Cristo
dirigiu muitas vezes este convite aos homens que encontrava. Isto disse o Anjo
a Maria: “Não tenhas medo” (Lc 1, 30). O mesmo a José: “Não tenhas medo” (Mt 1,
20. Cristo falava assim aos apóstolos, a Pedro, em várias circunstâncias, e
especialmente após a Sua Ressurreição. Insistia: “Não tenhais medo!”. Sentia de
facto que tinham medo. Não estavam certos de que aquele que viam fosse o mesmo
Cristo que conheciam. Tiveram medo quando foi preso, tiveram ainda mais medo
quando, ressuscitado, lhes apareceu.
João Paulo II
in, "Atravessar o Limiar da Esperança"
Não tenhais medo.
Foi esta a frase profundamente
enraizada no Evangelho, com que João Paulo II respondeu à primeira questão levantada pelo
entrevistador Vittorio Messori, no livro que assinala os quinze anos do seu
pontificado, fazendo vir ao de cima as suas primeiras palavras aquando da sua
eleição.
Queira Deus que elas não passem
nunca e continuem vivas entre os crentes, continuando a ser um paradigma do
homem que travou combates definitivos que levaram à queda do Muro de Berlim e à
consequente queda do império dos sovietes e contra a Teologia da Libertação
eivada de um certo pendor marxista, não tendo medo em pedir perdão ao povo
judeu pelas ofensas de um certo catolicismo de costas voltadas contra a
influição espiritual da Cruz.
Este formidável grito do não
tenhais medo está com todo o sentido metido bem dentro das suas posição
radicais contra o aborto, contracepção, práticas sexuais aberrantes, eutanásia
e, até, contra o eventual sacerdócio feminino, mostrando de corpo inteiro que o
crente que houve desde menino em Karol Wojtyla, reforçadamente foi assumido
enquanto Papa, sem qualquer medo de arcar perante um mundo contrário, de pesos
incómodos advindos de posições difíceis e controversas.
Não tenhais medo.
É um grito que continua na Igreja
pela voz do Papa actual.
Ouviu-se em Abril de 2007 no
decorrer de uma transmissão directa para a Praça de São Pedro, quando foi
ouvida a oração Regina Caeli, (1) em substituição do Angelus, recitada perante
os peregrinos que se encontravam apinhados no Palácio Apostólico de Castel
Gandolfo.
O não tenhais medo, é, como se
depreende do texto transcrito, uma expressão muito antiga.
Disse-a o Anjo a Maria e a José
e, depois, disse-a Jesus para couraçar as almas dos apóstolos e, finalmente, os
dois últimos Papas chamaram a si o cuidado de a voltar a dizer, seguindo à
risca o exemplo deixado por Jesus, que conseguiu inculcar naqueles que o
seguiam de perto – quando pressentiu que estavam a fraquejar – uma alma nova,
como o atesta o modo decidido como deram conta da incumbência recebida, contra
todos os medos do mundo.
Desse punhado de homens
destemidos, são herdeiros desde então, todos os crentes n’Aquele que não
confessou medo nem aos homens que o molestaram, nem às seitas contrárias
conluiadas contra Ele.
É este o desafio que temos.
Não tenhamos medo de apresentar
Jesus, ainda que algumas vezes a nossa fé colida com ideias, valores de viés e
modos de vida deste mundo.
Continuamos a ser ovelhas para o
meio de lobos, como aconteceu no tempo dos apóstolos, onde o não temais de
Jesus, é um convite à luta de amor que nos compete travar nos tempos actuais,
não nos devendo esquecer do aviso solene: (…) todo aquele que me confessar
diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que está nos
céus. Mas qualquer que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante
de meu Pai, que está nos céus. (cf. Mt 10, 26-33).
Não há saída, a não ser que se
leve a bom porto o cumprimento afirmativo que se depreende da leitura
evangélica.
Jesus, nestas coisas, é radical.
Mas é assim o Evangelho do Amor.
E este mundo ou se salva por este
encadear de verdades eternas, onde o não ter medo representa a confiança que se
tem em Deus e na Sua Palavra e através dela na fraternidade humana que se
alimenta do influxo da Graça, ou, não
tardará o tempo em que, perdidas as referências cristãs, hão-de ficar de pé –
mas com pés de barro - as que, as não sendo de modo algum, são, apenas,
simulacros de valores que os ventos do mundo levam e trazem segundo as
conveniências dos que se tornaram fortes por causa da tibieza dos que não
ousaram falar claro sobre os direitos dos Evangelhos.
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