"Mulher, eis, aí, o teu filho"
A Cruz é o
sinal magnífico que nos abre a vida.(…) Com duas linhas abraça o universo e
supera o infinito.(…) Jesus, Crucificado no Gólgota, é o primeiro sinal da
Cruz. E desde então o sinal converte-se em verdade, símbolo e juramento.
Infelizmente, porém, fazemos este gesto distraidamente, à pressa, sem pensar
que, tocando-nos na fronte, nos coroamos de espinhos, tocando-nos no peito,
recordamos o pecado que trespassou o Coração de Cristo, e nos ombros,
carregamos a Cruz, ao menos por alguns instantes.
Nino Salvaneschi
Saber Sofrer
Pode-se conhecer todos os
versículos da Bíblia e conhecer, até, todos os pormenores dos relatos
evangélicos. Pode-se citar de cor os nomes dos patriarcas e profetas do A.T. e
ter um conhecimento profundo dos evangelistas, dos apóstolos e discípulos de Jesus,
mas isto – que é importante – perde valor, se não se descobre que O Crucificado
é o ponto de partida e a base em que assenta o Sinal da Cruz, dito no singular,
mas unindo as três Pessoas divinas.
Fazendo isto significamos que
Deus é uno e trino e que nas duas linhas a Cruz abraça o universo e supera o
infinito e, nela, está impressa a Encarnação, a Paixão e a Morte de Jesus.
O símbolo escolhido pelos
cristãos no segundo século já era um sinal da Cruz simbolizando os seus dois
braços desde a mais remota antiguidade os eixos entre o céu e a terra.
Tertuliano (155-222), por alguns
considerado o pai da teologia ocidental, foi das primeiras testemunhas do Sinal
da Cruz, tendo escrito: A cada passo e a cada movimento dados para frente, em
cada entrada e em cada saída,(…) quando nos assentamos à mesa, quando acendemos
as lâmpadas; no sofá, na cadeira, nas acções corriqueiras da vida diária,
traçamos na testa o sinal da cruz.
Cipriano (+258) bispo de Cartago,
em face de um ataque de Deciano, para fortalecer a moral do povo, aconselhou:
tomemos também como protecção da nossa cabeça, o capacete da salvação para que
nossa fronte possa ser fortificada, de modo que conservemos seguro o sinal de
Deus. E aos fiéis que suportaram prisões e arriscaram a vida, louvava-os,
dizendo: as vossas frontes, santificadas pelo selo de Deus foram reservadas
para a coroa do Senhor.
Deve-se, finalmente, a
Constantino (272-337) o uso físico daquele símbolo cristão, que ele tomou desde
o momento em que nas vésperas da batalha da Ponte Milviana, sobre o Imperador
Maxentius (312), conquistou a supremacia no Ocidente, advindo isto da força que
lhe deu – segundo Eusébio – a visão de uma cruz iluminada no Céu, cingida com a
seguinte legenda: in hoc signo vinces -
vence por este sinal – que ele adoptou como seu emblema, mandando-o brasonar
nos estandartes de seu exército.
Temos, assim, que ao benzer-nos,
este sinal cristão tem nos homens um profundo enraizamento histórico, mas tendo
em Jesus a sua essência divina ao estabelecer nos braços abertos do Redentor,
presos ao braço horizontal do madeiro a ligação com os homens de todos os
pontos do mundo e no braço vertical que plasmava o resto do Corpo Santo, a
ligação com o Céu, morada eterna do Pai.
Desde então como assinala
Salvaneschi, aquele sinal converte-se em verdade, símbolo e juramento
Verdade, que impõe a todo o
cristão um alerta contra o relativismo do mundo.
Símbolo, cuja legenda da visão de
Constantino, vence por este sinal, é uma
força e um estímulo
Juramento, porque tem de ser
cumprido. Quem olha para trás não é digno do Reino.
Infelizmente,
porém, como refere o texto transcrito, quantas vezes fazemos o Sinal da Cruz em
gestos rápidos e mecânicos e, até, distraidamente, à pressa, sem que a história
e a sobrenaturalidade que ele representa mereça um tempo de reflexão sobre
coisas essenciais, como, tocando-nos na fronte, nos coroamos de espinhos,
tocando-nos no peito, recordamos o pecado que trespassou o Coração de Cristo, e
nos ombros, é como se carregássemos a
Cruz, ao menos por alguns instantes.
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