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segunda-feira, 17 de junho de 2013

Os Juizos Temerários


O juízo temerário é um problema humano antigo, possivelmente tão antigo como são as idades dos primeiros homens, cuja imperfeição moral tem atravessado os séculos e os milénios.
Jesus – um conhecedor profundo da alma do homem -  chamou este problema para a sua pregação e é dele que S. Mateus nos dá conta, relatando com mestria as Palavras que ouviu do Mestre, quando Ele falou do seguinte modo:

Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados; e com a medida com que medis vos medirão a vós. E por que vês o argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita! tira primeiro a trave do teu olho; e então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão. (1)

A lição é antiga, mas porque continuamos a ver argueiros nos olhos dos outros e ignoramos as traves que trazemos nos nossos, de vez em quando chamar a atenção para as Palavras de Jesus e contar uma história enquadrada naquilo que Ele nos quis transmitir para valer até ao fim dos séculos é um dever social que nos cabe, na certeza que, se eu emendar um pouco o espaço por onde giram os meus passos estou a alindar o meu caminho, e em consequência, o caminhos dos outros.
Atentemos nesta história:
Era uma vez, um casal, como tantos outros, formado pela Elisa e pelo André, já com uma dúzia de anos bem contados de casamento. Não tinham filhos, um facto que passou a azedar o ânimo da Elisa, ao ponto de lhe virar do avesso a compostura humana que tivera antes, passando a ter como diz o povo, a língua fácil.
Por tudo e por nada apontava defeitos, sobretudo, nas outras mulheres.
O André, compreensivo do desgosto da esposa – que também era o seu – ia ouvindo as frioleiras e, quase sempre fazendo ouvidos de mercador deixava passar o génio mal humorado da Elisa e os despautérios que ouvia.
Uma das vítimas do mau génio da esposa passou a ser a Maria João, uma vizinha, mãe recente de um menino de meses e que morava defronte da casa deles. Num certo dia, com algum espanto, o André, que lia o jornal, ouviu da mulher esta crítica acidulada e contundente:
- Repara nisto. A Maria João acabou de estender a roupa. Anda cá ver como estão as fraldas do menino... até parece que nem foram lavadas de tão sujas que estão...
O André invocou uma qualquer desculpa e levantando-se não acedeu ao pedido da Elisa.
Uns dias depois, a cena repetiu-se com uma crítica ainda mais feroz e, mais uma vez, pacientemente, o André não assomou à janela para ver o objecto da crítica e saiu para deixar de ouvir as palavras destemperadas da mulher.
Um dia, porém, a Elisa mudou de discurso sobre a vizinha.
E do mesmo modo, como por duas vezes chamara o marido para ver a sujidade das fraldas que a Maria João colocava no estendal e constituíam uma prova evidente do desleixo que ela verberava acidamente, chamou-o para ver o que se passava naquele dia onde todas as fraldas, como por milagre, apareceram brancas, de tão bem lavadas que estavam.
- André, anda ver isto. Naturalmente alguém lhe terá ensinado a lavar a roupa. – concluiu a Elisa, admirada.
Foi, então, que ele tomando-a nos carinhosamente nos braços, mas com um sorriso repreendedor e conciliador lhe lembrou as velhas Palavras de Jesus, para lhe dizer que devia moderar os seus juízos temerários, porque afinal de contas, não via os seus próprios defeitos mas não se cansava de os apontar nos outros.
Depois, explicou-lhe o mistério que tinha acontecido no estendal da Maria João.
- Não aconteceu nenhum milagre. O que aconteceu foi isto. Hoje levantei-me muito cedo, ainda tu dormias e sem que desses por isso lavei os vidros da nossa janela.
A Elisa percebeu tudo, num repente.
Baixou os olhos e corou.
Viu quão grande era a trave que trazia nos seus olhos que lhe faziam ver limpos os vidros da sua janela – quando, afinal, eram um espelho do seu desleixo -  e sujas as fraldas que a Maria João estendia, todas elas amorosamente bem lavadas e de uma brancura imaculada.
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(1) - Evangelho de S. Mateus 7, 1-5

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