Deus não é
uma invenção, uma criação do espírito humano; é um encontro, uma descoberta
deste. O homem não criou o divino, encontrou-o, sendo fiel aos apelos mais
íntimos do seu ser. (…) A nossa existência pende para Ele, sem que nós possamos
impedir-nos de O invocar, seja qual for o nome que nos venha aos lábios. (…)
Deus não se vê, não se sente; Deus procura-se. E o homem
há-de procurá-Lo em todas as idades da vida, por todas as vias da sua
consciência.
J. Paulo Nunes
in, Cristo ou Marx?
Há, no nosso tempo, uma
dura realidade, que leva o homem mais fiel ao credo doutrinal de Jesus, por
força dos acontecimentos descristianizados que o cercam no quotidiano
fratricida que a todos atinge, a não resistir devidamente, metido como está –
por força da sua acção vivencial - na máquina avassaladora de um tempo de
magros ideais evangélicos, mas assumindo, ainda assim, um grau de nefastas
ocorrências para as almas espiritualizadas.
Em casos extremos
assistimos, até, à subversão das consciências, quando o demónio, esvaziando-as
de valores sãos, tenta que os homens se tornem ausentes das coisas sagradas,
para as quais, no entanto, pende a sua natureza.
Mas, esvaídos de Deus,
sem desejo de O encontrar, cheios da sua própria eternidade, esquecidos de se
ajoelharem perante o Infinito, os homens actuais, em grandes estratos da
sociedade, elevados pela sua inteligência estão a cometer o pecado de um
endeusamento, contra o qual é preciso pugnar.
Carregados de matéria,
devem uma prova às certezas que
afirmam ter e essa prova não pode deixar de ser o facto de não acharem na vida
presente uma presunção da futura, mas uma certeza disso mesmo, porquanto a
imortalidade da alma é um prolongamento e não o rompimento do ser interior onde
vive a memória, que é, pela sua natureza o embrião da parte divina que em nós
vive em cada dia e em cada hora, com as
nossas obras meritórias, que um decreto divino por via da assunção dessas
virtudes faz de cada um de nós o criador da sua própria imortalidade.
O homem não criou o divino, encontrou-o, porquanto o sentimento
da religiosidade nasce com a criatura, constituindo sempre por ordem natural a
reacção da virtude contra o crime, enquanto um trabalho da consciência contra o
mal, assumindo-se como um fogo purificador que guerreia o pecado.
Em suma, dir-se-á que o
fundamento antropológico da religiosidade natural, no âmbito social, age no homem como um anjo fiel aos apelos mais íntimos do seu ser, no vasto campo das
relações íntimas entre a natureza e a graça, constituindo-se como uma propriedade originária do homem, que
deve merecer deste todo o carinho, quanto à sua conservação, nobilitação e
transmissão intacta dos valores herdados no acto do seu nascimento.
É um dever que nos
cabe.
Razão, porque, não se
pode consentir a continuada inversão de valores a que vamos assistindo no mundo
moderno que traz alapado o sucesso como uma conquista material do homem bem
sucedido na vida, aliando-se isto a um sentido de riqueza ou de poder – o que
não seria em si mesmo um mal – se estes factos não trouxessem a desvinculação
de escolhas morais, como não raro, acontece.
Deus, é verdade, não se
vê.
Mas é Ele o Agente
Eterno que o homem tem o dever de procurar em
todas as idades da vida, por todas as vias da sua consciência, pois só
desse modo se cumpre a plenitude da alma humana que pende para Ele, sem que nós possamos impedir-nos de O invocar, seja
qual for o nome que nos venha aos lábios, cumprindo o dever de não deixar
perdida na lama do caminho a Sua Palavra imortal.
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