Um dia, um cego foi visitar um amigo.
Este, querendo ajudá-lo e porque era noite, emprestou-lhe uma lanterna.
O cego disse que, infelizmente, não lhe serviria para nada. Porém o amigo
insistiu, dizendo que, ao menos, assim os outros o detectavam melhor e se
desviariam dele.
E lá se pôs o cego a caminho.
Fazia vento e a lanterna apagou-se. Logo à frente alguém se esbarrou contra
ele.
— Mas você não via a luz?,
perguntou o cego.
— Não, retorquiu o caminhante,
pois a sua lanterna vai apagada.
Então, o cego pensou que se o
amigo realmente o quisesse ajudar, teria sido melhor ter-lhe oferecido uma cama
para pernoitar ou então acompanhá-lo até casa. Talvez a lanterna fosse um
triste remedeio da verdadeira ajuda, quase como os pais que dão muitos
brinquedos aos filhos em vez de lhes dar amor e companhia.
Há ajudas que o não são e podem
funcionar como um alibi. A luz é boa, mas não para o cego.
in, "O Astrolábio" de 21 de Setembro de 2014
(1) - Título da minha lavra
(1) - Título da minha lavra
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Depois de ler este texto dei comigo a pensar nas vezes em que as ajudas que damos, são, porventura, mais úteis para nós que para aqueles a quem ajudamos, porque aquilo que pretendem é que o outro nos saia do caminho, como acontece nesta história em que o mais caridoso teria sido - porque era uma noite de vento - dar dormida ao cego em sua casa, em vez de o mandar para o meio da multidão.
Tenho a certeza que não estou inocente e me tenho parecido, algumas vezes, com o amigo do cego.
Tenho a certeza que não estou inocente e me tenho parecido, algumas vezes, com o amigo do cego.
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