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quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Eu, ingénuo me confesso!


in "Citador" com a devida vénia

Eu, ingénuo me confesso:

  • Por pensar que as forças políticas eram votadas em eleições consoante o modo programático como oficialmente, nos cadernos eleitorais, se tinham apresentado perante os seus eleitores.
  • Por pensar, por isso, que quem ganhava - mesmo sem maioria absoluta -  era quem ganhava, efectivamente, e não podia ser questionada a sua vitória.
  • Por pensar que quem mais mandava era o voto do povo e o seu voto tinha todo o valor, no acto, e não podia ser desviado para outro fim.
  • Por pensar que eram de todo ilegais os "arranjinhos" feitos no pós-eleições, porque desvirtuavam o sentido do voto dos eleitores.
  • Por pensar que a eleição era vinculativa a cada força política e lhe estava vedado o seu uso a seu belo prazer.
  • Por pensar que a Constituição da República Portuguesa - que dizem ser a "Lei Fundamenta do País" - afinal, como qualquer lei ordinária, permite ter aquilo que a gíria popular chama de "alçapões"

Foi por tudo isto que me servi desse grande Poeta infortunado que foi o nosso Bocage que me ensinou, na minha velhice, que devo tomar conta de mim, pois o mundo - já alguém o disse - é feito de enganos, e por isso, eu ingénuo me confesso por cometer o "crime" de julgar os outros - não por mim, que não sou perfeito - mas por aquilo pelo que julgava ser o senso comum.

Obrigado Bocage, por me teres ensinado com a tua quintilha cheia de sentido e que reproduzo, que tenho de rever o meu conceito de julgar os outros... porque, afinal, tudo é possível neste jogo de enganos em que uns certos homens - que sou obrigado a respeitar - mas não me sinto, de modo algum, com vontade de os seguir, porque me assiste o direito de os censurar.

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