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sábado, 1 de junho de 2013

O amor não conhece limites


Já no limite das minhas forças, pensei que a minha viagem chegara ao fim. Pensei que o caminho à minha frente se fechara, que as minhas provisões se tinham esgotado e que chegara o momento de procurar um abrigo no silêncio da escuridão. Vejo, porém, que a tua vontade em mim não conhece limites. E, quando as velhas palavras saem mortas da minha língua, novas melodias brotam do meu coração. Quando as velhas trilhas se perdem, revela-se então um novo país, com todas as suas maravilhas.
Rabindranath Tagore
in, Gitanjali (Oferenda Lírica)

Este trecho é um hino de amor.
Dos mais belos – atrevo-me a dizer -  que o espírito humano produziu.
Começa com uma pungente confissão de fracasso humano, expondo-se  a alma vencida e dizendo a todos a frase em que, estando já  perdido o amor-próprio, se tinham baixado os braços e depositado no chão do abandono a vontade de viver: Já no limite das minhas forças, pensei que a minha viagem chegara ao fim, porque o homem vencido olhava em frente e, apenas, via barreiras, como se todos os caminhos estivessem fechados.
Depois, a confissão, diz o resto: sem provisões, isto é, sem se ter no arsenal da braveza humana capacidades de o prover de novas forças, restava, apenas, o abrigo final, no silêncio da escuridão.
Houve, porém, um anjo que esteve atento àquela tremenda desilusão humana, agindo no momento exacto e ao dar-lhe o braço amigo e uma nova coragem, recebe como sinal e em paga de tanto amor recebido, a frase cheia de um encanto sem medida: Vejo, porém, que a tua vontade em mim não conhece limites.
Diz Albert Camus, que  não ser amado é falta de sorte, mas não amar é cavar a própria infelicidade, o que não deve acontecer, porque se o homem da mó de baixo teve falta de sorte, se for amado, sente  em si mesmo a volta da dignidade transcendente e reaprende o modo como é possível nascer de novo, e a vontade de erguer o homem caído não pode conhecer limites.
Só assim,  aquele que ama é feliz, porque constrói e cultiva relações fraternas assentes na prática da justiça, sentindo que só o amor é capaz de transformar as relações altruístas que os seres humanos estabelecem entre si, como conduta que não só os aproxima entre eles, como de Deus.
O que não acontece com aquele que não ama.
Quem assim procede cava a própria infelicidade, algo que constitui a partir de Tagore uma vibrante chamada ao homem desatento, na expectativa de moldar o que nele está precisado de renovação, atendendo à necessidade de inverter comportamentos, pensando nas palavras do poeta que afirma convictamente: quando as velhas palavras saem mortas, grande é a felicidade quando elas ganham nova vida ao som das novas melodias, e estas, sabemo-lo, estão sempre ao alcance de todos aqueles que se dispõem a amar o outro.
É neste passo importante das relações humanas que o homem ganha, verdadeiramente, o lugar que por direito lhe pertence, pois, o que seria de nós sem termos amor para dar, sem termos esse sentimento  que infunde nas pessoas esperança e alegria?
A actividade humana é chamada através do amor à transformação do Universo, fazendo vir acima as perfeições humanas que têm em Jesus o seu modelo mais perfeito, no pressuposto que os homens não são um amontoado sem ordem, mas uma concertação humana onde Deus vive eternamente, na certeza que no sacrifício da Cruz todas as barreiras humanas já foram derrubadas.
Em face disto, de nada aproveita ao homem, viver, criando novas barreiras ao outro, levando-o ao desespero e a pensar – como diz o poeta - Pensei que o caminho à minha frente se fechara.
Isto não pode acontecer.

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