desta história, as qualidades de cada um deles eram superiores aos defeitos, como não será isto no homem, criatura feita à imagem de Deus?
Meditemos nisto e deixemos de apontar, apenas, os defeitos do semelhante, fazendo tábua rasa dos nossos.

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