No Canto I do Inferno, Dante vê-se perdido naquilo a que chamou - a selva escura - quando vivia metade do caminho da vida, afirmando que deixara de seguir o caminho certo e como era difícil descrever aquela selva selvagem, cruel e amarga e que, só a sua lembrança lhe trazia de volta o medo que sentiu e de tal monta - diz ele - que nem a morte podia ter mais crueza.
Depois, na continuação do relato, diz-nos que para falar do bem que dali resultou, conviria falar de outras coisas que do bem passam longe, dando-nos conta de não ter resposta para dar a si mesmo como fora parar àquele lugar tão sombrio, admitindo que tal foi possível pela sonolência como levava a vida, e que este facto o teria afastado da vida verdadeira, e é nesta cogitação de pensamentos que ao chegar ao pé de um monte onde começava a selva que se estendia vale abaixo, olhou para cima e viu a ladeira coberta com os primeiros raios do sol.
E peremptório, afirma que a cena trouxe tal luz à sua vida que o medo se afastou e sentiu a esperança renovada, tendo decidido - em vez de penetrar na escuridão da selva - subir o monte e tendo olhado uma última vez para aquela selva que nunca havia deixado escapar uma alma viva, após um pequeno descanso iniciou a escalada.
Dante perdido na selva escura, numa ilustração de Gustave Doré
Não foi fácil o arrepio do caminho.
Tinha dado meia dúzia de passos e vê-se em luta com um leopardo feroz que o impedia de seguir a escalada, afirmando que tentou vencê-lo e falhou todas as vezes e que, embora, acicatado pelo dia que fazia nascer a esperança de o vencer, vê-se diante de outra fera, um leão e a seguir uma loba e foi tal o medo desta que perdeu a esperança na escalada, sentindo-se empurrado para o tal lugar onde a luz do Sol não entrava.
Foi então que deu conta de caminhar para si um vulto a quem implorou:
Tinha dado meia dúzia de passos e vê-se em luta com um leopardo feroz que o impedia de seguir a escalada, afirmando que tentou vencê-lo e falhou todas as vezes e que, embora, acicatado pelo dia que fazia nascer a esperança de o vencer, vê-se diante de outra fera, um leão e a seguir uma loba e foi tal o medo desta que perdeu a esperança na escalada, sentindo-se empurrado para o tal lugar onde a luz do Sol não entrava.
Foi então que deu conta de caminhar para si um vulto a quem implorou:
- Tem piedade de mim... sejas sombra ou homem vivo.
Como resposta, ouviu:
Como resposta, ouviu:
- Homem não mais - respondeu o vulto -, homem eu fui um dia.
Nasci em Mântua, nos tempos de Júlio César e vivi em Roma no império de
Augusto. Fui poeta e narrei a odisséia de Enéas, que fugiu de Tróia depois do
incêndio. E tu, por que não sobes o precioso monte, princípio e causa de toda
glória?
Aclarou-se a mente de Dante ao perceber que tinha diante de si o Poeta Virgílio, que fora seu mestre e havia sido o seu autor predilecto, a quem disse:
- Não subi o monte por causa da última das feras que me assaltaram - a loba - por isso, ajuda-me a enfrentá-la.
Virgílio replicou-lhe:
- Convém que sigas outra viagem. A loba é a mais insaciável de todas e só te deixará quando o cão lebreiro que lhe dará a morte... e fez-lhe uma proposta:
- Vem comigo. Serei o teu guia. Levar-te-ei para um lugar eterno onde verás condenados implorando uma segunda chance. Outros sofrendo, mas tendo esperança de um dia alcançarem os abençoados e, depois, se quiseres subir ao Céu encontrarás lá uma alma mais digna que a minha, pois o Imperador daquele Reino me nega a entrada por ter sido rebelde à sua Lei.
Dante respondeu:
- Imploro-te em nome desse Deus que
não conheceste, que me ajudes a fugir deste mal ou de outro pior. Eu te
seguirei a esses lugares que descreveste. Que eu possa ver a porta de São Pedro
e os tristes sofredores dos quais falaste!
Ele então moveu-se, e eu o acompanhei.
Resta dizer que Virgílio o levou por um caminho alternativo até ao ponto em que este tendo sido chamado por Beatriz, a paixão de infância de Dante, vendo-o em apuros decide ajudá-lo, depois de ter ido ao Limbo buscar Virgílio com quem Dante prossegue o caminho até ao monte do Purgatóriio que o acompanha e protege por toda a longa jornada através dos nove
círculos do inferno, mostrando-lhe onde são expurgados os diferentes pecados, o
sofrimento dos condenados, os rios infernais, suas cidades, monstros e
demónios, até chegar ao centro da terra, onde vive Lúcifer.
Acaba o Canto I no ultimo círculo do Purgatário.
Dante despede-se de Virgílio
e segue acompanhado por um anjo que o conduz até às margens do rio Letes, onde encontra Beatriz e se purifica, banhando-se nas águas do rio para que possa
prosseguir a viagem e subir até às estrelas.
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Obra admirável formada por três Livros, a Divina Comédia com os seus 33 cantos em
cada um, hoje como ao longo dos 700 anos em que foi escrita, não
deixa de influenciar poetas, músicos, pintores e outros artistas e, sobretudo, não deixa de ser uma análise profunda da caminhada do homem sobre a face da terra, empurrado por vezes pela loba faminta do desvario para a selva escura. quando ele se quer erguer e subir o monte da vida a caminho da luz que a tal selva não tem, porque ela só exisre nas estrelas.
Que esta imagem acompanhe o caminho de todos os homens!
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