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sábado, 15 de junho de 2013

O boato e os três cadinhos da verdade


O BOATO
E OS TRÊS CADINHOS DA VERDADE
 (Paráfrase de uma história conhecida)
O cadinho, como é sabido, é um vaso metálico que os fundidores usam para depurar os metais, livrando-os das escórias nocivas que alteram a verdade das ligas que se pretendem obter, dando-lhes  autenticidade e, logo, o respectivo valor comercial.

O que há de similitude entre o boato e o vaso do fundidor? – perguntar-se-á.

Muita coisa. Vejamos porquê.


Num certo dia Zeferino – tido como alguém para quem o boato tinha foros de certeza e, como tal, o contava ao primeiro amigo que se dispusesse a ouvi-lo – encontrou o Jorge e de uma arremetida, sussurrou-lhe ao ouvido:

- Então, já sabes... tu nem imaginas o que me disseram...

Foi aqui, que o Jorge, conhecedor dos caprichos do outro, o atalhou de imediato:

- Espera aí. Isso que me vais contar já o passaste pelos três cadinhos da verdade?

Zeferino coçou a cabeça e respondeu, perguntando:

- O que é isso dos três cadinhos?... A modos que não te estou a entender.

É muito simples, riposta-lhe o Jorge:

- O primeiro é o da verdade. Tens a absoluta certeza que o facto que me queres contar é irrefutavelmente, uma verdade?

- Não. Eu queria contar-te, simplesmente, o que me disseram...

- Então, espera aí. Não tendo tu a certeza, a tua história arrisca-se a não ser verdadeira... mas há mais: será que a fizeste passar pelo segundo cadinho, o da caridade?

- Que é isso? Continuo sem entender...


- Não me entendes e, no entanto, tudo continua a ser simples. O cadinho da caridade, é precisamente aquele onde nos devemos colocar, pensando se aquilo que dizem de nós, havia de fazer algum proveito a nós mesmos. Será que gostarias que dissessem de ti coisas que te magoavam?

- É evidente, que não – responde, confundido, o Zeferino.

- Então, diz-lhe o outro, na tua história estando faltando a caridade, logo ela não passou pelo segundo cadinho.

Foi o momento em que o Jorge desferiu a pergunta final:


- Mas falta ainda à tua história um detalhe importante. É a sua passagem pelo cadinho da necessidade. Será que é mesmo necessário que a contes, ou pelo contrário, ela deve merecer um pouco mais de atenção?


Neste ponto, o Zeferino, sem parar de coçar a cabeça e admirado com a sabedoria do Jorge, num repente de lucidez, acrescentou:

- Tens razão, amigo. Já entendi como é preciso que qualquer conto, antes de ser tido como verdadeiro tem de passar pelos três cadinhos: o da verdade, o da caridade e o da necessidade. Como eu descurei tudo isso, vejo que de facto, nada tenho para te contar.

O mundo seria, efectivamente, mais aprazível e concertado se os homens antes de lançarem o boato, que tantas vezes esmaga sem remédio uma vida, manchando-a para sempre, aprendessem a bela lição do Jorge.

           

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