Parábola
da Porta do Ovil
Sobre
o sentido da porta que vai direita ao Coração de Deus
Texto do Evangelho de S. João
(10, 7-10)
Tornou, pois,
Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das
ovelhas. Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as
ovelhas não os ouviram. Eu sou a porta das ovelhas. Todos quantos vieram antes
de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram. Eu sou a
porta: Se alguém entrar por mim, salvar-se-á; entrará e sairá e achará
pastagens. O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir; eu vim para
que tenham vida e a tenham em abundância.
Estava Jesus a meio da parábola do Bom Pastor quando
percebeu que os seus ouvintes, duros de ouvido e de compreensão, não haviam
adquirido o ensinamento que lhes havia proposto, embora se houvesse servido da
imagem da pastorícia local e do seu intérprete mais directo.
Voltou, assim, de novo ao mesmo tema com a
afirmação que não oferecia qualquer dúvida: Eu sou a porta das ovelhas. E, logo
após, num remate certeiro, acrescenta, referindo-se a todos quantos antes dele
se apresentaram como pastores da parte do Pai: Todos quantos vieram antes de
mim são ladrões e salteadores, dizendo d’Ele mesmo que só Ele era a porta.
Jesus sabia do que falava.
No Antigo Testamento, o povo de Israel , não
raramente é chamado como sendo o rebanho de Javé: Conduzistes como um rebanho o Vosso povo, por meio de Moisés e de Aarão. (1)
e referido por Jeremias como residindo nesse rebanho os pastores do povo eleito,
que afinal eram maus servidores, como se vê neste lamento do profeta: Ai dos pastores que arruinam e dispersam o
rebanho da minha pastagem, diz o Senhor.(2)
lamento que ganha em Ezequiel uma grave condenação: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não é ao
rabanho que os pastores devem apascentar? Vós vos nutris com o leite e vos
cobris com a lã, matais as cevadas, mas não apascentais a grei. (3)
Jesus conhecia de perto estes textos e conhecia a
dura realidade dos fariseus que sem mandato algum, abusavam da sua missão,
assim como os sacerdotes do Templo.
Todos, sem excepção eram ladrões e salteadores, ao cuidarem apenas dos próprios interesses
e não do bem do rebanho. Nutriam-se com o leite e vestiam-se com a lã mas no
dizer de Ezequiel, não apascentavam a
grei.
Diz o salmista que Deus elegeu Davi seu servo e tomou-o dos apriscos do rebanho, (4)
fazendo deste antecessor de Jesus uma primeira porta do ovil e que Ele assume
para Si como sendo a verdadeira, aquela que na culminância do tempo, o Pai lhe
reservara e sobre a qual se identificava.
Assim teria de ser. Era um anúncio cheio de força
interior.
Eu sou a porta das ovelhas e não podia haver outra.
Como já
dissera o profeta quando falou das ovelhas dispersas, eu mesmo – falando de uma disposição de Deus - recolherei o resto das minhas ovelhas de todas as terras para onde as
tiver afugentado, e as farei voltar aos seus apriscos; e frutificarão, e se
multiplicarão. (5)
É a Jesus que coube já não o anúncio – que estava
feito por Jeremias - mas todo o trabalho doutrinal que tendia em reunir todas
as ovelhas perdidas de todas as terras, para
que dentro do aprisco ou do ovil, se unissem num só rebanho.
Apresenta-se, deste modo, como a porta do ovil, pela
certeza que tinha de ser o único medianeiro entre os homens e o Pai, pois só
com Ele era possível entrar dentro do ovil e chamar pelo próprio nome todas as
ovelhas, convidando-as a viver uma vida em graça.
Foi para isto que Ele foi enviado.
A unidade é o Caminho e tem de ser por aí que os
homens se têm se decidir num dia qualquer, sob pena de perderem o essencial da
vida: a entrada na porta certa, a única que conduz ao Coração de Deus.
(1) - Sl
77, 21
(2) - Jer 23, 1
(3) - Ez 34, 2-3
(4) - Sl 78, 70
(5) - Jer 23, 3
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