Fé:uma procura inteligente do homem!

Fé é o pássaro que sente a luz e canta

quando a madrugada é ainda escura.

Tagore (Rabindranath)

Há, pelo menos, duas expressões fundamentais para designar este Mistério a que os exegetas dão o nome de fé, esta convicção que liga o homem ao sobrenatural, ou seja, a crença que o torna ligado a um Ente Superior que ao longo da existência não deixa de inquietar a sua inteligência, porquanto, a fé se em si mesma, é uma resposta que se dá a algo a que a razão responde, ou não, de acordo com com a vontade fixada no Mistério da Revelação, já que o acatamento a isto exige do homem uma obediência racional, o que pressupõe uma insensatez a afirmação de se dizer que se tem fé, mas sem a ter sujeitado ao exame da consciência quando ela resulta de um qualquer cumprimento ritual.

Aderir a Deus pelo caminho da fé, exige, pois, que se percorra um percurso mental inteligente para se adquirir a certeza que aquilo que é proposto ao homem é algo que o transcende e para o qual a única explicação que lhe é dada, se parte do exterior de si mesmo - nos tempos da procura - tem de ser por dentro de si - e profundamente - algo a que se adere não por obrigação, mas por se ter adquirido a certeza racionalmente aceite, dela estar ligada a um princípio que se funda desde as origens do Mundo ao Deus da Historia.

Para abreviar, dir-se-á, que a primeira das duas expressões que determinam a fé aparece no Apóstolo S. Paulo - que foi um descrente da fé revelada, tal como ela deve ser entendida por ser um acto gratuito, quando ao dirigir-se aos antepassados dos judeus - o povo hebreu - disse:  A fé é garantia das coisas que se esperam e a certeza daquelas que não se vêem (Heb 11, 1-6), deixando nesta pequena frase, eloquentemente, a resposta a muito daquilo que era e continua a a ser reclamado pela inteligência humana.

A outra expressão sobre a fé, é quase dos nossos tempos.

Foi dita por Rabindranath Tagore, esse conceituado poeta indiano do século XIX que servindo-se da arte que o caracterizou e fez dele uma referência global, disse que a fé é o pássaro que sente a luz e canta quando a madrugada é ainda escura, ou seja, é sempre a partir da escuridão da noite que se tem a certeza que há-de nascer a madrugada, aconteça isto com a irracionalidade do pássaro ou com a racionalidade do homem.

È por isso - tendo-se em conta que o pássaro de que nos fala Tagore é uma imagem de estilo - os homesns vivem em relação com qualquer acontecimento que lhe desperte os sentidos, tendo fé que ele se não aconteceu, irá acontecer.

Diz a Encíclica “Fé e Razão”  (nº 21)

que já no Antigo Testamento

o conhecimento não se baseava,

apenas,

na observação do homem e do mundo,

deixando entender que o homem bíblico

descobriu que não se podia compreender

senão como « ser em relação ».

Ou seja,

alguém que antevia o seu destino

em face duma Fé esperançosa

que o fazia comportar-se como o pássaro

que sente a luz e canta quando a madrugada

é ainda escura - de que nos fala Tagore -

porque, a Fé foi sempre uma desígnio

no homem de todos os tempos.

E, foi assim, porque a Aurora da Revelação

era uma promessa anunciada pelos profetas,

a que S. Paulo se associou, um dia, em Atenas,

ao encontrar um altar dedicado que dizia:

“Ao Deus desconhecido”.

Cheio daquela Fé que fez dele um arauto,

disse: Pois bem! O que venerais sem conhecer,

é que eu vos anuncio. (Act 17, 22-23)

É a este “Deus desconhecido”

que desde as nossas sombras é preciso cantar!

  

Tagore - que não foi um católico romano - foi o que fez com aquele seu belo pensamento ao fixar a explicação da fé no simples pássaro do bosque, mas antes dele, alguém que aderiu à fé revelada, na velha Atenas do conhecimento filosófico falou sobre o "Deus Desconhecido" - revelando-o - como há-de acontecer, num dia qualquer àqueles que sem violentarem a "razão" entenderem, por fim, que a fé é por esta via que chega no momento exacto em que a "madrugada" cedeu à "noite" - onde havia procura - mas não se dava conta que a claridade do dia só era verdade por ela ter existido.