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sábado, 3 de outubro de 2015

Uma reflexão cristocêntrica de Camilo Castelo Branco



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Esta reflexão cristocêntrica pertence ao 1º volume do Livro "Horas de Paz" - Escritos religiosos - de Camilo Castelo Branco, com um "Prefácio" do próprio autor, trazendo impressa a data de 1865 que pressupõe, ter vivido por essa altura o atribulado escritor, um tempo de paz.

O que nos diz ele?

Que encravada nas pedras do Calvário e desde o braço vertical da Cruz o Justo que morria sem culpa antevia no fim das gerações o dia em que, no Julgamento Final no cumprimento da Parúsia, conforme o relato do Apocalipse (20, 12-15), Jesus, amigo de todos os homens - justos e pecadores - pedia clemência para todos Áquele que o enviara, tendo em mente os que naquele momento de inaudita dor quando Ele pediu um pouco de água lhe deram a beber uma esponja de vinagre na ponta de uma das lanças que lhe havia aberto o peito.

E Camilo não deixa de reflectir sobre a crueza dos que sem dó nem piedade lhe atiravam à face afrontas e insultos.
E porquê? - Porque o anjo das trevas lhos inspirava, apenas por isto.

Este anjo das trevas de modo algum está morto da convivência entre os homens, porque ele espreita a cada esquina - ou seja, em cada desencontro do homem com Deus - o momento de o assaltar por ser um ladrão dos caminhos que se compraz em entortar o que deve andar direito, como aconteceu com os algozes daquele Cristo que morreu de sede, a pedir perdão para os seus inimigos, constituindo este apontamento que se tirou do livro de Camilo Castelo Branco, uma peça de oratória cheia de sentido humano.

O anjo das trevas entortou nos seus algozes o que devia estar direito.

Penso, que foi isso que moveu a sua escrita naquele Cap. VI: As sete Palavras de N.S. Jesus Cristo, onde a primeira - Pai, perdoai-os porque eles não sabem o que fazem, é de certeza, a Palavra Maior que até hoje foi dita, por ser a que encerra todo o amor que cada um deve ao outro, mesmo quando se sente ofendido.

Seguir isto - todos sabemos - não é fácil, porque somos humanos e a carne de que somos feitos na parte em que ela não deixa que o espírito se solte - porque este vive de paredes meias com ela - pode levar-nos a esquecer o Ensinamento da Cruz, mas dizê-lo como fez com palavras puras na essência cristã e no estilo - como fez Camilo Castelo Branco - é um modo do homem erguer os olhos e olhar o mundo e aqueles com quem convive com mais fraternidade... 

E o Mundo ou se torna mais fraterno ou vai continuar a caminhar de través, como viveram movidos pelo anjo das trevas os soldados romanos que crucificaram Jesus.
E, qual de nós, é que num dado momento, se não sentiu já, um daqueles soldados?


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