Lembra-se, a
propósito, um texto antigo de Manuel Borges Carneiro:
Tragamos à memória as antigas Republicas da
Grécia. A salvação pública era a suprema Lei, as virtudes sociais sua base. Ali
não se estimavam os homens pela riqueza e pelo fausto do seu tratamento, mas
por suas acções patrióticas.
(,,,)
Manuel Borges Carneiro - in, Livro "Portugal Regenerado em 1820"
O pequeno texto que
se reproduz é muito antigo. Foi escrito por um amante das liberdades
cívicas, e que guardadas as devidas distâncias, ainda hoje, são as mesmas que
nós, homens livres de uma velha Pátria defendemos.
No seu tempo Borges
Carneiro viu o absolutismo de D. Miguel tomar de novo as rédeas do País que em
1820 se havia reavivado nas chamas ardentes de uma nova era que trazia nos
alvores das madrugadas de então, ventos diferentes apontando caminhos de
esperança a um povo que havia abatido a águia napoleónica e se preparava para
fundar em Portugal um novo regime com base nas ideias liberais, onde o povo,
deixaria de ser – e de vez, segundo pensavam os arautos desse Liberalismo
nascente – espezinhado pelo poder do Rei e dos seus sequazes.
Borges Carneiro
faleceu em 4 de Julho de 1833 na prisão do absolutismo, mas deixou uma obra
notável de amor à liberdade, sobressaindo o seu exemplo de organizador nas
cortes extraordinárias e constituintes de 4 de Novembro de 1822.
Portugal regenera-se
em 1820.
Nos treze anos que
viveu, assistiu ao juramento pelas Cortes, das “Bases da Constituição” de 1822,
antes de D. João VI regressar do Brasil, tendo por base o documento de Cádis de
1812.
Dá-se conta dos imbróglios da política de
então, incipiente e retaliadora, que sem perdoar aos não alinhados, como
aconteceu com José Acúrsio da Neves, encetou uma prática de vindita que
acabaria por desaguar nos acontecimentos sediciosos da Vilafrancada, em 27 de Maio de 1823 e da
Abrilada, em 30 de Abril de 1824 e que
acabariam por impor o desterro de D.
Miguel para Viena de Áustria, de onde regressaria para se tornar Rei absoluto
(1828) envolvendo-se na guerra civil até 1834 delapidadora do País e a que Borges Carneiro, em parte, ainda
assiste, na prisão.
A salvação pública
que era a suprema Lei, há muito deixara de existir, porque a prática corrente
era a prisão dos vintistas (revoltosos de 1820), chegando-se ao extremo - como
foi voz corrente - de se ter envenenado
o rei D. João VI (1826).
Resultou de tudo
isto, mercê dos jogos de interesses dos políticos de então uma séria
preocupação com as finanças públicas, facto que haveria de levar os Ministros
da Fazenda, Mouzinho as Silveira em 1831 e 1832 e José da Silva Carvalho, no
ano da sua morte a contraírem empréstimos para suprirem a penúria do País,
junto do banqueiro francês Ardouin, 2 milhões de libras em 1831, 600.000 libras em
1833 e em 1833, novamente, mais 2 milhões de libras, mas desta vez ao banqueiro
Mendizabal, só não tendo assistido à venda de bens nacionais (1834) porque a
morte o poupou àquele vexame nacional.
A História, repete-se. É um lugar comum... mas
é verdade.
Guardadas as
diferenças em todos os campos da cultura e da sociedade, há algo que continua a
incomodar, hoje, o País que somos: a falta da resolução do problema crónico do
endividamento nacional - no tempo de Borges Carneiro, quando Portugal encetava
a libertação do poder totalitário da monarquia e agora, passados cerca de 40
anos, após nos termos subtraído ao poder ditatorial do Estado Novo – parecendo,
que a conquista da liberdade não tem sido capaz de consolidar as finanças
públicas, ontem, como hoje.
Neste momento este
facto deveria merecer pelo que nos diz a História, de uma aturada atenção por parte
dos agentes políticos mais responsáveis – especialmente do PS e PSD e CDS –
sobre a temática do pacto de regime sugerido pelo Sr. Presidente da República e
que é necessário fazer para salvar o País, algo que a não ser feito, é um mau
serviço prestado a Portugal pelos Partidos
mais responsáveis.
É que, se não for
assim, as futuras eleições legislativas - quando vierem a ocorrer - de nada
servem ao bem colectivo do nosso povo se continuarmos com uma política de
assobiar para o ar à espera que a crise
passe, ao mesmo tempo que a Nação irá continuar a afundar-se.
É preciso e urgente
salvar Portugal, ainda que se metam na gaveta as cartilhas partidárias, que não
têm no tempo que passa a carga ideológica de antigamente e fazer vir ao de cima
o pensamento virtuoso de Manuel Borges Carneiro, quando disse que, a salvação
pública era a suprema Lei, acrescentando logo de seguida que as virtudes
sociais seriam a sua base.
Tem de ser assim.
Esta é que é a Lei que pode salvar Portugal.
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