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sábado, 17 de outubro de 2015

"Não me move" - Um soneto de Santa Teresa de Ávila




Não me move

Não me move, meu Deus, para querer-Te
O Céu aos que Te que querem, prometido
Nem me move o inferno, tão temido
Para deixar, por isso, de ofender-Te.

Moves-me Tu, Senhor, move-me o ver-Te
Cravado numa Cruz e escarnecido;
Move-me o ver teu Corpo tão ferido,
No sepulcro jazendo frio e inerte.

Move-me o teu amor, de tal maneira,
Que, embora não havendo Céu, Te amara,
E não havendo inferno, Te temera.

Nada tens que me dar por que Te queira,
Se o que quero de Ti não esperara,
O mesmo que te quero Te quisera!

Stª Teresa de Ávila
                                                         (captado in, "O Astrolábio")


Tereza de Cepeda e Ahumada, nasceu em Ávila, Espanha, no ano de 1515 e faleceu em 1582, tendo deixado atrás de si um rasto de luz espiritual que continua a ser guia de muitas almas que seguem o Credo que fez dela uma Santa, e só Deus sabe, de quantas se inspiram no seu exemplo de vida para serem conformes com o espírito que dela imana, tornando-o mais presente à vida que passa.

O soneto que se reproduz é de uma rara beleza estética na forma e no conteúdo.

Cada palavra traduz um sentido e o todo na sua harmonia mística forma uma comovente imagem do Crucificado que ela exaltou, transformando o seu amor por Ele num legado que deixou à Humanidade através da forma como entendeu a vida, o trabalho e o silêncio tão caro à Ordem dos carmelitas.

Inteligente, deixou-nos várias obras escritas, como o "Livro da Vida" e o "Caminho da Perfeição", nos quais o seu fino espírito aguçado pelo fervor da sua alma, um dia, depois de uma vida cheia de amor por Deus e pelas suas criaturas se finou em Alba de Tormes, localidade que muito se honra por ter depositado o seu corpo santificado.

Lembrar almas destas neste tempo algo iconoclasta em que vivemos é um dever de consciência e, por isso, constitui um preito a alguém que o merece, na certeza que ele é feito contra algumas correntes humanas que não têm da vida espiritual o devido respeito que ela deve merecer, tão enfadonhamente andam metidos na engrenagem materializada de uma vida que se compraz em matar o espírito, quando é por ele que a vida devia ser exaltada, por este estar bem acima das finitudes da carne que um dia é pó que passa, pois só o espírito é que fica vivo.

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