A
"DANÇA DAS CADEIRAS”
NOS GOVERNOS DE PORTUGAL
desde
1821 até 2006
Preâmbulo
O
fundamental deste trabalho explana-se no Segundo e Terceiro capítulos, cabendo
ao Primeiro a missão de súmula, mas que ainda assim, destinado à
apresentação breve dos factos procurou-se que ele contivesse o essencial da
notícia histórica, dos agentes interventivos e dos acontecimentos de tal modo,
que nele se fizesse uma ponte para as conclusões insertas nos capítulos
finais no intuito de clarificar
devidamente o título - A “Dança das Cadeiras” nos Governos de Portugal desde
1821 até 2006, abarcando, sobretudo, os séculos XIX, a partir dos anos vinte,
até final, o século XX - excluindo os tempo das Ditaduras (1926 – 1932) e
(1932-1974) – e, bem assim, o período subsequente, onde a sucessão de governos
tem sido uma marca pouco abonatória. Ao contrário do que alguns pensam, não somente
nas atribulações de um tempo recente onde cabe todo o século XX, mas muito
antes, sendo disso um marco indelével quando o poder despótico, a fingir de
constitucional, mandou fechar as “Conferências Democráticas do Casino” (1871),
num tempo em que já não era possível voltar atrás e cujo crime maior imputado
aos conferencistas – todos intelectuais de primeira água - foi o de quererem
arejar o País com os ventos de mudança que não só, já se avizinhavam, como já estavam
presentes no horizonte intelectual dos mais esclarecidos, vendo-se a sociedade
plural que caminhava, embora timidamente, nos novos caminhos a ser impedida de
atingir esse desiderato por força de um decreto espúrio com sede num Ministro
do Reino que na “Dança das Cadeiras” conheceu o poder no cimo da pirâmide
ministerial, três vezes, usando um hábito que fez carreira entre todos os
políticos do seu tempo.
Referimo-nos ao então ministro, António José de Ávila, duque de Ávila e Bolama, cuja assinatura valeu o encerramento das “Conferências”, representando este nome, um apenas, entre muitos, que cercearam a cultura num tempo em que o Iluminismo – com todas as virtudes e defeitos – era uma nova luz que se abria às sociedades.
Referimo-nos ao então ministro, António José de Ávila, duque de Ávila e Bolama, cuja assinatura valeu o encerramento das “Conferências”, representando este nome, um apenas, entre muitos, que cercearam a cultura num tempo em que o Iluminismo – com todas as virtudes e defeitos – era uma nova luz que se abria às sociedades.
Primeiro Capítulo
Bosquejo Histórico desde a Revolução Francesa (1789) até à queda da Monarquia (1910)
Primeira Parte
Período encerrado com o exílio da Família Real para o Brasil (1807)
A Revolução Francesa com as suas consequências,
centradas, especialmente, na mudança de hábitos sócio-políticos obrigou as
monarquias europeias a sofrerem alterações comportamentais de vulto pela
propagação das ideias liberais dos pensadores iluministas do século XVIII,
dando aos homens, para o mal e para o bem, uma nova visão das futuras
sociedades que se foram abrigando à luz de um tempo que ia fazendo a sua marcha
pelos novos caminhos da História.
O Estado absolutista caracterizara-se até então, por
um rígido controle das instituições através de um poder central asfixiante que
dava pouco espaço de acção às outras classes, incluindo a burguesia. Esta
tomada de consciência da situação não iria tardar a fomentar, no cadinho já em
ebulição nas sociedades mais despertas para o advento das novas ideias, um
sistema que invertesse a conjuntura. Daqui nasceu o Liberalismo que tinha como
princípios básicos a liberdade de pensamento, de actividade económica e de
organização social.
Isso queria dizer que para os liberais o Estado não
devia ter o papel de controlar a economia, as empresas e as actividades
políticas dos cidadãos, mas simplesmente deixar fluir livremente o pensamento.
Tendo a
montante todas estas profundas alterações sociais a nível internacional, o
Século XIX abre em Portugal com um semblante carregado, em face da ascensão ao
poder de Napoleão Bonaparte no ano de 1804, o qual de imediato declarou a sua
hostilidade a todos os Estados que se insurgissem contra o ideário da Revolução
Francesa.
Em Julho de
1807 o Imperador francófono firmou com o czar Alexandre I da Rússia o Acordo de Tilsit garantindo com ele o
fechamento dos portos do extremo leste da Europa.
Tendo já derrotado todos os seus
adversários, com excepção da Inglaterra e Portugal, virou-se para o nosso País
quando o Reino de Espanha já fora usurpado, com a abdicação do rei D. Carlos IV
e do seu filho e sucessor na linha dinástica, D. Fernando, a favor do irmão,
José Bonaparte.
Portugal era
uma peça importante no xadrês militar daquela época em virtude dos portos
estratégicos das cidades de Lisboa e Porto, os quais havia todo o interesse em
controlar fosse por meio de acordo ou de ocupação militar.
Na sanha que o
animava, Napoleão já havia decretado em 21 de Novembro de 1806, o bem conhecido
Bloqueio Continental como uma forma de pressionar economicamente a Inglaterra,
resumindo-se este assédio ao fechamento dos portos de todos os países europeus
ao comércio inglês. Pretendia-se dessa forma enfraquecer a economia deste país
que precisava de mercado consumidor para os seus produtos manufaturados e,
assim, impor a preponderância francesa em toda a Europa.
Com esse
propósito, Napoleão enviou um ultimato ao Regente de Portugal, D. João VI, em
Agosto de 1807, para que rompesse definitivamente com a Inglaterra – velha
aliada de Portugal - e prendesse os súbditos ingleses residentes,
confiscando-lhes os bens.
Caso não
cumprisse as ordens, Portugal seria invadido e o trono apeado, só o não tendo
sido devido à fuga da Família Real para o Brasil.
A nossa fronteira terrestre, efectivamente,
acabaria por ser invadida pela França e Espanha, que marcharam rumo a Lisboa
após a assinatura entre estes dois países, em 27 de Outubro de 1807, do infame
Tratado de Fontainebleau, que impunha a drástica medida de Portugal ser repartido
em três partes e entregue aos invasores.
Em 17 de
Novembro, Napoleão toma a decisão de abrir a frente ibérica e inicia nesse dia
a invasão de Portugal, sob o comando de Junot que a 21 desse mesmo mês já
estava em Tomar.
Em face disto
– e porque, astuciosamente, durante os seis meses anteriores, a hipótese mais
que provável da viagem da família real para o Brasil se tornara uma necessidade
absoluta em face das notícias que iam chegando, cabendo nesta parte um
importante papel aos ingleses através de Lord Strangford, embaixador inglês em Portugal - esta
viagem foi organizada sem levantar suspeitas e, no dia 24 de Novembro, o
Conselho de Estado, presidido pelo Príncipe Regente, tomou a decisão de
aconselhar sem delongas a partida para o Brasil, da Família Real.
A partida
concretizou-se ao romper da manhã do dia 27 de Novembro, tendo sido instituído
um Conselho de Regência.
Ao chegar a
Lisboa, Junot ainda viu a perderem-se na linha do horizonte, sobre as águas do
Tejo, já confundidas pelas do Atlântico, as últimas naus que iam a caminho do
Brasil.
Primeiro
Capítulo
Segunda Parte
Período
entre a Fuga da Família Real para o Brasil(1807)
Seu Regresso (1821) até à Morte de D.
João VI (1826)
O que se
seguiu desde 1807 até à Revolução liberal no Porto, em 24 de Agosto de 1820,
foi um processo doloroso em que Portugal se viu a braços com o início das lutas
entre liberais e absolutistas e sofrendo a opressão inglesa do Marechal
Beresford (1),
que se assanhava de tal forma contra a Regência a ponto de o corpo dos oficiais
portugueses terem manifestado a sua oposição contra a chefia deste mandatário
inglês – de que resultaria a execução de Gomes Freire de Andrade e outros
“mártires da Pátria”. Neste processo registou-se uma situação de guerra aberta
da Casa de Cadaval (2), de
ideário absolutista, contra a Casa de Bragança, que era severamente acusada de
ter deixado o País, pelo terras do Brasil.
Ao levantamento
do Porto em 1820 (3)
seguiu-se a Revolta Liberal em Lisboa em 15 de Setembro e a fusão dos
movimentos liberais em Alcobaça em 27 desse mês.
Na sequência da Revolução de 1820 e das primeiras
eleições (10 a
27 de Dezembro do mesmo ano), do regresso da Família Real do Brasil em 1821,
das Cortes Gerais, Extraordinárias e Constituintes – ou Soberano Congresso – e
da elaboração da Constituição de 1822 (4),
pela primeira vez em Portugal tomaram assento representantes da Nação,
seguindo-se no País as orientações políticas da Constituição liberal espanhola
de Cádis de 1812.
Deram-se com
isto os primeiros passos para instaurar uma Monarquia Constitucional, mas que
só teriam verdadeiramente lugar após a derrota das campanhas da guerra civil
levadas a cabo pela obstinação absolutista de D. Miguel, tendo como ponto de
partida o ano de 1834, quando o “rei absoluto” foi obrigado a exilar-se.
Nos seus bons propósitos a revolução liberal foi
uma tentativa de sarar feridas que estavam latente no tecido social, pela
ausência do Rei e pelas querelas intestinas que minavam a moral da Nação.
Entretanto, no
dia 5 de Setembro de 1820 já tinha saído de Lisboa a caminho do Rio de Janeiro,
um brigue para dar notícias a D. João VI dos movimentos que ocorriam no País.
No regresso, efectuado a 16 de Dezembro, toma-se conhecimento da concessão de
uma amnistia geral e da autorização da convocação das Cortes Gerais que se
reunem a 24 de Janeiro de 1821.
A “dança das cadeiras” é uma alusão àquilo
que politicamente aconteceu de inusitado e só explicável pela cupidez do poder
aliada às lutas surdas da sociedade portuguesa.
D. João VI,
regressado em 1821 do seu exílio brasileiro (onde ficara D. Pedro IV), seguiu
de imediato, após o desembarque em terrenos fronteiros à Cordoaria Nacional,
para o palácio da Ajuda onde jurou a Constituição, cujo texto básico fora
aprovado pela Regência, durante a sua ausência, em 9 de Março de 1821.
Na altura, leu um discurso onde pôs em causa o
despotismo e o poder legislativo como monopólio do monarca, devendo antes o
exercício deste poder resultar da união entre o monarca e os deputados eleitos,
mas alertando para o perigo da Câmara chamar para si o poder legislativo, tornando-se, no seu comportamento
civil relativamente ao Rei, como se incarnasse a plebe.
São abolidos
os termos de vassalo e el-rei nosso senhor, tidos como expressões
medievais.
É decretada
uma amnistia para os crimes de origem política ocorridos desde o ano de 1807,
não se evitando, contudo, que a 13 de Março desse mesmo ano, José Acúrsio das
Neves tenha sido demitido do lugar de Director da Real Fábrica das Sedas e
Obras das Águas Livres e perdido a 15 de Maio o lugar de deputado pelas suas
ideias favoráveis ao poder absoluto centrado no rei.
Este é,
certamente, um caso entre muitos outros. Relata-se por ter atingido um
conterrâneo nosso, natural de Cavaleiros de Baixo (Concelho de Pampilhosa da
Serra).
O País
preparava-se para dar início a uma fase conturbada que haveria de marcar para
sempre o início do constitucionalismo monárquico. A esta turbulência não foi
alheia a mutabilidade politico-social advinda da proclamação de independência
do Brasil em 7 de Setembro de 1822, pela voz de D. Pedro - o filho primogénito
de D. João VI e irmão de D. Miguel, culminando o Regente, com este seu gesto –
o chamado grito do Ipiranga - o que fora pela primeira vez exigido, em
1789, pelo movimento independentista de acção revolucionária a cargo de José da
Silva Xavier, que a História Universal conhece como “o Tiradentes”.
D. João VI,
sanciona como Ministro do Reino – Primeiro-Ministro, como hoje é conhecido este
cargo – o almirante Inácio da Costa Quintela, dando-se com este passo o início
da Monarquia Costitucional.
Ia começar um período agitado em que diversas
facções travaram pelo poder lutas estéreis que marcam até hoje o atraso
económico e cultural do País.
Com a
Revolução de 24 de Agosto de 1820, surgiu o Vintismo como primeira experiência
liberal, a qual culminaria com a Revolta militar absolutista ocorrida em
Maio/Junho de 1823 e conhecida pela Vilafrancada, que colocou D. Miguel no
comando do exército e deu fim à Constituição de 1822 – facto que D. João VI se
viu obrigado a aceitar - resultando daí, pelo conluio entre a Rainha D. Carlota
Joaquina e D. Miguel, a dissolução das cortes e a substituição do Governo. O
período entre Maio de 1823 e Março de 1826 é todo ele um tempo em que esteve de
pé a promessa – nunca cumprida - de uma nova Constituição.
Pelo meio
aconteceu a Abrilada – um movimento de cariz militar levado a cabo por D. Miguel
entre 20 e 30 de Abril de 1824 que visava salvar o Reino dos perigos do
liberalismo – donde resultou que D. João VI, sob forte pressão diplomática
de Países acreditados em Lisboa, tenha desautorizado o Infante, retirando-lhe o
comando das forças militares e obrigando-o a exilar-se em Viena de Áustria,
para onde partiu em 13 de Maio daquele ano.
É um período
estranho em que Portugal se vê arredado de ter em cena um governo
declaradamente representativo e onde não faltou a intromissão de países
signatários da Santa Aliança, resultante do Congresso de Viena realizado entre
1814 e 1815, após a queda de Napoleão.
Esta “Aliança”
– de que Portugal fazia parte e que se dissolveria lentamente entre os anos 1822 a 1827 – tinha como
instrumento político fundamental uma linha de conservadorismo para impedir na
Europa o avanço do liberalismo e manter o absolutismo como filosofia de Estado.
O governo de
Portugal foi então uma mescla vários partidos, designadamente o da Bemposta (5) – o
partido do Rei - o do Ramalhão (6) – o
partido da Rainha - que contava como principal agente o Conde de Basto, e uma
terceira força centrada no que foi chamado o “Partido da Junqueira” onde não
era estranha a influência – mais uma vez! – da Rainha, a qual, como já
acontecera no Rio de Janeiro, continuava a viver longe do marido, por imposição
deste.
D. João VI morre em 10 Março de 1826.
Primeiro
Capítulo
Terceira Parte
Bosquejo
Histórico Desde a Morte de D. João VI (1826)
até à Convenção de Évora-Monte (1834)
Seguiu-se
entre 1826 a
1828 o nascimento do Cartismo (7) e o
reaparecimento do absolutismo.
D. João VI, à
beira da morte, institui um Conselho de Regência em 6 de Março de 1826,
presidido pela filha, Infanta D. Isabel Maria. Esta atitude resultou do facto
de o Rei não ter confiança na Rainha, e porque se davam as circunstâncias do
herdeiro natural da coroa, D. Pedro, estar no Brasil (que já se tornara
independente) e de o seu irmão, D. Miguel, estar exilado em Viena de Áustria.
Para
assessorar a Infanta, ao tempo com 25 anos, foram designados o cardeal
patriarca eleito, o duque do Cadaval, o marquês de Valada, o conde dos Arcos e
6 ministros do Estado, prevalecendo a Regência enquanto o legitimo herdeiro e
sucessor da coroa de Portugal não desse providências a tal respeito.
D. Pedro,
imperador do Brasil, confirmou instituída a Regência por decreto de 26 de
Abril, e no dia 29 do mesmo mês outorga a Carta Constitucional, abdicando de
imediato, a 2 de Maio dos seus direitos à coroa de Portugal a favor de sua
filha, D. Maria da Glória, futura Rainha, e que na altura contava apenas 7
anos.
Foi um tempo tumultuoso, bem na linha do que se
passava em Portugal, havia já muitos anos.
Contra a
maioria do Conselho de Regência, a Infanta D. Isabel Maria jurou a Carta em 31
de Julho, pressionada pelo Duque de Saldanha que ameaçava com uma acção militar
se aquele documento não fosse publicado, donde resultou que tendo a Infanta
assumido a Regência, isolada, num gesto que pareceu anómalo, D. Miguel, no seu
exílio e ao arrepio das suas ideias, faz, igualmente, o juramento da Carta a 4
de Outubro, resultando desta concertação as primeiras eleições na vigência
daquele documento entre 8 e 17 desse mesmo mês, contra a vontade dos
anti-cartistas.
Este estado de
coisas é gerador de revoltas sociais, de golpes palacianos e com quedas de
ministros que entre si se vão sucedendo, sem que a paz reine, até que, em 1827,
D. Pedro faz entrar em cena o irmão exilado, dando-lhe a regência do Reino por
este, na Câmara dos Pares, ter a maioria a seu favor.
Resulta daqui
que a 22 de Fevereiro de 1928, D. Miguel, tendo deixado Viena de Áustria,
desembarca em Lisboa e de novo, mas agora dentro do País (mais concretamente no
Palácio da Ajuda) tenha assumido o juramento da Carta, em voz baixa como
referem alguns historiadores, e, de imediato, tenha ordenado a dissolução da
Câmara dos deputados, no momento em que tomou conta da Regência do Reino a 26
daquele mesmo mês.
Sucedeu-se o
que alguns temiam: o absolutismo reinante à moda antiga, um facto que foi uma
machadada no frágil edifício constitucional que havia sido construído sobre as
ruínas de um Império que já começara a desmoronar-se com o afastamento do
Brasil.
Conta Oliveira
Martins que as prisões em nome de el-Rei se sucediam, enchendo-se os cárceres e
sendo muitos dos presos levados para África, como levas de desgraçados.
O período que
se segue (1828 – 1834) que alguns historiadores chamam de “Miguelismo”, marca efectivamente
o regresso ao passado, isto é, às Cortes tradicionais, tendo no poder um Rei
absoluto que mais não era do que um soberano usurpador apoiado na casa de
Cadaval. E foi assim, que estando reunidos três Estados, entre 23 de Junho e 11 de Julho, declaram solenemente que nem
a D. Pedro nem aos seus descendentes pertence a Coroa de Portugal, mas apenas
D. Miguel que por essa via ínvia se vê legitimado como rei de Portugal.
Foi uma
temeridade o restabelecimento da Monarquia absoluta e que iria desencadear uma
sangrenta luta fratricida entre os dois irmãos.
Contra este
estado de coisas estava a Ilha Terceira, nos Açores que se batia por D. Pedro e
por sua filha D. Maria da Glória. Esta determinação levou D. Pedro a deixar uma
Regência no Brasil e determinadamente assume a batalha pelos direitos ao Reino
de Portugal.
Tendo passado
a França, ali organiza com emigrados portugueses uma expedição para aquela Ilha
rebelde dos Açores onde arregimenta um pequeno exército com o qual desembarca
em 8 de Julho de 1832, em Pampelido, junto ao Mindelo, dirigindo-se à cidade do
Porto onde sofre o cerco impiedoso das forças miguelistas durante vários meses.
Cerca de um ano.
Sucedeu,
entretanto, que apesar da vitória das forças liberais, comandadas pelo Duque de
Terceira, no combate das Antas, no dia 24 de Março de 1833, não houve maneira
de estas forçarem o levantamento do cerco, donde e sem mais hesitações, num
golpe de génio, tendo como comandante este intrépido homem de armas,
determinou-se uma expedição marítima ao Algarve com a finalidade de submeterem
as terras do Sul e daí lançarem a conquista da capital. A expedição saíu do
Porto a 21 de Junho de 1833 e era constituída por 1.500 homens – há quem fale
em 2.500 - e que para tal fim embarcaram na esquadra de Napier (8).
A esquadra
desembarcou numa pequena praia entre Cacela e Monte Gordo.
Olhão foi
tomado pelas forças liberais e logo de seguida S. Bartolomeu de Messines e
Tavira.
As forças
navais miguelistas ao tomarem conhecimento da esquadra de Napier no Algarve, largaram
de Lisboa mas não chegaram ao fim da viagem, porque, entretanto, tendo sido
avisada a esquadra liberal, esta veio ao encontro das forças absolutistas,
derrotando-as na batalha naval do Cabo de S. Vicente, como a história regista.
A Guerra Civil
entrava na sua fase decisiva.
O Duque de
Terceira entrou em Setúbal e acabaria por derrotar em Almada o célebre general
absolutista Teles Jordão, e pouco depois, em 24 de Julho, era derrotado em
Lisboa o comandante das forças miguelistas, o Duque do Cadaval.
No dia 11 de
Outubro de 1833 terminou, finalmente, o cerco à cidade do Porto.
As batalhas
seguintes, em Pernes, Almoster e Asseiceira, confirmaram definitivamente a
superioridade das armas liberais, o que determinou o exílio final de D. Miguel
com a assinatura em 26 de Maio de 1834 da Convenção de Évora-Monte.
D. Pedro IV
assumiu o poder, mas morre quatro meses depois, em 24 de Setembro.
Primeiro
Capítulo
Quarta Parte
Bosquejo
Histórico Desde a Convenção
de
Évora-Monte (1834) até à Regeneração (1851)
O período
entre 1834 e 1836 é a época do exercício pleno do Cartismo, havendo quem lhe
chame a “época da vindicta” pelo ambiente de desforras políticas entre as
facções em luta pelo poder.
A “dança das cadeiras”, efectivamente,
conhece neste período uma acentuada sucessão de pastas do Reino, entre liberais
e cartistas.
O Duque de
Palmela cai em Maio de 1835, sucedendo-lhe o Conde de Linhares, que não vai
além de Novembro. Na voragem política entram, ainda, José Jorge Loureiro, o
Duque de Terceira, o Conde Lumiares, e o Conde de Vimioso até Novembro de 1836.
As lutas pelo
poder são contínuas e impiedosas.
O País
ressente-se desta guerrilha sem tréguas. Os Cartistas, confessos apoiantes da
Carta Constitucional, e os Vintistas, por sua vez apoiantes da revolução de
1820, continuavam de costas voltadas.
Chegou-se ao
ponto de a Guarda Nacional intervir, vendo-se a Rainha obrigada a revogar a
Carta Constitucional e a repor a Constituição de 1822.
Neste contexto de algum
desnorte, a rainha deixa o Palácio das Necessidades e vai para Belém.
No fim do ano de 1836 ocorre um
golpe de Estado contra-revolucionário que ficou conhecido pela “Belenzada”. É
desferido contra o Setembrismo, que apesar deste “golpe” se viria a impor entre
1836 a
1842, período onde a
agitação ministerial não cede com a dissolução e empossamento de governos a
sucederem-se freneticamente, até ao advento do Cabralismo (1842-1846), o qual
estava centrado na pessoa de António Bernardo da Costa Cabral, que já se havia
revelado na administração de Lisboa durante o Setembrismo, ao ter reprimido os
tumultos mais radicais.
É então de novo restaurada a
Carta Constitucional, em 10 de Fevereiro de 1842, com a imagem do poder a
assentar no preceito da ordem, tanto policial como financeira, sendo o Governo
a sede por excelência desse poder autoritário. Com Costa Cabral começa, com
efeito, a centralização do Estado, com larga predominância neste de elementos
da maçonaria. Aliás, o próprio Costa Cabral era o grão-mestre do Grande Oriente
Lusitano, havendo quem lhe chamasse, politicamente, o novo “Marquês de Pombal”
do constitucionalismo.
Apesar
disto, o seu governo não sobreviveu à chamada Guerra da Patuleia (1846/47)
(9),
começada com os levantamentos populares que deram aso ao movimento que ficou
conhecido pela “Maria da Fonte” (10).
Costa Cabral foi forçado a exilar-se até 1849, ano em que volta ao poder até
que, em 1851, o movimento da “Regeneração” o obrigou a deixar em definitivo o governo.
Primeiro
Capítulo
Quinta Parte
Bosquejo
Histórico Desde a Regeneração (1851)
até à Queda da Monarquia (1910)
O movimento
da Regeneração (11),
tendo à cabeça o Marechal Saldanha surge em 1851. Os regeneradores conluiados
com os militares que ajudaram à queda de Costa Cabral, colocam o Marechal na
pasta da Presidência de Ministros do Reino, na sequência das eleições de 22 de
Maio.
Este movimento político veio a terminar com a
Revolução da Janeirinha, que viria a agitar as cidades de Lisboa, Porto e Braga
no dia 1 de Janeiro de 1868 (refira-se, a propósito, que esta revolução e a sua
data deram azo ao aparecimento do jornal “O Primeiro de Janeiro”).
O Republicanismo organizado
surge à volta de 1880, quando a frustração causada pela política dos
monárquicos constitucionais mostrava que esta não dava resposta ás ânsias de
reformas sociais.
Esta corrente republicana havia ganho um novo fôlego
em 1870, com o advento da chamada Comuna
de Paris (12),
com o aparecimento do Socialismo e a cada vez menos interessante política dos
monárquicos portugueses, onde muitos dos dirigentes de topo, para além de
dirigentes políticos, eram chefes ou aderentes de sociedades como a Maçonaria -
como aconteceu com António Augusto de Aguiar; António José de Ávila (1º conde e
duque de Ávila); Sá da Bandeira; José Ferreira Borges; Anselmo Braacamp Freire;
Costa Cabral (António Bernardo); Manuel Borges Carneiro – ou a Carbonária
Portuguesa - aparecida em Portugal cerca do ano 1823 como resposta ao governo
de Beresford. A Carbonária, que deve um impulso definitivo a José Estêvão e a
Rodrigues Sampaio, exerceu a sua autoridade arbitrária a ferro e fogo durante
mais de uma década, tendo como corolário vitimizado o marechal
Gomes Freire de Andrade, Grão Mestre da Maçonaria Portuguesa, que foi enforcado
com outros seus companheiros no Forte de S. Julião da Barra, em Oeiras, acusado
de conspirar conta a governação.
Foi mais um tempo em que os
governos se sucederam como se a sociedade estivesse vítima de uma vertigem de
loucura colectiva, onde os reis apeados do seu antigo poder assistiam inermes
ao desenrolar dos acontecimentos.
Como em Junho de 1871 declarou
ironicamente Eça de Queirós no seu livro “Uma Campanha Alegre” – “Farpas”:
Doze ou quinze homens,
sempre os mesmos, alternadamente possuem o poder, reconquistam o poder, trocam
o poder... O poder não sai de uns certos grupos, como uma péla que quatro
crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num
rumor de risos.
Quando quatro ou cinco
daqueles homens estão no poder, esses homens são, segundo a opinião e os
dizeres de todos os outros que lá não estão – os corruptos, os esbanjadores da
fazenda, a ruína do País.
Era
efectivamente assim, no tempo da pujante actividade literária de Eça de
Queirós, trocando os chefes do executivo, algumas vezes, as próprias cores
partidárias.
Vejamos o que
nos diz a História:
- O Duque de Palmela foi Presidente do Conselho
de Ministros pela primeira vez em 1834, pelos Liberais, e pela terceira e
última vez em 1846, pelo mesmo ideário político.
- O Duque de Saldanha foi Ministro do Reino pela
primeira vez em 1835 pelos Cartistas, e pela quarta e última vez em 1870, pelos
Regeneradores.
- O Marquês Sá da Bandeira foi Ministro do Reino
pela primeira vez em 1836 pelos Setembristas, e pela quinta e última vez, pelos
Reformistas, em 1870.
- O Duque de Terceira foi Ministro do Reino pela
primeira vez em 1836 pelos Cartistas, e pela terceira e última vez em 1860,
pelos Regeneradores.
- O Duque de Loulé foi Ministro do Reino pela
primeira vez em 1859 pelos Históricos, e pela terceira e última vez, pelo mesmo
ideário político, em 1870.
- O Duque de Ávila foi Ministro do Reino pela
primeira vez em 1868 e pela terceira e última vez em 1878.
- Joaquim António de Aguiar foi Ministro do
Reino pela primeira vez em 1842, pelos Liberais, e pela terceira e última vez
pela coligação Regeneradores/Históricos, em1868.
- Fontes Pereira de Melo foi Ministro do Reino
pela primeira vez em 1877, pelos Regeneradores, e pela terceira e última vez
pelo mesmo ideário político, em 1886.
Era
um tempo sem rei nem roque.
O Liberalismo tinha assentado arraias em Portugal
como uma imanação atrasada dos revoltosos da Bastilha, os quais, aliás, também
foram actores numa época conturbada, em que foram ceifados muitos dos seus
agentes revolucionários.
Como doutrina política significava que o Estado era
absolutamente independente de qualquer
regra moral e, em particular, das orientações da Igreja, posição que tem
marcado desde então as sociedades modernas.
Nas lutas
políticas de então, imergiram correntes que propunham quer um liberalismo
democrático, defendendo um parlamentarismo puro e monocameralista, quer um
liberalismo conservador, que defendia uma maior intervenção do poder do Rei, ou
ainda, por último, um parlamentarismo adoçado pelo poder real e a existência de
um sistema bicameralista.
Com real
significado político aparecerem em cena na década de trinta dois importantes
agrupamentos políticos: o Partido Progressista Histórico e o Partido
Regenerador, que só viriam a sofrer cisões irremediáveis em 1890, com o advento
do “Ultimatum” inglês, nascendo então, da pulverização partidária, o Partido
Republicano Português, que viria a sancionar, mais tarde, a alteração
revolucionária do regime.
O que aconteceu, entretanto, foi que a concertação
de alianças partidárias entre os dois grandes Partidos haveria de provocar
contínuas crises governamentais, com as necessárias dificuldades entre o poder
executivo e as Cortes, donde resultaram , sem proveito prático para Portugal,
as sucessivas consultas aos eleitores, imergindo sempre desses actos
instabilidades sociais e económicas.
Era um tempo novo que a pouco e pouco foi apeando
as Monarquias, dando lugar ao Parlamentarismo representativo. Da turbulência
verificada em Portugal resultou que – por inexperiência, ânsia de poder e
tricas de rivalidades entre partidos pouco afeitos a viver democraticamente –
os políticos portugueses de então, mesmo arregimentados numa mesma linha
doutrinal e estando no Governo, não tivessem encontrado um caminho consistente
que tivesse levado Portugal a ser orientado por uma linha programada e lúcida
que fosse servida por verdadeiros homens de Estado.
Uma grande parte destes estava enfeudada às lojas
secretas e até, muitas vezes, os responsáveis pelos Ministérios tiveram a
desfaçatez de desprezar homens de cultura - como Alexandre Herculano, Antero de
Quental, Oliveira Martins e outros – que não singraram politicamente porque aos
políticos carreiristas as suas vozes destoavam.
Neste campo não devem ser ignoradas as chamadas
“Conferências Democráticas do Casino Lisbonense” abertas em 19 de Maio de 1871
por Antero de Quental e em obediência a um programa do qual se transcreve, em
seguida, um pequeno trecho:
Ninguém desconhece que se está dando em volta de
nós uma transformação política, e todos pressentem que se agita, mais forte que
nunca, a questão de saber como deve regenerar-se a organização social.
Sob cada um
dos partidos que lutam na Europa, como em cada um dos grupos que constituem a
sociedade de hoje, há uma ideia e um interesse que são a causa e o porquê dos
movimentos.
Pareceu que cumpria,
enquanto os povos lutam nas revoluções, e antes que nós mesmos tomemos nelas o
nosso lugar, estudar serenamente a significação dessas ideias e a legitimidade
desses interesses; investigar como a sociedade é, e como ela deve ser; como as
nações têm sido, e como as pode fazer hoje a liberdade; e, por serem elas as
formadoras do homem, estudar todas as ideias e todas as correntes do
século(...)
Eram seus impulsionadores, para além de Antero e
Oliveira Martins, já citados, Eça de Queirós, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, a
que se juntaram Jaime Batalha Reis, Germano Meireles, Salomão Saragga, Adolfo
Coelho e Augusto Soromenho.
O poder, pela ordem do Ministro do Reino de então -
o Duque de Ávila (António José de) -, mandou encerrar as Conferências pouco
tempo depois da sua abertura, e Portugal, que pela voz e cultura dos seus
escritores mais proeminentes queria acertar um pouco o passo perdido com a
Europa, ficou mais uma vez para trás.
No período que mediou entre 1820 e 1910 Portugal
teve governos sucessivos por demais, a ponto de nunca ter sido possível, com
honrosas excepções, levar a cabo políticas de um verdadeiro desenvolvimento
nacional sustentado.
Basta apontar que só com a Regeneração, entre 1851
e 1868, Portugal haveria de encontrar em homens como Fontes Pereira de Melo
(1819-1887), José Estêvão Coelho de Magalhães (1809-1862) e Oliveira Martins
(1845-1894) alguns expoentes referenciáveis, mas enquanto Portugal se limitou,
como obra de topo nos anos cinquenta, a proceder à inauguração da primeira
linha ferroviária (28 de Outubro de 1856) entre Lisboa e o Carregado, numa
extensão de 36 Km ,
já havia países, como a França, que um ano antes levara a cabo eventos
grandiosos como a Exposição Universal de Paris que mereceu a visita de D. Pedro
V.
Este período culminou com a queda da Monarquia,
após o assassinato do Rei D. Carlos e do seu filho primogénito, o Príncipe D.
Luís Filipe, em 1908, crimes que nenhum homem nem nenhum regime pode branquear
e que assinalam na História de Portugal uma mancha indelével que para sempre há-de
ensombrar a I República, por muito que isto custe aos republicanos mais
convictos.
Segundo
Capítulo
Quedas e Substituições de Governos no Período
da
Monarquia Constitucional (1821-1910)
Nota
Introdutória
Na análise que temos vindo a fazer de um modo
simplista – mas tentando dar uma panorâmica histórica à revolução das ideias e
de organização do Estado português desde as campanhas napoleônicas –
preenchemos um Primeiro Capítulo com descrições necessariamente sumárias de
todo o período anterior e posterior à Monarquia Constitucional, abrangendo em
cinco partes a história conturbada de um tempo onde se misturaram ideais de
liberdade.
A sucessão infrene dos governos de que se deu
conta merece agora uma análise mais específica neste Segundo Capítulo, para o
que dividimos a fase da Monarquia Constitucional (1821-1910) em dois períodos
distintos.
1º Período
(1821 – 1834)
Começou aqui, e
dura até hoje, a rotação desenfreada dos governos nacionais, com a nomeação do
primeiro Ministro do Reino, Inácio da Costa Quintela, que exerceu o cargo entre
24 de Fevereiro de 1821 e 4 de Julho de 1821.
A pequena
duração do seu exercício – 4 meses e alguns dias – deu desde logo o diapasão do
que viria a acontecer nos 13 anos seguintes. Vejamos a vertigem dos
acontecimentos, com a indicação dos Ministros do Reino que se foram sucedendo:
Silvestre
Pinheiro Ferreira (4 de Julho de 1821
a 7 de Setembro de 1821)
Filipe
Ferreira de Araújo e Castro (7 de
Setembro de 1821 a
27 de Maio de 1823)
José António
Faria de Carvalho (27 de Maio de 1823 até 2 de Junho de 1823)
Joaquim Pedro
Gomes de Oliveira ( 2 de Junho de 1823 a 19 de Março de 1824
Manuel Inácio
Martins Pamplona Corte-Real, conde de Subserra - ?
Manuel
Joaquim Correia de Lacerda (15 de
Janeiro de 1825 a
1 de Agosto de 1826)
Francisco
Manuel Trigoso da Aragão Morato ( de Agosto de 1826 a 6 de Dezembro de
1826)
Luís Manuel de
Moura Cabral (6 de Dezembro de 1826
a 28 de Dezembro de 1826)
Francisco
Alexandre Lobo, Bispo de Viseu (28 de Dezembro de 1826 a 8 de Junho de 1827)
Manuel
Francisco de B. S. Mesquita Macedo Leitão Carvalhosa ( ? )
Carlos Honório
de Gouveia Durão (7 de Setembro de 1827 a 26 de Fevereiro de 1828)
D. Nuno
Caetano Àlvares Pereira de Melo, 6º duque do Cadaval (26 de Fevereiro de 1828 a 1 de Julho de 1831)
José António
de Oliveira Leite de Barros, 4º conde de Basto ( 1 de Julho de 1831 a ? )
António José
Guião ( ? )
Luís da Silva
Mouzinho de Albuquerque ( ? )
José António
Ferreira Brak-Lamy (2 de Julho de 1831 a 10 de Outubro de 1831)
José Dionísio
da Serra (10 de Outubro de 1831
a ? )
Pedro de Sousa
Holstein, duque de Palmela ( ? a 9 de Julho de 1832)
Luís da Silva
Mouzinho de Albuquerque ( 10 de Novembro de 1832 a 12 de Janeiro de
1833)
Cândido José
Xavier (12 de Janeiro de 1833
a 26 de Julho de 1833)
Joaquim
António de Aguiar (26 de Julho de 1833 a 28 de Abril de 1834)
Bento Pereira
do Carmo ( 28 de Abril de 1834
a 24 de Setembro de 1834)
Regista a História, neste período 23 Ministros do
Reino, com cinco deles a abranger o curto período da Regência da Infanta D.
Isabel Maria, estabelecida em 10 de Março de 1826 e finda a 26 de Fevereiro de
1828, quando a mesma foi entregue a seu irmão D. Miguel, como já se asssinalou.
Resultou desta
realidade que o tempo efectivo de cada ministério tenha sido o seguinte:
13 anos (x 12
meses) / 23 titulares = 6,8 meses.
2º Período
(1834 – 1910)
Começou este
longo período com as eleições de Julho de 1834. Porque os homens nada tinham
aprendido com as maquinações do período anterior, continuaram irredutíveis a
utilizar as mesmas armas do compadrio, subornos, violências e intimidações
pessoais. Apenas a oposição dos “vintistas” foi admitida, mas mesmo assim sem
que tenha sido dado à imprensa em tempos de campanhas eleitorais.
Esta fase da
política constitucional foi iniciada por Pedro de Sousa Holstein (Duque de
Palmela) pelos Liberais.(24/9/1834 – 27/5/1835) – (7 meses), seguindo-se-lhe:
D. Vitório
Maria S.C.T. Andrade Barbosa (Conde de Linhares) - ?
João Carlos
Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e Daun (Duque de
Saldanha) pelos Cartistas.(27/5/1835 -18/11/1835) – (6 meses)
José Jorge
Loureiro – (18/11/1835 -20/4/1836) – (4 meses)
António José
de Sousa Manuel de Menezes Severim de Noronha (Duque de Terceira) pelos
Cartistas (1ª vez) – (20/4/1836-10/9/1836) – (5 meses)
José da Gama
Carneiro e Sousa (Conde de Lumiares) – (10/9/1836 – 4/11/1836) – (2 meses)
José
Bernardino de Portugal e Castro (Conde
de Vimioso) – (4/11/1836 - 5/11/1836) (1 dia)
Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo (Marquês de
Sá da Bandeira), pelos Setembristas (1ª vez) – (5/11/1836 – 2/6/1837) – (6
meses)
António Dias de Oliveira – (2/6/1837 – 2 /8/37) –
(2 meses)
Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo (Marquês de
Sá da Bandeira), pelos Setembristas (2ª vez) – (2 /8/37– 18/4/39) – (19 meses)
Rodrigo de Almeida Carvalhais (Barão da Ribeira de
Sabrosa – (18/4/39 – 26/9/39) – (5 meses)
José Travassos Valdez (Conde e Barão de Bonfim
(26/9/39 – 9/7/1841) – (21 meses)
Joaquim António de Aguiar, pelos Liberais (1ª vez)
– (9/7/1841 – 7/2/1842) – (7 meses)
Pedro de Sousa Holstein (Duque de Palmela) pelos
Liberais. (2ª vez) – (7/2/1842 – 9/2/1842) – (2 dias)
António Bernardo da Costa Cabral (1º Conde e 1º
Marquês de Tomar), pelos Cartistas (1ª vez) – (9/2/1842 – 20/5/1846) – (50
meses)
Pedro de Sousa Holstein (Duque de Palmela) pelos
Liberais. (3ª vez) – (20/5/1846 – 6/10/1846) – (5 meses)
João Carlos
Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e Daun (Duque de
Saldanha) pelos Cartistas. (2ª vez) - (6/10/1846 – 18/6/1849) - (32 meses)
António Bernardo da Costa Cabral (1º Conde e 1º
Marquês de Tomar), pelos Cartistas (2ª vez) – (18/6/1849 – 26/4/1851) – (21
meses)
António José
de Sousa Manuel de Menezes Severim de Noronha (Duque de Terceira) pelos
Regeneradores (2ª vez) – (26/4/1851 – 1/5/1851) – (cerca de 1 mês)
João Carlos
Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e Daun (Duque de
Saldanha) pelos Regeneradores. (3ª vez) - (1/5/1851 – 6/6/1856) - (61 meses)
Nuno José
Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto (Duque de Loulé) pelos Históricos
(6/6/1856 – 16/3/1859) – (32 meses)
António José
de Sousa Manuel de Menezes Severim de Noronha (Duque de Terceira) pelos
Regeneradores (3ª vez) – (16/3/1859 – 1/5/1860) – (14 meses)
Joaquim António de Aguiar, pelos Regeneradores (2ª
vez) – (1/5/1860 – 4/7/1860) – (2 meses)
Nuno José
Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto (Duque de Loulé) pelos Históricos –
(2ª vez) - (4/7/1860 – 17/4/1865) – (57 meses)
Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo (Marquês de
Sá da Bandeira), pelos Setembristas (3ª vez) – (17/4/1865 – 4/9/1865) – (5
meses)
Joaquim António de Aguiar, pela coligação
Regeneradores/Históricos, no “Governo da Fusão” (3ª vez) – (4/9/1865 –
4/1/1868) – (28 meses)
António José da Ávila ) Duque de Ávila e Bolama –
(1ª vez) –(4/1/1868 – 22/7/1868) – (6 meses)
Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo (Marquês de
Sá da Bandeira), pelos Reformistas (4ª vez) – (22/7/1868 – 11/8/1869) – (13
meses)
Nuno José
Severo de Mendonça Rolim de Moura Barreto (Duque de Loulé) pelos Históricos
(11/8/1869 – 19/5/1870) – (8 meses)
João Carlos
Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e Daun (Duque de
Saldanha) pelos Regeneradores. (4ª vez) - (19/5/1870 – 29/8/1870) - (3 meses)
Bernardo de Sá
Nogueira de Figueiredo (Marquês de Sá da Bandeira), pelos Reformistas (5ª vez)
– (29/8/1870 – 29/10/1870) – (2 meses)
António José da Ávila ) Duque de Ávila e Bolama –
2ª vez) –(29/10/1870 – 13/9/1871) – (11 meses)
António Maria de Fontes Pereira de Melo, pelos
Regeneradores – (1ª vez) – (13/9/1871 – 6/3/1877) – (66 meses)
António José da Ávila ) Duque de Ávila e Bolama –
3ª vez) –(6/3/1877 –26/1/1878) – (10meses)
António Maria de Fontes Pereira de Melo, pelos
Regeneradores – (2ª vez) – (26/1/1878 – 29/5/1879) – (15 meses)
Anselmo José Braamcamp, pelos Progressiatas
(29/5/1879 – 23/3/1881) – (22 meses)
António Rodrigues Samapaio, pelos Regeneradores
(23/3/1881 – 14/11/1881) – (8 meses)
António Maria de Fontes Pereira de Melo, pelos
Regeneradores – (1ª vez) – (14/11/1881 – 16/2/1886) – (51 meses)
José Luciano de Castro, pelos Progressistas (1ª
vez) – (16/2/1886 – 14/1/1890) – (47 meses)
António de Serpa Pimentel. pelos Regeneradores
(14/1/1890 – 11/10/1890) – (9 meses)
João Crisóstomo de Abreu e Sousa – Militar –
(11/10/1890 – 18/1/1890) - (13 meses)
José Dias Ferreira (18/1/1890 – 22/2/1893) – (13
meses)
Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro, pelos Regeneradores
– (1ª vez) - (22/2/1893 – 5/2/1897) – (48 meses)
José Luciano de Castro, pelos Progressistas (2ª
vez) – (5/2/1897 – 26/7/1900) – (40 meses)
Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro, pelos Regeneradores
– (2ª vez) - (26/7/1900 – 20/10/1904) - (51 meses)
José Luciano de Castro, pelos Progressistas (3ª
vez) – (20/10/1904 – 19/3/1906) – (16 meses)
Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro, pelos Regeneradores
– (3ª vez) - (19/3/1906 – 19/5/1906) - (2 meses)
João Franco Pinto Castelo Branco, pelos
Regeneradores/Liberais (19/5/1906 – 4/2/1908) – (21 meses)
Francisco Ferreira do Amaral (4/2/1908 – 26/12/1908) – (10 meses)
Artur de Campos Henriques (26/12/1908 – 11/4/1909) – (4 meses)
Sebastião Custódio de Sousa Teles (11/4/1909 – 14/5/1909) – (1 mês)
Venceslau de Sousa Pereira de Lima (14/5/1909 –
22/12/1909) – (7 meses)
Francisco António de Veiga Beirão (22/12/1909 –
26/6/1910) – ( 6 meses)
António Teixeira de Sousa (26/6/1910 – 4/10/1910) –
(4 meses) – este é o último Governo da Monarquia Constitucional.
No dia 5 de Dezembro de 1910 cai, por força da Revolução republicana.
A História
regista 55 titulares para 76 anos, donde o tempo de duração de cada ministério
foi o seguinte:
76 anos (x 12
meses) / 55 titulares = 16,6 meses.
Terceiro
Capítulo
Quedas e substituição de Governos
nos Regimes Republicanos
nos Regimes Republicanos
Nota Introdutória
Tal como foi feito nos capítulos
precedentes, segue-se uma cronologia dos acontecimentos dando deles, na parte
que respeita às quedas e substituição de governos, pequenas notícias de
esclarecimento históricos e com a aferição dos tempos de duração dos mandato.
1º Período – Governo Provisório (6/10/1910
até 4/9/1911)
O Governo
Provisório, chefiado por Teófilo Braga, teve por incumbência a preparação de
eleições para a formação da Assembleia Constituinte. Este órgão preparou uma
nova Constituição, a qual ficou conhecida pelo nome de Constituição Republicana
de 1911 e cujo texto foi aprovado em 19 de Agosto do mesmo ano.
Foi um tempo
da caça às bruxas, donde avulta a prisão, na sua quinta de Sintra, de
João Franco – antigo Primeiro Ministro – e que, segundo refere Fialho de
Almeida no seu livro “Saibam
quantos...”, saíu do
Tribunal da Boa Hora perseguido por uma escolta daquela turbamulta das ruas
que, segundo parece, é quem governa e dirige agora as acções do governo
republicano.
2º Período – Primeira República (1911 – 1926)
A Primeira
República começou com a nomeação do primeiro Governo Constitucional, dirigido
por João Chagas e com a oposição de um grupo liderado por Afonso Costa. Logo a
21 de Setembro de 1911, o Partido Republicano Português divide-se em quatro
tendências: democráticos ou radicais, dirigidos por Afonso Costa, unionistas,
dirigidos por Brito Camacho, evolucionistas, de António José de Almeida e
independentes.
Um mês, depois, em 20 de Outubro, António José de
Almeida, Ministro do Interior, é vaiado no Rossio e abandona o Partido
Republicano. Não tardou que o Governo caísse, sendo substituído em 13 de
Novembro com a nomeação de Augusto de Vasconcelos, que sobreviverá
políticamente até 16 de Junho de 1912.
A saga
continuou neste passo com Portugal a afundar-se até 1926 devido à crónica
instabilidade governativa, pois tanto o Presidente da República como o Governo,
para não serem demitidos, precisavam de ter no Parlamento uma maioria de
deputados que os apoiasse. Isso raramente acontecia porque os deputados estavam
frequentemente em desacordo.
Por isso,
neste período de 15 anos a maioria dos Presidentes da República não cumpriram
os 4 anos de mandato que a Constituição estipulava, sendo os Governos
substituídos constantemente sem que tivessem tempo de concretizar medidas
importantes para o desenvolvimento do País.
Citando,
ainda, Fialho de Almeida e o mesmo livro, diz aquele autor: A República faliu
pela incapacidade de três gerações de políticos inábeis (...), não
poupando, como se infere desta afirmação, todo o período da Monarquia
Cosnstitucional.
A História
regista, para o período de vigência da Primeira República, os seguintes
Presidentes do Ministério:
1911 – João Pinheiro Chagas – governou 2 meses
Augusto de Vasconcelos Correia
– governou cerca de 7 meses
1912 - Duarte Leite Pereira da Silva – governou 7
meses
1913 - Afonso Augusto da Costa – governou 1 mês
1914 - Bernardino Machado – governou 10 meses
Azevedo Coutinho – governou 1
mês
1915 - Pimenta de Castro – governo militar,
durante 4 meses
Junta Constitucional - governo militar durante 3 dias, constituído
por:
José
Maria Norton de Matos
António
Maria da Silva
João Pinheiro Chagas – 1 só dia
José Ribeiro de Castro –
governou 6 meses
Afonso Augusto da Costa –
governou 5 meses
1916 - António José de Almeida – governou durante
13 meses
1917 - Afonso Augusto da Costa – governou 7 meses
Sidónio Pais – governou cerca
de 12 meses
1918 - João de Canto e Castro – governou 9 dias
Tamagnini de Sousa Barbosa –
governo militar – cerca de 1 mês
1919 - Paiva Couceiro – Governo
militar/monárquico – cerca de 1 mês
José Carlos Relva – governou 2 meses
Domingos Leite Pereira –
governou 3 meses
Alfredo Ernesto de Sá Cardoso –
governou 6 meses
1920 - Fernandes da Costa – 1 dia
Alfredo Ernesto de Sá Cardoso –
6 dias
Domingos Leite Pereira –
governou 2 meses
António Maria Baptista –
governou 3 meses
José Ramos Preto – cerca de 20
dias
António Maria da Silva – cerca
de 1 mês
António Joaquim Granjo –
governou 4 meses
Àlvaro Xavier de Castro – 10 dias
Liberato
Damião Ribeiro Pinto – governou 3 meses
1921 - Bernardino Machado – governou cerca de 3
meses
Tomé José de Barros Queirós -
governou cerca de 3 meses
António Joaquim Granjo –
governou cerca de 2 meses
António Manuel Maria Coelho –
governo militar – cerca de 1 mês
Carlos Maia Pinto - governo
militar – 1 mês
1922 - Francisco Pinto da Cunha Leal – governou 2
meses
António Maria da Silva –
governou 20 meses (é o governo mais longo)
1923 - António Ginestal Machado – governou 1 mês
Àlvaro Xavier de Castro –
governou 6 meses
1924 - Alfredo Rodrigues Gaspar – governou 5 meses
José Domingos dos Santos –
governou 3 meses
1925 – Carvalho Guimarães – governou 4 meses
António Maria da Silva –
governou 1 mês
Domingos Leite Pereira –
governou 4 meses
António Maria da Silva –
governou 6 meses, até à instauração da Ditadura Militar
Desta sucessão
invulgar de acontecimentos políticos somam-se 44 Presidentes do Ministério
(Primeiros-Ministros) para 15 anos,
donde o tempo de duração de cada ministério foi o seguinte:
15 anos (x 12
meses) / 44 titulares = 4,1 meses.
Portugal republicano
perdera o crédito e, mesmo, muitos daqueles que haviam aplaudido na
desconsciência colectiva que se gerara contra os desmandos monárquicos,
sentiam-se defraudados nas suas expectativas legítimas pelo estado de miséria
moral e colectiva a que se chegara.
Portugal era
um País à deriva.
A Ditadura
espreitava... e veio a acontecer!
3º Período – Ditadura Militar (1926 – 1932)
Tal estado de
coisas culminou com o derrube da Primeira República, consumado pelo golpe de
Estado de 28 de Maio de 1926. Este golpe foi sustentado por uma ditadura
militar, a qual se manteve até à entrada em vigor da Cgnstituição de 1933,
quando se instaurou o chamado Estado Novo.
Aconteceu isto
por força de uma sedição militar iniciada em Braga por Gomes da Costa e
coordenada em Lisboa por Mendes Cabeçadas, ligado à União Liberal Republicana.
A Revolução
teve inicialmente o apoio de variadas facções, como a dos anarco-sindicalistas
e o movimento "católico social", que teve como instituição de apoio
no meio escolar o Centro Académico de Democracia Cristã (C.A.D.C.), a que se
juntaram integralistas, republicanos, conservadores e monárquicos mas cujos
líderes foram sucessivamente devorados.
Mendes
Cabeçadas (José), um oficial da marinha que já havia trabalhado activamente na
implantação da República, em 1910,
a convite de Bernardino Machado forma o primeiro governo
da ditadura militar. Para além de Presidente do Ministério chamou a si a pasta
da Marinha. Exerceu o cargo entre 30 de Maio de 1926 a 19 de Junho de 1926.
Em 3 de Junho remodela o governo entregando a pasta das Finanças, pela primeira
vez, a Oliveira Salazar.
Gomes da Costa
(Manuel de Oliveira) chefiou o Governo entre 19 de Junho de 1926 e 9 de Julho
de 1926. Havia sido este oficial quem, a pedido de Sinel de Cordes, comandara o
golpe militar de 28 de Maio de 1926. Entra em Lisboa a 6 de Junho daquele mesmo
ano, afasta Mendes Cabeçadas e assume a Presidência do Ministério e ao mesmo
tempo a Chefia do Estado.
Na sequência,
de 9 de Julho até 18 de Abril de 1928 o Governo foi chefiado por Carmona (António
Óscar de Fragoso). Carmona foi o catalisador do afastamento de Gomes da Costa,
passando a acumular a chefia do Estado (eleito por sufrágio directo em 25 de
Março de 1928) e a chefia do Ministério. Foi fundamental o seu papel durante o
conturbado processo político-militar que ergueu de vez para a ribalta política
a figura de Salazar, pela segunda vez Ministro das Finanças e que viria a ter
um papel determinante na institucionalização do Estado Novo.
Vicente de
Freitas (José) sucedeu na chefia do Governo, entre 18 de Abril de 1928 e 8 de
Julho de 1929. Era oficial do exército. Havia sido Governador da Madeira (1914)
e Presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Era o chefe da ala republicana no
28 de Maio e foi o inspirador da União Nacional.
Entre 8 de
Julho de 1929 e 21 de Janeiro de 1930, o Governo foi chefiado por
Ivens Ferraz (Artur). Era oficial de artilharia e havia sido Governador de
Moçambique.
Domingos da
Costa e Oliveira, entre 21 de Janeiro de 1930 a 5 de Julho de 1932. Era oficial General.
Em 30 de Julho de 1930 decreta o estabelecimento da União Nacional como o
partido único da Ditadura. Por proposta de Pimenta de Castro é-lhe confiada a
movimentação golpista ensaiada em 21 de Dezembro de 1932.
Eram tempos
efectivamente conturbados. De facto, mesmo a Ditadura Militar, em seis anos,
conheceu outros tantos líderes como Presidentes do Governo, ou seja, a média de
um titular para cada 12 meses.
4º Período - O Estado Novo (1932 – 1974) – Segunda
República
É um longo período que abarca o tempo
decorrido entre 5 de Julho de 1932 e 25 de Abril de 1974.
Cabe ao Dr. António de Oliveira Salazar exercer
ininterruptamente o poder até 25 de Setembro de 1968 (36 anos) sucedendo-lhe o
Dr. Marcello Caetano até ser derrubado pelo golpe militar de 25 de Abril de
1974 (6 anos).
Nesta breve
análise, cuja temática é aferir o tempo efectivo de cada Governo – e por isso
se designa “A Dança das Cadeiras”
- é por demais evidente que este período ditatorial, assinala pela grande
duração temporal e pela forma como nele foi exercido o poder, um marco
controverso, que acicatou os ódios à solta de uns e aferroou o seguidismo mais
rasteiro de outros, tendo feito carreira ambas as atitudes.
Não cabe aqui
julgá-las.
5º Período -
Regime Democrático
Terceira República
(desde 25 de Abril de 1974)
Com a queda do
regime ditatorial, iniciou-se em Portugal o regime democrático no qual o poder
e a responsabilidade cívica são exercidos por todos os cidadãos, directamente
ou através dos seus representantes livremente eleitos.
Vejamos como
se tem processado a rotação dos governos desde 1974, com a indicação dos nomes
dos Primeiros-Ministros e tempos no exercício do cargo, até ao Governo do Dr.
Pedro Santana Lopes, tendo-se em conta que o Governo posterior ao deste último
está em funções.
1 – Dr.
Adelino da Palma Carlos (16 de Maio de 1974 – 18 de Julho de 1974) – 2 meses
2 – Gen.Vasco
dos Santos Gonçalves (18 de Julho de 74 – 19 de Setembro de 1975) – 14 meses
3 – Com. José
Pinheiro de Azevedo (19 de Setembro de 1975 – 23 de Julho de 1976) – 9 meses
4 – Dr. Mário
Soares (1ª vez) – (23 de Julho de 1976 – 28 de Agosto de 1978) – 25 meses
5 –
Eng.Alfredo Nobre da Costa (28 de Agosto de 1978 – 22 de Novembro de 1978) – 3
meses
6 – Dr. Carlos
Mota Pinto (22 de Novembro de 1978 – 1 de Agosto de 1979) – 8 meses
7 – Engª Maria
de Lourdes Pintassilgo (1 de Agosto de 1979 – 3 de Janeiro de 1980) – 5 meses
8 – Dr.
Francisco Sá Carneiro (3 de Janeiro de 1980 – 4 de Dezembro de 1980) – 11 meses
9 – Dr. Diogo
Freitas do Amaral (4 de Dezembro de 1980 – 9 de Janeiro de 1981) – 1 mês
(Nota: por força da morte do Dr.
Francisco Sá Carneiro)
10 – Dr.
Francisco Pinto Balsemão (9 de Janeiro de 1981 – 9 de Junho de 1983) – 28 meses
11 – Dr. Mário
Soares (2ª vez) – ( 9 de Junho de 1983 – 6 de Novembro de 1985) – 29 meses
12 – Dr.
Aníbal Cavaco Silva ( 6 de Novembro de 1985 – 28 de Outubro de 1995) – 119
meses
13 – Eng.
António Guterres (28 de Outubro de 1995 – 6 de Abril de 2002) – 78 meses
14 – Dr. José
Durão Barroso (6 de Abril de 2002 – 17 de Julho de 2004) – 27 meses
15
- Dr. Pedro Santana Lopes (17 de Julho de 2004 –
Março de 2005) – 8 meses
Resulta assim
que entre 1974 e 2005 (31 anos) Portugal conheceu 15 Primeiros-Ministros, o que
equivale a uma duração média de cada Governo:
31 anos (x 12
meses) / 15 titulares = 24,8 meses.
Conclusão
Nota Introdutória
O presente trabalho de análise não tem
quaisquer sentido derrotista mas tão só a apresentação de elementos históricos
de causas e efeitos, com o desejo de constituírem uma base de reflexão para
todos aqueles que se derem ao cuidado de os lerem e meditarem, no sentido –
porque a inversão das coisas depende sempre dos homens – de que Portugal
caminhe mais solidamente, para bem do futuro das gerações mais novas a quem
temos o dever e o direito de transmitir a renovação das estruturas
político-sociais, por forma a darmos continuidade às reformas que se vão
fazendo.
O desfecho deste trabalho não apresenta para
qualquer dos períodos analisados – com a excepção do tempo do Estado Novo, mas
que não serve de exemplo - dados que abonem a favor quer do regime
constitucional-monárquico, quer do actual regime democrático, sendo que neste
último merecem um especial realce dois Primeiros-Ministrios: Dr. Aníbal Cavaco
Silva (119 meses) e Eng. António Guterres (78 meses), já que todos os outros,
por razões diversas, dão uma imagem negativa do modo como na era democrática
tem sido exercido o poder no que respeita à duração dos mandatos, uma base
indispensável para o progresso nacional que de modo algum tem sido cumprida.
A duração
média dos Governos no período democrático (24,8 meses por titular) é
melhor que a registada nos conturbados tempos da Monarquia Constitucional (16,6
meses por titular), mas a diferença não é de molde a que se registem evoluções
significativas. Este facto, que é uma realidade histórica, prova como nos
tempos de hoje, vivendo em Democracia plena, pouco evoluímos em relação a um
tempo quase de aprendizagem política, como foi o do século XIX e alguns anos do
século XX, mais concretamente o do período entre 1834 e 1910.
Como súmula
final, apresentam-se os tempos cometidos a cada um dos períodos, número de
titulares que exerceram o poder governativo, anos por exercício e conversão
destes a meses.
(1821-
1910) – Monarquia Constitucional
1º Período (1821 – 1834) - 13 anos (x 12
meses) / 23 titulares = 6,8 meses.
2º Período (1834 – 1910) - 76 anos (x 12
meses) / 55 titulares = 16,6 meses.
(1910 – 2005)
– I , II e III Repúblicas:
1º Período – Governo Provisório (6/10/1910
até 4/9/1911)
2º Período – Primeira República (1911 – 1926) - 15 anos (x 12
meses) / 44 titulares = 4,1 meses.
3º Período – Ditadura Militar (1926 – 1932) 6 anos (x 12
meses) / 6 titulares = 12,0 meses
4º Período - O Estado Novo
(1932 – 1974) – Segunda República (2 titulares)
Neste período assinalam-se apenas dois titulares: Dr. Oliveira Salazar - 36 anos, e Dr. Marcello Caetano - 6 anos.
5º Período - Regime Democrático – Terceira República
(desde 25 de Abril de 1974)
31 anos (x 12 meses) / 15 titulares = 24,8 meses
Nota: Este cálculo remete para Março de 2005.
Em face de tudo quanto expusemos, estamos perante
um facto que deve ser meditado.
Entre 1821 e 2005 (184 anos), Portugal conheceu,
entre Ministros do Reino e Primeiros-Ministros, um total de 146 titulares,
donde se conclui que a dança das cadeiras
tem sido de tal forma rotativa que este facto explica, por si mesmo, muito do
atraso sócio-político em que nos encontramos, fruto de uma evidente falta de
civismo democrático e onde, com algum espanto, cabem os tempos após a Revolução
de Abril de 1974.
Aliás, será importante referir que enquanto em
Portugal, desde 1974, se registam 15 titulares no cargo de Chefes do Executivo
– sem contar com o actual, Eng. José Sócrates, em exercício – no mesmo período
a nossa vizinha Espanha conta com apenas 4 titulares!
Fevereiro de
2006
Grande parte deste trabalho resulta de um aturado trabalho de apontamentos escritos durante anos e encontrados num acervo familiar em que o trabalho de recolha de dados se foram fazendo de notícias dispersas e que, tentamos alinhar por épocas históricas.
Não podemos deixar de assinalar a preciosa consulta feita nos textos via NET do distinto académico, Prof. Dr. José Adelino Maltês, que foi uma fonte preciosa na cronologia dos acontecimentos históricos que reproduzimos, mormente os cometidos ao século XIX, e a quem agradecemos penhoradamente.
Não podemos deixar de assinalar a preciosa consulta feita nos textos via NET do distinto académico, Prof. Dr. José Adelino Maltês, que foi uma fonte preciosa na cronologia dos acontecimentos históricos que reproduzimos, mormente os cometidos ao século XIX, e a quem agradecemos penhoradamente.
(1) - William Carr Beresford
(Irlanda, 1768 — 8 de Janeiro de 1854) foi um militar britânico, marechal
(1809) e depois marechal-general (1816) do Exército português. Foi comandante
em chefe durante toda a Guerra Peninsular, de Março de 1809 à revolução liberal
de 1820, gozando de poderes de governação dada a ausência da Corte portuguesa,
refugiada no Brasil (1808-1821). Foi em Portugal Marquês de Campo Maior, título
recebido por decreto de 17 de dezembro de 1812 de D. Maria I, e Conde de
Trancoso, e Visconde de Beresford na Grã-Bretanha. Era de grande estatura e
corpulento, sendo a presença realçada por um rosto muito irregular e de
aparência algo sinistra, pois tinha o olho esquerdo vazado por um tiro, o que
surpreendia os interlocutores. Nomeado Marechal do Exército em Março de 1809
pelo Conselho de Regência, Beresford aproveitou a reorganização das forças
militares criada por D. Miguel Pereira Forjaz, para a adaptar ao serviço de
campanha do exército britânico
(2) - Foi esta casa das mais
nobres do reino; tem a mesma varonia que a de Bragança, porque descende de D.
Álvaro, 4.º filho de D. Fernando, 2.º duque de Bragança e de sua mulher, D.
Joana de Castro, filha de D. João de Castro, Senhor de Cadaval. Na descendência
de D. Álvaro, contam-se os títulos de marquês de Ferreira, conde de Tentúgal,
duque de Cadaval
(3) - O movimento articulado n Porto (...) eclodiu no dia 24 de Agosto de 1820. Ainda de madrugada,
grupos de militares dirigiram-se para o campo de Santo Ovídio (atual Praça da
República), onde formaram em parada, ouviram missa e uma salva de artilharia
anunciou públicamente o levante. Às oito horas da manhã, os revolucionários
reuniram-se nas dependências da Câmara Municipal, onde constituíram a
"Junta Provisional do Governo Supremo do Reino".
(4) - A Constituição Política da
Monarquia Portuguesa aprovada em 23 de Setembro de 1822 foi a primeira lei
fundamental portuguesa e o mais antigo texto constitucional português, o qual
marcou uma tentativa de pôr fim ao absolutismo e inaugurar em Portugal uma monarquia
constitucional. Apesar de ter estado vigente apenas durante dois efémeros
períodos - o primeiro entre 1822 e 1823, o segundo de 1836 a 1838, - foi um marco
fundamental para a História da democracia em Portugal, e qualquer estudo sobre
o constitucionalismo terá que a ter como referência nuclear.1 Foi substituida
pela carta constitucional da monarquia portuguesa de 1826.
(5) - Chamou.se assim o partido
dos apoiantes do rei D. João VI.
(6) - O Palácio da rainha D. Carlota
Joaquina, ou quinta do Ramalhão tornou-se o principal foco da intriga
absolutista, e à rainha é imputada enorme responsabilidade nos projectos dos
principais levantamentos reaccionários dos anos 1820 (a Vilafrancada, de 1823,
e a Abrilada, de 1824), que procuraram abolir o constitucionalismo, afastar D.
João VI do governo e colocar no trono o Infante D. Miguel, seu filho direto, a
quem ela educara.
(7) - Teve uma carreira naval que
ultrapassou os 54 anos de serviço activo. Durante esse período serviu nas
Guerras Napoleónicas, na Guerra da Síria, na Guerra da Crimeia e na Guerra
Civil Portuguesa, para além de outros conflitos menores.
(8) - Em Portugal assumiu em 1833
o comando da esquadra liberal, tendo, então, adoptado o nome de Carlos de Ponza
para não perder a sua patente na armada inglesa por combater no estrangeiro sem
licença do seu Governo. Ao comando da pequena armada liberal, a 5 de Julho
desse ano obteve uma vitória decisiva na Batalha do Cabo de São Vicente,
vencendo o almirante Manuel António Marreiros, comandante da esquadra
miguelista.
(9) - Patuleia, ou Guerra da
Patuleia, é o nome dado à guerra civil entre Cartistas e Setembristas na
sequência da Revolução da Maria da Fonte. Foi desencadeada em Portugal pela
nomeação, na sequência do golpe palaciano de 6 de Outubro de 1846, conhecido
pela Emboscada, de um governo claramente cartista presidido pelo marechal João
Oliveira e Daun, Duque de Saldanha. A guerra civil teve uma duração de cerca de
oito meses, opondo os cartistas (com o apoio da rainha D. Maria II) a uma
coligação contra-natura que juntava setembristas a miguelistas. A guerra
terminou com uma clara vitória cartista, materializada a 30 de Junho de 1847
pela assinatura da Convenção de Gramido, mas apenas após a intervenção de
forças militares estrangeiras ao abrigo da Quádrupla Aliança.
(10) - Maria da Fonte, ou
Revolução do Minho, é o nome dado a uma revolta popular ocorrida na primavera
de 1846 contra o governo cartista presidido por António Bernardo da Costa
Cabral. A revolta resultou das tensões
sociais remanescentes das guerras liberais, exacerbadas pelo grande
descontentamento popular gerado pelas novas leis que se lhe seguiram de
recrutamento militar, por alterações fiscais e pela proibição de realizar
enterros dentro de igrejas. Iniciou-se na zona de Póvoa de Lanhoso
(Minho) por uma sublevação popular que se foi progressivamente estendendo a
todo o norte de Portugal. A instigadora dos motins iniciais terá sido uma
mulher do povo chamada Maria, natural da freguesia de Fontarcada, que por isso
ficaria conhecida pela alcunha de Maria da Fonte. Como a fase inicial do
movimento insurreccional teve uma forte componente feminina, acabou por ser
esse o nome dado à revolta.
(11) - Regeneração é a designação
dada ao período da Monarquia Constitucional portuguesa que se seguiu à
insurreição militar de 1 de Maio de 1851 que levou à queda de Costa Cabral e
dos governos de inspiração setembrista. Apesar do ministério que resultou do
golpe ser presidido pelo marechal Saldanha, o principal personagem da
Regeneração foi Fontes Pereira de Melo. Embora não possa ser claramente
delimitada no tempo, o período da Regeneração durou cerca de 17 anos,
terminando com a revolta da Janeirinha, em 1868, que levou o Partido Reformista
ao poder. A Regeneração foi caracterizada pelo esforço de desenvolvimento
económico e de modernização de Portugal, a que se associaram pesadas medidas
fiscais.
(12) - A Comuna de Paris foi o
primeiro governo operário da história, fundado em 1871 na capital francesa por
ocasião da resistência popular ante a invasão por parte do Reino da Prússia. A
história moderna regista algumas experiências de regimes comunais, impostos
como afirmação revolucionária da autonomia da cidade. A mais importante delas —
a Comuna de Paris — veio no bojo da insurreição popular de 18 de março de 1871.
Durante a guerra franco-prussiana, as províncias francesas elegeram para a
Assembleia Nacional Francesa uma maioria de deputados monarquistas francamente
favorável à capitulação ante a Prússia. A população de Paris, no entanto,
opunha-se a essa política. Louis Adolphe Thiers, elevado à chefia do gabinete
conservador, tentou esmagar os insurrectos. Estes, porém, com o apoio da Guarda
Nacional, derrotaram as forças legalistas, obrigando os membros do governo a
abandonar precipitadamente Paris, onde o comitê central da Guarda Nacional
passou a exercer sua autoridade. A Comuna de Paris — considerada a primeira
república proletária da história — adoptou uma política de carácter socialista,
baseada nos princípios da Primeira Internacional dos Trabalhadores.
(in, WIkipédia)
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