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segunda-feira, 10 de junho de 2013

A Revolta de Maria da Fonte




Revolta de Maria da Fonte, é o nome por que ficou conhecido para a História de Portugal um movimento popular com origem em terras do Minho, segundo se crê, em Fonte Arcada, Póvoa de Lanhoso, contra medidas do governo de Costa Cabral, dando origem a um grande descontentamento que rapidamente alastrou para terras vizinhas: Travessós, Simães, Gafe, S. Paio e Santo André de Frades.

A origem esteve – como é reconhecido historicamente - numa lei que criava novos impostos tributários e, especialmente, um decreto de 26 de Novembro de 1845 de reorganização da saúde pública, que impunha o enterro nos cemitérios, indo ao encontro de outros anteriores, como e o de 21 de Setembro de 1835, em pleno regime cartista.
O primeiro levantamento popular ocorreu no dia 19 de Março de 1846.
Além da conhecida Maria da Fonte estavam conluiadas com ela, segundo a tradição, outras mulheres do povo, todas grandes admiradoras da Rainha D. Maria II mas inimigas da política autoritária  do Ministro do Reino, Costa Cabral e das leis do seu gabinete que impunham obrigações pesadas ao povo.    
    
Esta ocorrência originou uma sangrenta luta civil que ficou conhecida como a guerra da patuleia (patas ao léu), tendo originado que concelhos inteiros se hajam tornado insubmissos, como Arcos de Valdevez, Ponte da Barca, Ponte de Lima, Viana do Castelo, Celorico de Basto e Póvoa de Lanhoso, um facto que deu aso a que aparecessem  localidades prontas a revoltar-se, como Chaves, Vinhais, Aveiro, Cantanhede, Figueira da Foz, Montemor-o-Velho, Poiares, Abrantes, e Portalegre, tendo-se, por fim,  formado Juntas revoltosas devidamente organizadas em Vila Real, Lamego, Viseu, Coimbra, Leiria, Batalha, Alcobaça, Nazaré, Caldas da Rainha, Peniche, Santarém e Évora.

Vendo-se incapaz de dominar a situação que alastrava tentacularmente desde o Minho, Beiras, Estremadura e já caminhava para o Sul, A Rainha D. Maria II, muito embora tivesse em alta consideração o Ministro do Reino, Costa Cabral, cuja linha dura de governo era bem conhecida, mas igualmente reconhecido o seu labor no desenvolvimento do País, sobretudo nas Obras Públicas e reformas administrativas, demitiu-o em 17 de Maio de 1846, três meses depois do início da revolta, possivelmente, em Fonte Arcada, sob o impulso de Maria da Fonte.

Resultou de tudo isto que o Duque de Palmela tenha sido chamado para organizar um Ministério de coligação formado por cartistas e setembristas da ala moderada que não trouxe nenhuns benefícios ao País, pesasse, embora, a recomposição operada em 19 de Julho com a entrada de Sá da Bandeira e Joaquim António de Aguiar.
A situação política de extrema fraqueza governativa, obrigou Palmela a demitir-se em Outubro de 1846, dando lugar com todo o apoio de D. Maria II,  ao Marquês de Saldanha que reorganizou um Ministério em que foi prometido manter as demissões dos ministros afastados pela revolta de Maria da Fonte – os Cabrais – e a abolição dos impostos reclamados pela revolta.

Têm existido dúvidas sobre a existência real de Maria da Fonte, mas a aura desta façanha tem tido em Póvoa de Lanhoso, terras circunvizinhas e por todo o lado, uma grande aceitação popular, tendo originado uma obra de grande envergadura de Camilo Castelo Branco – Maria da Fonte  - que é uma crítica mordaz e, até, impiedosa dos acontecimentos, sem nos dizer, ao certo, a localidade de nascimento da heroína popular, muito embora, no seu jeito romanesco o grande escritor lhe haja atribuído a possibilidade de ser natural de Fonte Arcada, segundo informações recebidas de um seu correspondente, José Joaquim Ferreira de Melo e Andrade.(1)

Regista-se, no entanto, ser aceite, que Maria da Fonte nasceu no lugar do Barreiro, freguesia de Fonte Arcada.
O que conta é que Maria da Fonte entrou na História, tendo o movimento insurreccional que originou influído decisivamente no curso político da era liberal, gerando no povo minhoto uma estima compreensível, que tem muito de afecto por alguém que no século XIX ergueu bem alto a sua discórdia contra os “cabrais”.
Em tempos, mão amiga fez-me chegar um texto oriundo de alunos das Escola EB 2,3 Gonçalo Sampaio, de Póvoa de Lanhoso, que pela sua originalidade,  candura  e beleza  descritiva, se reproduz na íntegra:

A Revolução da Maria da Fonte foi a 22 de Março de 1846. Além da conhecida Maria da Fonte havia outras tão boas como ela que eram Joana Esteves de Oliveira e Maria Angelina de Galegos.
O Povo adorava a sua Rainha D. Maria II, mas detestava o Ministro Costa Cabral e as suas Leis, que impunham obrigações à vida do povo. Para piorar a situação foi imposta uma lei que proibia que os mortos fossem enterrados dentro das Igrejas e Templos.
  Maria Luísa Balaio mais conhecida por Maria da Fonte tinha uma estalagem (taberna) onde homens, se encontraram para falar da lei que proibia o enterro dos mortos dentro de Igrejas e Templos.
O problema era: a partir do momento que a lei saísse teriam de enterrar os mortos nos campos como "cães".
Maria Luísa dizia: "o povo está unido só precisa de alguém que o guie, mas para isso, podeis contar comigo ou não me chamo Maria da Fonte". Os homens não se atreveriam a atirar sobre as mulheres. Era necessário estarem atentos porque se sepultassem o primeiro morto fora da igreja nunca mais podiam voltar atrás. Para além disso era também necessário que o povo desse permissão para o enterro ser realizado sem padre. No dia 22 de Março de 1846 morre Custódia Teresa dando origem à revolução. Para atestar o óbito apareceu oficialmente o delegado de saúde pública que foi corrido à paulada por um habitante de Simães, que chamando a população - acudam, acudam, à Capela de S. Francisco – reuniu o povo para fazer o funeral.
À chegada do mordomo e do padre, Maria Luísa disse: Arrumem-se, nós fazemos o funeral. As mulheres conduziram ordenadamente o funeral até ao Mosteiro de Fontarcada. O padre de Fontarcada alertou dizendo: Não façam isso... Vão meter-se em sarilhos!... Sem preocupação as mulheres sepultaram o cadáver no interior do Mosteiro.
Na rua as manifestações começaram com muito alarido.
Entretanto o administrador local planeia a sua vingança e tenta convencer o governador que só com uma força militar é que “metemos na ordem aquelas bêbadas”, mas o governador argumenta: “nem pense nisso, elas não passam de meia dúzia de beatas”.
No dia seguinte, as autoridades retiraram o cadáver do Mosteiro de Fontarcada, mas logo os sinos tocam com um barulho ensudercedor e as mulheres aparecem em número elevadíssimo dizendo - Malandros ide-vos embora - e começam a apedrejá-los voltando a colocar religiosamente a campa violada. Na estalagem de Maria Luísa, dão vivas a esta vitória.
Passado mais um dia, três mulheres são presas. As mulheres juntam-se para assaltar a cadeia. Joana Esteves trazia com ela um machado e todas gritavam "Força, força". Tanta força fizeram que a parta acabou por cair e elas levaram as suas companheiras, atiraram pela varanda todos os documentos do tribunal com os quais o povo fez uma fogueira cantando e dançando à sua volta.
A revolta reflecte-se por todo o Reino obrigando Rainha a acabar com as leis da saúde e a reformar o sistema do pagamento das contribuições. Era o reconhecimento real da vitória da Maria da Fonte. A Rainha recuperou a autoridade e começou a "caça às bruxas".
Passados dois anos Maria Luísa Balaio mais conhecida por Maria da Fonte partiu discretamente para o Brasil com medo de ser presa.
Conclusão:
A revolução da Maria da Fonte teve razão de ser, ou seja, a liberdade de um povo. Trabalho realizado por : Virgínia nº.26, 8º. Ano, Turma A
Póvoa de Lanhoso, 150 anos depois...
Pelo relato que é feito, onde não faltam nomes de outras mulheres metidas na Revolta e de pormenores devidamente enquadrados na sabedoria das gentes de Póvoa de Lanhoso, a aluna da Escola Gonçalo Sampaio faz um relato muito vivo de uma história avoenga que lhe chegou e ela não quis deixar que se perdesse – e ainda bem - porque é preciso manter vivo em qualquer época o espírito da “patuleia”, ou seja, a razão do povo contra toda a força de um Estado que esqueça as razões da classe mais baixa, que é, afinal, a razão da existência da Nação.




(1) - in, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, vol 16, pág. 328

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