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terça-feira, 20 de outubro de 2015

A ganância e a felicidade de viver




Um rico industrial ficou horrorizado quando viu um pescador tranquilamente recostado no barco fumando cachimbo.

— Porque é que não foste pescar? - Perguntou o industrial.
— Porque já pesquei o suficiente - respondeu o pesca-dor.
— E porque é que não pescas mais do que aquilo que precisas? - insistiu o industrial.
— E que é que isso adianta-ria? - perguntou o pescador.

— Ganharias mais dinheiro. Podias mandar pôr um motor no teu barco. Podias ir para águas mais profundas e pescar mais peixe. Ganharias o suficiente para comprar redes de nylon, com as quais obterias mais peixes e mais dinheiro. E assim ganharias para ter dois barcos… e até uma verdadeira frota. 

Então serias rico como eu.

— E o que faria então? - perguntou de novo o pescador.
— Poderias sentar-te e desfrutar a vida - respondeu o industrial.
— E o que pensas tu que eu estou a fazer neste preciso momento? - respondeu o pescador satisfeito.

in, "O "Atrolábio" de 11 de Janeiro de 2015

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Diz o povo - neste caso com alguma ironia - que "quem mais tem, mais quer", conceito que assenta no industrial desta história e é, meditando sobre a sua leitura que me ocorreu um pensamento de Balzac, que diz assim: A avareza é um nó corredio que aperta cada dia mais o coração e acaba por sufocar a razão, parecendo-me que o pescador está do lado certo da vida ao dizer como resposta que já havia pescado o suficiente, e isso lhe bastava.

Ter, efectivamente, o suficiente, é não ter preso na garganta o tal nó corredio, que um dia acaba por sufocar a razão, e essa qualidade é, por si mesma, a maior das riquezas, ou seja, sentir o homem em qualquer momento da vida que quem a comanda não é a ganância de ter amanhã, mais que hoje é que lhe traz a felicidade.

Pensar assim, nem sempre é o caminho.

Aquele pescador, recostado ao barco que era o seu meio de angariar o suficiente para o sustento da sua vida, tranquilamente fumando o seu cachimbo era um homem feliz e isso lhe bastava, pelo que achou descabido o desafio de ter mais barcos ou até uma frota, pois para ele a sua grande riqueza era o seu barco.

Único - é verdade - mas suficiente!


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