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sexta-feira, 7 de junho de 2013

"Não tenhais medo"




Cristo dirigiu muitas vezes este convite aos homens que encontrava. Isto disse o Anjo a Maria: “Não tenhas medo” (Lc 1, 30). O mesmo a José: “Não tenhas medo” (Mt 1, 20. Cristo falava assim aos apóstolos, a Pedro, em várias circunstâncias, e especialmente após a Sua Ressurreição. Insistia: “Não tenhais medo!”. Sentia de facto que tinham medo. Não estavam certos de que aquele que viam fosse o mesmo Cristo que conheciam. Tiveram medo quando foi preso, tiveram ainda mais medo quando, ressuscitado, lhes apareceu.
João Paulo II
in, "Atravessar o Limiar da Esperança"

Não tenhais medo.
Foi esta a frase profundamente enraizada no Evangelho, com que João Paulo II respondeu  à primeira questão levantada pelo entrevistador Vittorio Messori, no livro que assinala os quinze anos do seu pontificado, fazendo vir ao de cima as suas primeiras palavras aquando da sua eleição.
Queira Deus que elas não passem nunca e continuem vivas entre os crentes, continuando a ser um paradigma do homem que travou combates definitivos que levaram à queda do Muro de Berlim e à consequente queda do império dos sovietes e contra a Teologia da Libertação eivada de um certo pendor marxista, não tendo medo em pedir perdão ao povo judeu pelas ofensas de um certo catolicismo de costas voltadas contra a influição espiritual da Cruz.
Este formidável grito do não tenhais medo está com todo o sentido metido bem dentro das suas posição radicais contra o aborto, contracepção, práticas sexuais aberrantes, eutanásia e, até, contra o eventual sacerdócio feminino, mostrando de corpo inteiro que o crente que houve desde menino em Karol Wojtyla, reforçadamente foi assumido enquanto Papa, sem qualquer medo de arcar perante um mundo contrário, de pesos incómodos advindos de posições difíceis e controversas.
Não tenhais medo.
É um grito que continua na Igreja pela voz do Papa actual.
Ouviu-se em Abril de 2007 no decorrer de uma transmissão directa para a Praça de São Pedro, quando foi ouvida a oração Regina Caeli, (1) em substituição do Angelus, recitada perante os peregrinos que se encontravam apinhados no Palácio Apostólico de Castel Gandolfo.
O não tenhais medo, é, como se depreende do texto transcrito, uma expressão muito antiga.
Disse-a o Anjo a Maria e a José e, depois, disse-a Jesus para couraçar as almas dos apóstolos e, finalmente, os dois últimos Papas chamaram a si o cuidado de a voltar a dizer, seguindo à risca o exemplo deixado por Jesus, que conseguiu inculcar naqueles que o seguiam de perto – quando pressentiu que estavam a fraquejar – uma alma nova, como o atesta o modo decidido como deram conta da incumbência recebida, contra todos os medos do  mundo.
Desse punhado de homens destemidos, são herdeiros desde então, todos os crentes n’Aquele que não confessou medo nem aos homens que o molestaram, nem às seitas contrárias conluiadas contra Ele.
É este o desafio que temos.
Não tenhamos medo de apresentar Jesus, ainda que algumas vezes a nossa fé colida com ideias, valores de viés e modos de vida deste mundo.
Continuamos a ser ovelhas para o meio de lobos, como aconteceu no tempo dos apóstolos, onde o não temais de Jesus, é um convite à luta de amor que nos compete travar nos tempos actuais, não nos devendo esquecer do aviso solene: (…) todo aquele que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que está nos céus. (cf. Mt 10, 26-33).
Não há saída, a não ser que se leve a bom porto o cumprimento afirmativo que se depreende da leitura evangélica.
Jesus, nestas coisas, é radical.
Mas é assim o Evangelho do Amor.
E este mundo ou se salva por este encadear de verdades eternas, onde o não ter medo representa a confiança que se tem em Deus e na Sua Palavra e através dela na fraternidade humana que se alimenta do influxo da Graça,  ou, não tardará o tempo em que, perdidas as referências cristãs, hão-de ficar de pé – mas com pés de barro - as que, as não sendo de modo algum, são, apenas, simulacros de valores que os ventos do mundo levam e trazem segundo as conveniências dos que se tornaram fortes por causa da tibieza dos que não ousaram falar claro sobre os direitos dos Evangelhos.

 (1)- Regina Caeli (Rainha do Céu) substitui o Angelus no tempo pascal

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