ENSAIO À VOLTA DE UMA PARÁBOLA DE TAGORE
Não possuo o
original, mas conheço a ideia-força do lindíssimo conto escrito em jeito de
parábola por esse grande escritor e poeta espiritualista mundialmente conhecido
por Tagore (1),
“A Lamparina de Barro”, que em
linha gerais conta o seguinte e que eu resumo por palavras minhas.
Naquele dia o
grande Sol, ia – como acontece todos os dias -
a esconder-se no horizonte, mas naquele dia – o Poeta com aquela
liberdade literária de que pode lançar mão põe o Sol a pensar e a falar e o Sol pensou que a sua
luz iria fazer falta aos homens e falou, perguntando:
-
Não haverá ninguém que me possa substituir?
E, logo,
solícita, a voz de uma “lamparina de barro” com a sua luz pequenina, se fez
ouvir:
- Eu farei o
que puder!
É
este o ponto central da parábola de Tagore.
Aqui reside a
moral da história que é, na sua singeleza, um encanto ao esconder na pequena
frase – eu farei o que puder – todo um programa de vida, que Tagore
emprestou com genialidade a toda a sua obra literária.
Diz o povo na
sua infinita doçura e sabedoria que todo aquele que faz o que pode a mais
não é obrigado, donde podemos concluir, que a cada um de nós está reservada
uma tarefa importante na condução da vida e da sua dignificação, por pouco que
pareça valer aquilo que fazemos, se o fizermos com amor e espírito de entrega e
de serviço, de cada um para si e, depois, para todos.
Temos assim que
nos cumpre fazer o que formos capazes, por muito pouco que seja, porque do
ponto de vista social não podemos viver sem produzirmos para a colectividade
aquilo que ela nos pede, ou seja , o nosso contributo por muito pequeno que
seja.
Não é
socialmente defensável que todo aquele que recusa dar o pouco ou o muito que
sabe fazer, mesmo, ainda, sem prestar essa dádiva para o bem comum, ainda assim
fique à espera que a colectividade suprima o sua falta de serviço.
A parábola de
Tagore é socialmente importante, porque nos dá a solicitude da pequena luz da
“lamparina de barro”, disposta a entrar de serviço logo que o Sol se fosse
embora de todo, ainda que fosse de pouca valia o que poderia dar.
É uma história
exemplar que nos deveria valer quando nos esquecemos da tarefa que nos cabe na
edificação do mundo, fazendo o que nos cabe, trabalhando, ainda que
ignoradamente, mas ganhando com honra o pão de cada dia.
S. Paulo com
alguma rudeza, um dia, ao dirigir-se ao povo de Tessalónica diz esta coisa
muito séria: quem não quiser trabalhar não tem o direito de comer (2) e
tinha toda a razão, porque havia por ali, quem em vez de trabalhar perdesse o
tempo em futilidades.
Acontece ainda
hoje o mesmo.
Pessoas, que
podem ser portadoras de pouca valia nesta sociedade massificada que só procura
génios mas que não podem deixar de estar presentes com a sua entrega e
arreganho para se edificarem a si mesmos, fazendo viver através da luz
pequenina que trazem consigo a linda história do Poeta indiano, isto é, fazendo
o que podem, à semelhança da pequena luz da “lamparina de barro” que se atreveu
a substituir o grande Sol que se ia embora.
O que não se
pode é perder o tempo em futilidades, porque então, não se é substituto de
nada, nem se cumpre verdadeiramente o estatuto social, para que um dia ela
retribua em paga do esforço feito, o que de direito cabe a cada um.
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(1) - Rabindranath Tagore, nasceu
em Calcutá em 1861 e faleceu em Santiniketan, Bengala em 1941. Fundou uma
escola superior de Filosofia em Santiniketan, mais tarde transformada em
Universidade. Foi Prémio Nobel de literatura em 1913. O seu livro de poemas
mais famoso chama-se: Gitanjali ( Oferenda Lírica)
(2) - 2ª
Tessol.3,10
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