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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

A recompensa da compostura

 
 
 Quando os exércitos nazis invadiram a Polónia no dia 1 de Setembro de 1939 e deram início à Segunda Guerra Mundial, conta-se que após a queda de Varsóvia, a fome tomou conta do País, como aconteceu na cidade de Wroclaw, onde a penúria de bens essenciais era de tal monta que só a caridade de uns poucos ia atenuando o sofrimento das multidões esfaimadas, onde avultavam as crianças que percorriam os subúrbios à procura de comida.
Numa das quintas periféricas banhadas por um dos braços do Oder, habitava Aleksander Pawlak, um agricultor abastado e bem conhecido no meio por ser um benfeitor de crianças, pelas quais tinha uma ternura muito especial.
Foi neste transe que num certo dia lhe entrou, casa dentro, um magote de crianças de várias idades que ele, condoído, acolheu, tendo-lhes dito o seguinte:
- Vinde sempre.  Em minha casa encontrareis para cada um de vós e em cada dia um pão que se encontrará dentro deste gigo.
E exibiu-o.
Esfomeados como se encontravam todas as crianças de chofre caíram sobre o gigo que desapareceu, tendo-se armado desde logo uma peleja desenfreada para ver qual delas recolhia para si o maior dos pães.
Por fim, tendo deixado a balbúrdia, partiram com um até amanhã, sr. Aleksander, tendo este verificado que ficara a um canto encolhida de medo pela fúria dos outros, a criança mais pequenina do bando, chorando a desdita de não ter alcançado um dos pães.
Foi nesse momento que o benfeitor, tendo olhado para dentro do gigo deu que ainda havia dentro dele o menor dos pães...
- Aqui tens. É pequenino mas é o que hoje te posso dar.
A pequena Wanda, reconhecida, agradeceu-lhe  e partiu ao encontro dos companheiros que já iam longe, aos pulos pela planície verde.
No dia seguinte a cena repetiu-se com a agravante da algazarra e dos empurrões ter sido maior, um facto que mais uma vez originou que a mais pequena do magote se tivesse refugiado da contenda, tentando aguardar a sua vez de alcançar o pão – por mais pequeno que fosse – o que conseguiu, quando no fim, o sr. Aleksander, tendo um sorriso nos lábios – que parecia esconder algo de estranho - lhe fez a oferta de um pão pequenino, mais pequeno que aquele que alcançara na véspera, mas que ela, retribuindo-lhe a oferta com o sorriso mais largo que conseguiu, sobraçou cheia de contentamento, largando a correr para casa, onde a mãe a esperava para cortar o pão e o repartir.
Foi, quando, atónita, tendo dado dentro do pão com dez moedas de ouro de grande valor, chamou a Wanda a quem disse de imediato:
-Isto não nos pertence. A tua mãe não pode esconder isto... pois, certamente, há aqui um engano que terá de ser desfeito. Vai de caminho e devolve o dinheiro ao senhor Aleksander.
Partiu a pequenita no galope maior que as suas pequeninas pernas permitiam.
Quando avistou o benfeitor correu para ele de mão aberta onde luziam as dez moedas.
- Senhor, estas moedas não nos pertencem... iam dentro do pão...
- Pertencem, sim. – respondeu Aleksander – São tuas. Mandei-as meter dentro do pão que te dei e assim foram para o forno. Sabes, porquê?
- Não senhor, não sei...
- É uma recompensa pela tua compostura em nunca teres entrado nas brigas para colheres o pão maior, pois uma das virtudes – e quero que aprendes esta lição para a tua vida – é a de nos contentarmos em conseguir o que podemos e não aquilo que está longe de nós. Tu és pequenina e como sabias que as tuas forças não podiam alcançar os pães maiores contentaste-te com os pães mais pequenos.

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