Pela graça, a alma é atingida no mais profundo do seu ser,
de modo que bem se pode falar de uma “nova criação”, de uma “nova vida”. É por
isso que S. Paulo fala do cristianismo em graça como de “uma nova criatura em
Cristo” (2 Cor 5, 17), de um “homem novo, criado segundo Deus na justiça e na
santidade verdadeiras (Ef 4, 24).
António Orozco Delclos
in, Olhar para Maria
A graça é o dom sobrenatural dado por Deus aos nossos
primeiros pais, quando estabeleceu com eles uma vizinhança de amizade, que
afinal, acabou por ser perdida, mas sem que isso tivesse constituído para o
género humano um abandono divino pelo pecado cometido, dando-lhes num acto de
clemência, o poder da regeneração
através da graça actual e graça santificante.
Sem as ter como um bem
da alma, o homem vive na subjugação de forças que condicionam a sua vontade
estando longe de ter vida independente, mas antes, sujeito a pressões externas
individuais ou colectivas geradoras de actos que arruínam os seus direitos
naturais inalienáveis, indo em casos extremos ao ponto de o levar a aceitar o
jugo dessas forças como um proveito que lhe aconteceu.
É a escravidão perante
o mal a falta do poder da graça actual, o primeiro degrau do caminho do homem à
sua participação na vida divina pelo arrependimento que o faz crescer
espiritualmente através da acção do Espírito Santo, que age sempre, quer seja
através de uma leitura ou de uma pregação.
A graça actual é um
movimento interior que leva o pecador a reencontrar –se, sem qualquer violência
do meio, porquanto a acção que o faz mover é de ordem superior, distribuindo-se
por todos os homens, justos e pecadores, numa infusão de mercês que teve o seu
zénite com a advento do Pentecostes, onde os homens foram chamados a uma
cooperação mais efectiva com o Espírito Santo pela acção dos santos apóstolos.
Tendeu, desde então, a
renovação e transformação do “homem
velho” no “homem novo”.
É neste “homem novo”
que reside o degrau da graça santificante que o leva a cooperar com a graça
actual e o faz participante em definitivo da amizade de Deus, ao dar à sua alma
a beleza permanente de quem alberga em si mesmo a morada do Espírito Santo.
Possuído dela, a alma
do homem é atingida no mais profundo do
seu ser, podendo com toda a naturalidade afirmar-se que na graça
santificante se pode falar de uma “nova
criação”, ou seja do homem regenerado, como se lhe tivesse sido dada uma
nova vida, pois nela, efectivamente, já ficou depositado o gérmen da vida
eterna.
Neste estádio o homem
vivendo perto de Deus é, naturalmente, direccionado para o cumprimento das boas
obras pela acção do Espírito Santo que renova nele o mistério do baptismo de
Jesus, porque pelo dom baptismal fomos libertados do espírito de escravidão e
que ao libertar-nos do pecado, pela graça alcançada, nos tornamos filhos
dilecto de Deus e co- herdeiros do Filho que Ele enviou como dispensador de
todas as graças.
S. Paulo assim o disse
e no-lo deixou escrito para nosso bem e reflexão, quando ao apontar o homem que
aceitou centrar a sua vida pela assunção do
cristianismo em graça como de “uma nova criatura em Cristo, lhe deu, por
inspiração divina o poder de expressar o seu pensamento, afirmando que nele
está, verdadeiramente, um “homem novo,
criado segundo Deus na justiça e na santidade verdadeiras.
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