Agora que já passaram alguns anos sobre a morte de José Saramago, escrevo sem a paixão do momento que poderia ser injusta para como o homem que contestei pala sua postura e, com serenidade digo à sua memória "sic transit gloria mundi" (assim passa a glória do mundo), desejando paz à sua alma, ma continuando a afirmar que a sua obra, tão
enaltecida por uma dada esquerda que só vê atrocidades no sector oposto e se
esquece das cometidas por si mesma, não me merece o gáudio que lhe é atribuída,
pese, embora, o Prémio Nobel conquistado em 1998 sobre outros candidatos de
maior valia, mas por ser comunista, ter contado com o apoio de uma ingénua e
tímida esquerda escandinava que o guindou aos píncaros de uma aura imerecida.
Esta é a minha
opinião.
Efectivamente,
respeito o homem por ser um autodidacta, mas não gosto do escritor, não por um
qualquer preconceito ideológico, mas principalmente, por um motivo estético,
por não gostar da forma nem do conteúdo da sua obra literária, que reconheço,
mas onde não me revejo.
E, depois,
nunca o admirei pela sua arrogância e rispidez e pelo modo distorcido de olhar
os acontecimentos da História, ao deplorar os mortos da Inquisição, mas sem ter
tido uma palavra para o genocídio estalinista, nem do Gulag para onde foram
deportados milhões de soviéticos, conforme o relato de Aleksandr Solzhenitsyn.
Não o censurei
por ser ateu.
Censurei-o por
não ter respeitado a crença de milhões de compatriotas seus que se revêem na
doutrina de Jesus, que ele vulgarizou. É este facto, para mim, o seu grande
erro humano, porque os ataques à Igreja podem ser considerados lícitos
considerados à luz do seu espírito rebelde, mas a Igreja vai continuar eterna e a sua aura vai passando.
Censurei-o,
ainda, pelo seu iberismo e pela gáudio que isso causou em certos meios
espanhóis, que olham para Portugal como uma rebelde província espanhola, razão,
porque me pareceram demasiadas as honras do Estado português, prestadas a um
homem que via no iberismo a tábua de salvação de um povo que lutou bravamente,
por duas vezes, pela sua independência.
Saramago
morreu no dia 18 de Junho de 2010.
No dia 9 deste
mesmo mês e ano, morreu esquecido e abandonado um grande português, escritor
como ele e com uma grande obra, mas porque era tido como um homem de direita, poucos
deram pela sua morte.
Chamou-se
António Manuel Couto Viana. (1923-2010).
Foi poeta,
contista, ensaísta, actor, dramaturgo, encenador e figurinista.
Passou os seus
últimos dez anos na “Casa do Artista” em Lisboa.
Couto Viana, como
actor e figurinista, estreou-se em 1946 no Teatro Estúdio do Salitre, em Lisboa.
Em 1948, publicou o seu primeiro livro de poemas: “O Avestruz Lírico”. Entre
1950 e 1954 dirigiu os cadernos de poesia «Távola Redonda», com David
Mourão-Ferreira, Luiz de Macedo e Alberto de Lacerda. Liderou a revista Graal e
integrou a Tempo Presente.
Dedicou-se
também à literatura infantil, quer estudando-a em ensaios, quer escrevendo e
traduzindo livros destinados às crianças, quer dirigindo publicações
infanto-juvenis como Camarada (1949-1951). Aliás, uma boa parte da sua prática
teatral como actor, encenador e autor dirigiu-se também às crianças, o que terá
decerto muito que ver com a sua obra poética onde perpassam marcas de um
paraíso infantil perdido. Está representado em várias antologias de poesia
portuguesa, e poemas seus foram traduzidos para castelhano por Angel Crespo e
para inglês por Joan R. Longland. António Manuel Couto Viana foi em 1960 premiado
com o Prémio de Poesia Luso-Galaica Valle-Inclan.
Dele disse,
José Jorge Letria: Cioso do detalhe, foi
um homem que trabalhou a memória da poesia e foi um poeta de grande mérito que
voltou a ter destaque na última década e meia, porque o seu percurso foi sempre
discreto por razões ideológicas, por ser um homem de direita.
Mas, pelos
vistos, não se passou nada.
Não devia ter sido
assim, mas foi.
O nosso
Ministério da Cultura, da época, que fez deslocar uma embaixada à ilha de Lanzarote para
trazer os restos mortais de Saramago, não deu, me parece, pela morte de Couto
Viana, enquanto ao iberista convicto se teceram todas as loas.
Coisas das
injustiças de um mundo que só olha para a esquerda, quando afinal, é no olhar
em todas as direcções, políticas ou não, que o homem encontra, verdadeiramente,
o seu estatuto de ser racional que é, mas que não põe em prática pelo mau uso
de uma ideologia que a si mesmo se arroga de fazer obra completa, mas longe de
reconhecer as suas fraquezas, que estão, afinal em todas as ideologias.
Eis, porque, o
conceito latino “sic transit gloria mundi” tem todo o cabimento, porque é
neste mundo que a esquerda e a direita políticas, deixam sempre, num dia
qualquer as glórias transitória que uns recebem e outros não, como aconteceu
com António Manuel Couto Viana.
Para um e outro fica aqui, plasmado, o meu sentir e o meu respeito humano de grau diferente pelas suas vidas, mas igual perante a morte que ambos ceifou com um dia de diferença.
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