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domingo, 2 de junho de 2013

"Para viver na verdade"



Para viver na verdade, o homem deve consentir em “ser”, renunciando às miragens do “parecer” e resistindo ao encantamento do “ter”.
Pierre Blanchard
In, A Santidade e o Nosso Tempo

Eis aqui, um tríduo de rotas humanas, onde uma – o ser verdadeiramente assumido – é uma virtude exemplar, o parecer não passa de uma máscara e o ter a qualquer preço pode ser uma inutilidade social.
“Ser”, o que é?
Segundo a filosofia o ser enquanto substantivo, é uma chispa  que se desmembrou de uma chispa maior, comportando-se como um desdobramento do Absoluto, de Deus.
Implica isto, no indivíduo, o imperativo deste  viver em consonância com a chama que se é, obedecendo a leis cósmicas, cuja universalidade não só respeitam o seu espaço físico, como todo aquele onde se move a transcendência que ele não atinge em toda a sua plenitude, mas pela qual se deve sentir atingido.
Logo, todo o homem que quer viver na verdade tem de consentir em ser.
Quanto ao parecer, diz Alfred de Vigny, (1) que a vida é demasiado curta para que desperdicemos uma parte preciosa a fingirmos, sendo de tal modo conspícuo o pensamento do Poeta, que ficaria prejudicado qualquer comentário que sobre ele fizéssemos.
Finalmente, no que se refere ao ter, dir-se-á, que para este se alcançar tem levado o homem a fazer de tudo um pouco, passando, quantas vezes, por cima de conveniências alheias e de direitos que não lhe cabem.
Fica, portanto, ao homem o direito da escolha na procura da verdade, onde cada um deve fazer a descoberta de si mesmo através de caminhos e fontes seguras que não podem dispensar uma contínua interrogação, onde as perguntas e respostas têm de ser dadas com toda a honestidade intelectual, pois só assim se pode encontrar a meta procurada.
Ao longo dos séculos, a filosofia tem-se dedicado ao estudo desta matéria, - ser, parecer e ter – que  tem dado milhares de páginas de reflexão, sem contudo terem dado ao homem – ou porque este as não tem lido ou entendido – respostas válidas a estes dois problemas que exigem dele um chamamento à santidade, algo que lhe está prometido por Deus e onde o ser vivido no devido sentido é já uma porta aberta para o diálogo com a metafísica existencial.
Sendo o livro de Pierre Blanchard dedicado ao tema “A Santidade e o Nosso Tempo”, nessa linha, conclui o autor num dado passo que o próprio santo, exposto ao pecado, por esse motivo, precisa de manter-se constantemente, por uma fidelidade de todos os instantes, na eleição definitiva de Deus.
Logo isto, pressupõe uma conversão ao ser, ou seja àquela chispa desmembrada da chispa maior que é Deus, na procura de viver na verdade, como o maior desiderato que o homem tem como meta a cumprir no caminho de uma vida onde a escolha verdadeira não pode consentir falsidades no ser, para se poder chamar ao caminho correcto o parecer e o ter.

(1) - Alfred de Vigni (1797- 1863) foi um protegido de Victor Hugo que o incentivou a publicar poemas e o seu romance histórico Cinq Mars.

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