Já no
limite das minhas forças, pensei que a minha viagem chegara ao fim. Pensei que
o caminho à minha frente se fechara, que as minhas provisões se tinham esgotado
e que chegara o momento de procurar um abrigo no silêncio da escuridão. Vejo,
porém, que a tua vontade em mim não conhece limites. E, quando as velhas
palavras saem mortas da minha língua, novas melodias brotam do meu coração.
Quando as velhas trilhas se perdem, revela-se então um novo país, com todas as
suas maravilhas.
Rabindranath Tagore
in, Gitanjali (Oferenda Lírica)
Este trecho é um hino
de amor.
Dos mais belos –
atrevo-me a dizer - que o espírito humano
produziu.
Começa com uma pungente
confissão de fracasso humano, expondo-se
a alma vencida e dizendo a todos a frase em que, estando já perdido o amor-próprio, se tinham baixado os
braços e depositado no chão do abandono a vontade de viver: Já no limite das minhas forças, pensei que a
minha viagem chegara ao fim, porque o homem vencido olhava em frente e,
apenas, via barreiras, como se todos os caminhos estivessem fechados.
Depois, a confissão,
diz o resto: sem provisões, isto é,
sem se ter no arsenal da braveza humana capacidades de o prover de novas
forças, restava, apenas, o abrigo final, no
silêncio da escuridão.
Houve, porém, um anjo
que esteve atento àquela tremenda desilusão humana, agindo no momento exacto e
ao dar-lhe o braço amigo e uma nova coragem, recebe como sinal e em paga de
tanto amor recebido, a frase cheia de um encanto sem medida: Vejo, porém, que a tua vontade em mim não
conhece limites.
Diz Albert Camus, que
não ser amado é falta de sorte, mas não amar é cavar a própria
infelicidade, o que não deve acontecer, porque se o homem da mó de baixo teve falta de sorte, se for amado,
sente em si mesmo a volta da dignidade
transcendente e reaprende o modo como é possível nascer de novo, e a vontade de erguer o homem caído não pode
conhecer limites.
Só assim, aquele que ama é feliz, porque constrói e
cultiva relações fraternas assentes na prática da justiça, sentindo que só o
amor é capaz de transformar as relações altruístas que os seres humanos
estabelecem entre si, como conduta que não só os aproxima entre eles, como de
Deus.
O que não acontece com
aquele que não ama.
Quem assim procede cava
a própria infelicidade, algo que
constitui a partir de Tagore uma vibrante chamada ao homem desatento, na
expectativa de moldar o que nele está precisado de renovação, atendendo à
necessidade de inverter comportamentos, pensando nas palavras do poeta que
afirma convictamente: quando as velhas
palavras saem mortas, grande é a felicidade quando elas ganham nova vida ao
som das novas melodias, e estas, sabemo-lo,
estão sempre ao alcance de todos aqueles que se dispõem a amar o outro.
É neste passo
importante das relações humanas que o homem ganha, verdadeiramente, o lugar que
por direito lhe pertence, pois, o que seria de nós sem termos amor para dar,
sem termos esse sentimento que infunde
nas pessoas esperança e alegria?
A actividade humana é
chamada através do amor à transformação do Universo, fazendo vir acima as
perfeições humanas que têm em Jesus o seu modelo mais perfeito, no pressuposto
que os homens não são um amontoado sem ordem, mas uma concertação humana onde
Deus vive eternamente, na certeza que no sacrifício da Cruz todas as barreiras
humanas já foram derrubadas.
Em face disto, de nada
aproveita ao homem, viver, criando novas barreiras ao outro, levando-o ao
desespero e a pensar – como diz o poeta - Pensei
que o caminho à minha frente se fechara.
Isto não pode acontecer.
Maravilhoso texto ! Para ler e reler !!!
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