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segunda-feira, 17 de junho de 2013

A comédia humana



Podiam escrever-se livros inteiros a demonstrar como o mundo é um imenso estádio em que o orgulho da vida joga o grande “match” das etiquetas, formas sociais e exibições económicas, para competir pela imagem social, combate em que o que interessa aos homens não é o ser, nem sequer o ter, mas sim o parecer.
Todos sabem que estão a representar e a participar numa comédia. Mas que fazer? Já estão metidos no palco e não podem sair dele, porque perdiam a imagem. E isso, para eles, equivaleria a morrer.
Inácio Larrañaga
in, Sobe Comigo

Ah! A comédia da vida!
De uma forma que se entronca na sua definição mais comum, a comédia é o uso de humor nas artes cénicas, devendo a sua origem à Grécia antiga, onde as representações teatrais se cingiam especialmente, a dois aspectos cénicos: a tragédia e a comédia.
Aristóteles, na sua obra “Arte Poética” ao apresentar a diferenças entre as duas, aponta a “tragédia” como uma arte exclusiva dos heróis, ou homens superiores, enquanto a comédia era o inverso e se destinava aos homens comuns da pólis.
Hoje, porém, tudo mudou.
No grande teatro da vida onde se move uma multidão imensa de “artistas” a tragédia esconde-se, envergonhada por mostrar os desaires das loucuras que se cometem e pelo atropelo que é feito das boas normas de conduta humana e, em seu lugar, aparece a comédia nos seus aspectos mais trágicos, com as piruetas que se cometem para se parecer o que se não é.
E esta desconexão do bom senso só não solta mais gargalhadas pelo pudor dos que, notando os disfarces, fingem esquecer o que realmente acontece nesta floresta de enganos em que muitos de nós estamos a transformar este mundo, virando-o do avesso, pela falta de respeito que nos devia merecer o nosso semelhante, e bem assim, pela falta de respeito do homem por si mesmo, imagem do Deus esquecido, como se Ele não existisse.
Numa atitude espúria, joga-se, efectivamente, o “match” das etiquetas, formas sociais e exibições económicas, para competir pela imagem social, esquecendo-se o homem – que embora lhe pertença o dom que de ser um comediante real da vida, enquanto actor interventivo e apaixonado das suas acções – não deve fazer, para que elas sejam devidamente consideradas, o papel do comediante, onde o ar sério que se pretende ter, deixa a descoberto a comédia que se representa e causa risos disfarçados.
O homem não deve esquecer a realidade que é o seu conjunto, formado pelas diversidades que Deus lhe concedeu para as usar em ordem ao conjunto, onde a consciência é um juiz atento e sendo a componente divina da sua semelhança com o Criador, sempre uma sentinela de serviço.
A comédia representada daquilo que se diz ser, em confronto com aquilo que se é, afigura uma violência ao carácter, uma degenerescência do saber congénito e é, sobretudo, uma afronta à humildade dos que – na ordenação superior da moral das ideias, não pretendem ter sobre os outros a projecção de uma superioridade motalista -  mas antes, ter em pleno, o sentimento preciso da  sua  modéstia, respeito, reverência e submissão à ordem superior, onde se move o Mistério de Deus.
Ah! A comédia da vida!
Todos sabem que estão a representar e a participar numa comédia. Mas que fazer? Já estão metidos no palco e não podem sair dele, porque perdiam a imagem.- diz com toda a clareza, Inácio Larrañaga.
E, depois?
Que contas vai dar o homem, se a comédia que representou não serviu a público nenhum?

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