Podiam escrever-se livros
inteiros a demonstrar como o mundo é um imenso estádio em que o orgulho da vida
joga o grande “match” das etiquetas, formas sociais e exibições económicas,
para competir pela imagem social, combate em que o que interessa aos homens não
é o ser, nem sequer o ter, mas sim o parecer.
Todos
sabem que estão a representar e a participar numa comédia. Mas que fazer? Já
estão metidos no palco e não podem sair dele, porque perdiam a imagem. E isso,
para eles, equivaleria a morrer.
Inácio
Larrañaga
in, Sobe
Comigo
Ah! A comédia da vida!
De uma forma que se entronca na sua definição
mais comum, a comédia é o uso de humor nas artes cénicas, devendo a sua origem
à Grécia antiga, onde as representações teatrais se cingiam especialmente, a
dois aspectos cénicos: a tragédia e a comédia.
Aristóteles, na sua obra “Arte Poética” ao
apresentar a diferenças entre as duas, aponta a “tragédia” como uma arte
exclusiva dos heróis, ou homens superiores, enquanto a comédia era o inverso e
se destinava aos homens comuns da pólis.
Hoje, porém, tudo mudou.
No grande teatro da vida onde se move uma
multidão imensa de “artistas” a tragédia esconde-se, envergonhada por mostrar
os desaires das loucuras que se cometem e pelo atropelo que é feito das boas
normas de conduta humana e, em seu lugar, aparece a comédia nos seus aspectos
mais trágicos, com as piruetas que se cometem para se parecer o que se não é.
E esta desconexão do bom senso só não solta
mais gargalhadas pelo pudor dos que, notando os disfarces, fingem esquecer o
que realmente acontece nesta floresta de enganos em que muitos de nós estamos a
transformar este mundo, virando-o do avesso, pela falta de respeito que nos
devia merecer o nosso semelhante, e bem assim, pela falta de respeito do homem
por si mesmo, imagem do Deus esquecido, como se Ele não existisse.
Numa atitude espúria, joga-se, efectivamente, o
“match” das etiquetas, formas sociais e
exibições económicas, para competir pela imagem social, esquecendo-se o
homem – que embora lhe pertença o dom que de ser um comediante real da vida,
enquanto actor interventivo e apaixonado das suas acções – não deve fazer, para
que elas sejam devidamente consideradas, o papel do comediante, onde o ar sério
que se pretende ter, deixa a descoberto a comédia que se representa e causa
risos disfarçados.
O homem não deve esquecer a realidade que é o
seu conjunto, formado pelas diversidades que Deus lhe concedeu para as usar em
ordem ao conjunto, onde a consciência é um juiz atento e sendo a componente
divina da sua semelhança com o Criador, sempre uma sentinela de serviço.
A comédia representada daquilo que se diz ser,
em confronto com aquilo que se é, afigura uma violência ao carácter, uma
degenerescência do saber congénito e é, sobretudo, uma afronta à humildade dos
que – na ordenação superior da moral das ideias, não pretendem ter sobre os
outros a projecção de uma superioridade motalista - mas antes, ter em pleno, o sentimento preciso
da sua
modéstia, respeito, reverência e submissão à ordem superior, onde se
move o Mistério de Deus.
Ah! A comédia da vida!
Todos
sabem que estão a representar e a participar numa comédia. Mas que fazer? Já
estão metidos no palco e não podem sair dele, porque perdiam a imagem.- diz com toda a
clareza, Inácio Larrañaga.
E, depois?
Que contas vai dar o homem, se a
comédia que representou não serviu a público nenhum?
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