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sábado, 8 de junho de 2013

O pecado e a consequência


Selo do IV centenário

(...) Há uns pecados que acabam em si mesmos; há outros que, depois de acabados, ainda duram em suas consequências.
Padre António Vieira
in, cap. VII do Sermão da Primeira  Dominga do Advento
Pregado na Capela Real, no ano de 1650
  
Reflectindo nas palavras que abrem o cap. VII deste Sermão do grande pregador, somos levados a pensar que é pelas consequências do pecado que devemos ser atalaias de nós mesmos para que o perdão recebido atinja a plenitude advinda da  misericórdia divina.
Recordemo-nos que Deus disse a Job, que mais que os seus passos, consideraria as pegadas dos seus pés.  (1)
Isto leva-nos a pensar que nos devemos ter em atenção o modo como andamos pelos caminhos da existência, porque se recebemos o perdão por um passo mal dado, Deus fica atento aos pecados de consequência, algo que nos impõe as correcções que obedientemente devemos fazer, porque se depois de errarmos um caminho continuamos a deixar as mesmas pegadas em cima dos mesmos ou de outros caminhos, não somos digno do perdão recebido.
Portanto, que as pegadas dos nossos pés não sejam mais motivo de ofensa.
Sigamos, pois, por caminhos direitos e que todos os nossos passos deixem no chão da vida as marcas verdadeiras que nos são pedidas.
António Vieira faz entrar neste Sermão a figura de Job, um poema didáctico que se baseia, provavelmente, nalgum conto popular, para nos dizer que o Senhor, para além dos passos do famoso patriarca, consideraria as suas pegadas, porque os passos passam e as pegadas ficam, e são estas, que de um modo particular, são examinadas à luz não só dos pecados, como de um modo acutilante, das suas consequências, apontando logo a seguir, como um exemplo evidente, os pecados de Zaqueu e as consequências que eles originaram, levando-o a dar aos pobres metade dos seus bens e da outra metade, ele pagaria quatro vezes em dobro tudo o que lhes havia tirado. (2)
São estas as consequências que devemos ter em conta, porque somam à bondade divina do perdão a parte que nos cabe dar e é, sempre um sinal da nossa conversão à lei moral e imutável que Deus estabeleceu entre Ele e os homens, já em si mesmo, arcado com as consequências do pecado adâmico que lhes impõe a necessidade de estarem atentos ao modo como conduzem as suas vidas.
Não imitemos Adão, que para encobrir a sua culpa, temendo as consequências, apontou a dedo a Eva e esta à serpente.
A não aceitação do erro e a emenda que se impõe é, sempre, a entrada no jogo bárbaro dos passa-culpas que reduz o homem à sua primitiva condição, pelo que se impõe para o concerto da sociedade e do mundo em que vivemos, o retorno ás condições divinas que nos dá o perdão das ofensas dos nossos passos mal dados, mas sem se esquecer de ficar atento às pegadas que damos depois deles, no sentido de nos posicionarmos, de um modo que nos reabilite, definitivamente, face a face com o Criador de todas as coisas.
(1)     - cf. Job 13,27
(2)     -  cf. Lc 19, 8

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