Quando os
exércitos nazis invadiram a Polónia no dia 1 de Setembro de 1939 e deram início
à Segunda Guerra Mundial, conta-se que após a queda de Varsóvia, a fome tomou
conta do País, como aconteceu na cidade de Wroclaw, onde a penúria de bens essenciais
era de tal monta que só a caridade de uns poucos ia atenuando o sofrimento das
multidões esfaimadas, onde avultavam as crianças que percorriam os subúrbios à
procura de comida.
Numa das quintas periféricas banhadas por um dos
braços do Oder, habitava Aleksander Pawlak, um agricultor abastado e bem
conhecido no meio por ser um benfeitor de crianças, pelas quais tinha uma
ternura muito especial.
Foi neste transe que num certo dia lhe entrou, casa
dentro, um magote de crianças de várias idades que ele, condoído, acolheu,
tendo-lhes dito o seguinte:
- Vinde sempre.
Em minha casa encontrareis para cada um de vós e em cada dia um pão que
se encontrará dentro deste gigo.
E exibiu-o.
Esfomeados como se encontravam todas as crianças de
chofre caíram sobre o gigo que desapareceu, tendo-se armado desde logo uma
peleja desenfreada para ver qual delas recolhia para si o maior dos pães.
Por fim, tendo deixado a balbúrdia, partiram com um até
amanhã, sr. Aleksander, tendo este verificado que ficara a um canto encolhida
de medo pela fúria dos outros, a criança mais pequenina do bando, chorando a
desdita de não ter alcançado um dos pães.
Foi nesse momento que o benfeitor, tendo olhado para
dentro do gigo deu que ainda havia dentro dele o menor dos pães...
- Aqui tens.
É pequenino mas é o que hoje te posso dar.
A pequena Wanda, reconhecida, agradeceu-lhe e partiu ao encontro dos companheiros que já
iam longe, aos pulos pela planície verde.
No dia seguinte a cena repetiu-se com a agravante da
algazarra e dos empurrões ter sido maior, um facto que mais uma vez originou
que a mais pequena do magote se tivesse refugiado da contenda, tentando
aguardar a sua vez de alcançar o pão – por mais pequeno que fosse – o que
conseguiu, quando no fim, o sr. Aleksander, tendo um sorriso nos lábios – que
parecia esconder algo de estranho - lhe fez a oferta de um pão pequenino, mais
pequeno que aquele que alcançara na véspera, mas que ela, retribuindo-lhe a
oferta com o sorriso mais largo que conseguiu, sobraçou cheia de contentamento,
largando a correr para casa, onde a mãe a esperava para cortar o pão e o
repartir.
Foi, quando, atónita, tendo dado dentro do pão com
dez moedas de ouro de grande valor, chamou a Wanda a quem disse de imediato:
-Isto não nos pertence. A tua mãe não pode esconder
isto... pois, certamente, há aqui um engano que terá de ser desfeito. Vai de
caminho e devolve o dinheiro ao senhor Aleksander.
Partiu a pequenita no galope maior que as suas
pequeninas pernas permitiam.
Quando avistou o benfeitor correu para ele de mão
aberta onde luziam as dez moedas.
- Senhor, estas moedas não nos pertencem... iam
dentro do pão...
- Pertencem, sim. – respondeu Aleksander – São tuas.
Mandei-as meter dentro do pão que te dei e assim foram para o forno. Sabes,
porquê?
- Não senhor, não sei...
- É uma recompensa pela tua compostura em nunca
teres entrado nas brigas para colheres o pão maior, pois uma das virtudes – e
quero que aprendes esta lição para a tua vida – é a de nos contentarmos em
conseguir o que podemos e não aquilo que está longe de nós. Tu és pequenina e
como sabias que as tuas forças não podiam alcançar os pães maiores
contentaste-te com os pães mais pequenos.
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