Para viver na verdade, o homem deve consentir
em “ser”, renunciando às miragens do “parecer” e resistindo ao encantamento do
“ter”.
Pierre Blanchard
In, A Santidade e o Nosso Tempo
Eis aqui, um tríduo de
rotas humanas, onde uma – o ser
verdadeiramente assumido – é uma virtude exemplar, o parecer não passa de uma máscara e o ter a qualquer preço pode ser uma inutilidade social.
“Ser”, o que é?
Segundo a filosofia o ser enquanto substantivo, é uma
chispa que se desmembrou de uma chispa
maior, comportando-se como um desdobramento do Absoluto, de Deus.
Implica isto, no
indivíduo, o imperativo deste viver em
consonância com a chama que se é, obedecendo a leis cósmicas, cuja
universalidade não só respeitam o seu espaço físico, como todo aquele onde se
move a transcendência que ele não atinge em toda a sua plenitude, mas pela qual
se deve sentir atingido.
Logo, todo o homem que
quer viver na verdade tem de consentir em
ser.
Quanto ao parecer, diz Alfred de Vigny, (1)
que a vida é demasiado curta para que
desperdicemos uma parte preciosa a fingirmos, sendo de tal modo conspícuo o
pensamento do Poeta, que ficaria prejudicado qualquer comentário que sobre ele
fizéssemos.
Finalmente, no que se
refere ao ter, dir-se-á, que para
este se alcançar tem levado o homem a fazer de tudo um pouco, passando, quantas
vezes, por cima de conveniências alheias e de direitos que não lhe cabem.
Fica, portanto, ao
homem o direito da escolha na procura da verdade, onde cada um deve fazer a
descoberta de si mesmo através de caminhos e fontes seguras que não podem
dispensar uma contínua interrogação, onde as perguntas e respostas têm de ser
dadas com toda a honestidade intelectual, pois só assim se pode encontrar a
meta procurada.
Ao longo dos séculos, a
filosofia tem-se dedicado ao estudo desta matéria, - ser, parecer e ter – que tem
dado milhares de páginas de reflexão, sem contudo terem dado ao homem – ou
porque este as não tem lido ou entendido – respostas válidas a estes dois
problemas que exigem dele um chamamento à santidade, algo que lhe está
prometido por Deus e onde o ser
vivido no devido sentido é já uma porta aberta para o diálogo com a metafísica
existencial.
Sendo o livro de Pierre
Blanchard dedicado ao tema “A Santidade e o Nosso Tempo”, nessa linha, conclui
o autor num dado passo que o próprio santo,
exposto ao pecado, por esse motivo,
precisa de manter-se constantemente, por uma fidelidade de todos os instantes,
na eleição definitiva de Deus.
Logo isto, pressupõe uma
conversão ao ser, ou seja àquela
chispa desmembrada da chispa maior que é Deus, na procura de viver na verdade, como o maior desiderato que o
homem tem como meta a cumprir no caminho de uma vida onde a escolha verdadeira
não pode consentir falsidades no ser,
para se poder chamar ao caminho correcto o parecer
e o ter.
(1) - Alfred de Vigni (1797- 1863) foi um protegido de Victor Hugo que o incentivou a publicar poemas e o seu romance histórico Cinq Mars.
Sem comentários:
Enviar um comentário