O trabalho é
tarefa humana e social. Desnaturaliza-se, se se isola de todo o conjunto de
relações sociais em que se insere. A própria natureza da actividade humana, a
sua interdependência social, obriga a adoptar uma atitude e uma mentalidade
aberta em face da colectividade. (…)
José Luís Illanes
in, Cristãos de Hoje. in, Cap. A santificação do trabalho –
Tema do nosso tempo.
A vida concertada e
harmoniosa está a ser ameaçada de vários modos.
O trabalho destinado
por Deus à dignificação do homem, tal como se encontra explícito em várias
Encíclicas – de que é um farol de primeira grandeza a Rerum Novarum – está a
ser subordinado à ganância de empresários sem escrúpulos, a que se colam os
avanços tecnológicos, dando, actualmente, uma expansão aos mercados sem
precedentes históricos à escala global, com a perda de leis que passaram a
proteger despudoradamente a sublimação de princípios neoliberais, submetendo a
função social do trabalho e a dignidade humana que lhe está subjacente a uma
acentuada falta de mística humana, vergada ao interesse de um capitalismo sem
rosto.
Neste afã de uma
competição desenraizada de princípios éticos, o trabalhador não escapa a esta
falta de fraternidade humana, o que provoca que este – quase sempre para defesa
própria e da sua família – se isole de
todo o conjunto de relações sociais em que se insere, passando a ser uma
ilha.
Acontece, em
consequência, que numa mesma Empresa, os trabalhadores alienados da sua função
social constituem várias ilhas onde a interdependência – que devia ser uma
dinâmica de grupo destinada a compartilhar um conjunto de princípios comuns, o
que implicava uma independência emocional e económica – passou a ser, pelas
precárias condições do emprego que estão a acontecer, uma dependência
delapidadora da liberdade individual do indivíduo.
Está, deste modo,
subvertido o princípio moral implícito na natureza humana que conduz o homem
nas suas disposições socialmente correctas a ter uma atitude e uma mentalidade aberta em face da colectividade, de
que é co-responsável no que concerne à sua humanização, de acordo com as linhas
mestras de toda a filosofia espiritual que fazendo do trabalho humano um meio
de felicidade individual, não se esquece de afirmar que ele tem um profundo
enfoque no colectivo.
A vocação natural do
homem tem neste ponto um dever a cumprir, competindo-lhe opor-se à massificação
que se quer impor ao mundo do trabalho através de meios pouco escrupulosos,
cabendo-lhe neste caso, uma acção esforçada no que se prende com o fomento de
uma cultura social condizente com o património de valores derivados da fé e da
moral, colocando estes atributos como fundamentos fraternos a um mundo que os
quer ignorar com a finalidade de moldar por baixo uma sociedade que alguns
querem desgovernada de valores.
Faltam – e todos já nos
demos conta dessa falha – associações de classe que unam os associados através
da assunção de uma prática de raiz católica, porque se generalizou o erro de cada
um tratar da sua vida, como se o bem
estar dela ela não fosse uma emanação do colectivo.
É aqui que bate o ponto.
Torna-se necessária uma
renovação de mentalidades, a começar pelo Estado, que não pode mais consentir o
abastardamento da sociedade egoísta que estamos a construir, porque o egoísmo é
um contravalor que ao não gerar solidariedades, torna a sociedade agressiva
entre o comum dos seus membros, mas dúctil perante os que não conhecem credos
espirituais e a que estão sujeitos.
E uma sociedade assim,
não é de forma alguma, feliz, porque falta Deus no seu âmago.
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