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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Luis de Camões (1524? - 1580)





Sabe-se pouco da vida deste Poeta, o maior da língua portuguesa e dos maiores do mundo, alinhando o seu génio a par de Homero, Virgílio, Dante, Cervantes, Shakespeare e Goethe, constituídos como símbolos do valor e da gesta das suas respectivas Pátrias.
Camões, isto é sabido, é de origem de uma família nobre do vale de Minõr, na Galiza, tendo sido Vasco Peres de Camões a primeira pessoa que se fixou em Portugal no ano de 1370 na qualidade de apoiante do rei D. Fernando nas suas pretensões ao reino de Castela, tendo recebido como prémio as alcaidarias de Portalegre e Alenquer.
Este ascendente do Poeta veio a morrer na Batalha de Aljubarrota. Um seu descendente, João Vaz de Vila Franca teria siso o avô paterno de Luís de Camões. Segundo se crê, o pai, Antão Vaz, casou em primeiras núpcias com D. Guiomar Vaz da Gama, da família do navegador Vasco da Gama e, depois, com D. Ana de Sá, que se supõe ser a mãe do Poeta.
É ponto assente que a primeira biografia de Luís de Camões foi escrita em 1613,  por Pedro de Mariz (1550-1615), filho do livreiro de Coimbra, António de Mariz, no tempo em que Camões ali viveu.
Porém, nem ele nem outro qualquer biógrafo nos dá como certa a indicação do local e da data do seu nascimento, apontando-se como provável o ano de 1524. Várias localidades do País disputam a glória de ser seu berço, mas Lisboa e Coimbra com mais probabilidades de êxito.
Não custa a crer que tenha sido em Coimbra, pois é para esta cidade que ele dedica, quando parte um soneto emocionado que começa assim:

 
Doces e claras águas do Mondego,
doce repouso de minha lembrança (...)
e, ainda, a “Canção IV”,  cujos versos iniciais nos falam assim:
Vão as serenas águas
do Mondego descendo
mansamente, que até o mar não param;
por onde minhas mágoas
pouco a pouco crescendo,
para nunca acabar se começaram. (...)
 
Um seu tio paterno, D. Bento de Camões que foi cónego de Santa Cruz e chanceler da Universidade, parece ter sido o protector e mentor de seus estudos, mas é correcto afirmar-se que foi o próprio ambiente da Universidade, reformada em 1537 por D. João III, que  lhe ofereceu meios e curiosidades que foi satisfazendo através de um audotidatismo que o burilou como um poeta de uma viva cultura no seu tempo.
Na sua lírica floresceram temas de vária origem, emergindo da vida com toda a cor e o bulício desta, e é isso lhe dá um valor precioso que nos deve merecer todos os encómios.
Camões foi fidalgo e frequentador do Paço Real.
Neste convívio, segundo se crê, teria Camões amado quem não devia, tendo em conta o tempo em que vinha ao de cimo a desigualdade dos estados sociais, de que ele mesmo, se queixa, e como tal tivessem estado na origem da perseguição de algum pai fidalgo ou de um qualquer irmão régio, e cujas afrontas assim causadas, lhes tivessem apressado os desterroas a que foi sujeito.
Atribuem-se-lhe alguns, sendo um para Ceuta, onde se bateu como soldado em combate, um facto histórico que lhe custou a perda do olho direito.
Regressado de Ceuta, parece ter continuado a sua saga de prazeres e de rixas.
Ao que parece, Camões, nessas andanças de amores estouvados feriu numa rixa mais acesa, um tal  Gonçalo Borges – do Paço Real -  e, logo na tarde em que ocorria em Lisboa a procissão do Corpo de Deus. Preso de imediato no Tronco,  ali passou uns meses de prisão preventiva,  ao fim dos quais, tendo obtido do agredido, o perdão, conseguiu que o Rei, D. João III o pusesse em liberdade, com a promessa de o ir  servir na Índia.
Obtida a “Carta de Perdão” em 1553, parte para aquela parte do mundo dois anos depois.
Pelo Oriente a vida de Camões é tormentosa.
Com altos de glória, mas com depressões e descidas bruscas e impetuosas.
Da viagem feita pelo mar revoltado, ficou-lhe para sempre na memória  a tempestade a que assistiu, atónito e, naturalmente, com medo, na dobra do cabo da Boa Esperança e que ele não esqueceria jamais, tendo ali vivido a experiência da tempestade sofrida por Vasco da Gama e que ele haveria de descrever magistralmente no episódio do Adamastor , cuja figura é apresentada deste modo, no Canto Quinto, estrofe 39 de “Os Lusíadas”.
 
  "Não acabava, quando uma figura
        Se nos mostra no ar, robusta e válida,
        De disforme e grandíssima estatura,
        O rosto carregado, a barba esquálida,
        Os olhos encovados, e a postura
        Medonha e má, e a cor terrena e pálida,
        Cheios de terra e crespos os cabelos,
        A boca negra, os dentes amarelos.
 
Ao fim de 16 anos, regressa a Portugal. Regressa sem ter de seu o pagamento da viagem, indo numa primeira leva para a ilha de Moçambique, onde não tinha com que pagar à nau que embarcasse de volta ao Continente.
Diz Diogo de Couto que ali o viu vivendo de esmola amigos, dando a última demão a “Os Lusíadas”.
Parte, finalmente, em 1569. Como única riqueza, trazia aquele Poema imortal, que ele mesmo refere - no canto X, estrofe 128 - ter salvo do naufrágio em que perdeu uma moça oriental a que vinha muito preso de amores e a que dedica um célebre soneto, que é o mais belo hino de amor da lírica portuguesa de todos os tempos:
 
 
Alma minha gentil, que te partiste
tão cedo desta vida descontente,
repousa lá no céu eternamente,
e viva eu cá na terra sempre triste.
 
Se lá no assento etéreo onde subiste,
memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
que já nos olhos meus tão puro viste.
 
E se vires que pode merecer-te
alguma coisa a dor que me ficou
da mágoa, sem remédio, de perder-te,
 
Roga a Deus, que teus anos encurtou,
que tão cedo de cá me leve a ver-te,
quão cedo de meus olhos te levou.
 
Luís de Camões conseguiu publicar “Os Lusíadas” em 1572 graças à influência de alguns amigos junto do rei D. Sebastião. Faleceu em Lisboa no dia 10 de Junho de 1580. É considerado o maior poeta português, situando-se a sua obra entre o Classicismo e o Maneirismo.
Mal entendido pelos estudantes a que um ensino ortodoxo impunha o estudo gramatical de “Os Lusíadas” , continua neste tempo, a não ser acarinhado, porque o ensino que temos se tem esquecido dele, que é, no entanto, a nossa grande glória poética.
É por isso, que nos parece importante do ponto de vista cultural e didáctico, lembrar a trama que ele cantou em cada um dos cantos de “Os Lusíadas” que é, como se sabe, um dos maiores e mais lindos Poemas épicos da Humanidade.
É uma jóia da época clássica, de que Camões é o expoente maior em Portugal.
 



CANTO I

Proposição: (estrofes 1 a 3) Intenção do poema: celebrar os feitos lusitanos, navegações e conquistas.
Invocação (estrofes 4 e 5) às ninfas do Tejo (Tágides) para que dêem inspiração.
Dedicatória (estrofes 6 a 18) ao rei D. Sebastião.
Narração: a partir da estrofe 19, Concílio dos deuses sobre a ousada decisão dos portugueses: devem favorecê-los ou impedi-los? Júpiter é favorável; Baco, ferrenhamente contrário; também são a favor Marte e Vénus, esta nos Portugueses vendo a raça latina descendente de seu filho Enéias. Baco, derrotado na assembléia divina põe em acção a sua hostilidade contra os lusitanos, procurando impedir por todos os meios que cheguem à Índia, e para isto se valendo da gente africana, que lhes arma ciladas.



CANTO II

Chegada a Mombaça, onde continuam as hostilidades de Baco na traição dos Mouros: os navegadores seriam sacrificados se acedessem ao pérfido convite do rei para desembarcarem. Vénus, porém, de novo os salva, intercedendo junto a Júpiter. Retracto de Vénus [36. "Os crespos fios d'ouro se esparziam / pelo colo (...)"]. Júpiter profetiza os gloriosos feitos lusíadas no Oriente (44 e ss.) e envia Mercúrio a Melinde, a fim de predispor os naturais desta cidade a bem acolherem os Portugueses, o que se cumpre. O rei de Melinde pede ao Gama lhe narre a história de Portugal.


CANTO III

Invocação à musa da eloquência e da epopeia, Calíope, e logo a narração do Gama ("Entre a Zona que o Cancro senhoreia..."): geografia e história de Portugal (destaque para a batalha de Ourique, a guerra contra os mouros, a batalha do Salado e, sobretudo, o episódio de Inês de Castro "Que depois de ser morta foi Rainha" — 118-35).



CANTO IV

Prossegue a narração do Gama, com relevo para Nuno Álvares Pereira e as batalhas contra os castelhanos, sobretudo a de Aljubarrota (28. "Deu sinal a trombeta Castelhana, / Horrendo, fero, ingente e temeroso"), as conquistas na África, a batalha de Toro, o reinado de D. Manuel e seu sonho do domínio das Índias, a partida para o Oriente e as famosas imprecações do Velho do Restelo (95. "Ó glória de mandar! Ó vã cobiça"), 94-104, que em clímax inspirado encerram o canto.

 
CANTO V

Partida da expedição de Vasco da Gama. A tromba marinha (19-23). Na Ilha de Santa Helena; aventura de Fernão Veloso. O gigante Adamastor (38-60). Conclusão da narração.



CANTO VI

Festas aos navegadores em Melinde e partida da frota para Calecute. Novas insídias de Baco, junto a Neptuno. Descrição do reino de Neptuno (8-14). Fernão Veloso narra o episódio dos Doze de Inglaterra (42-69) para distrair a monotonia de bordo. Tempestade provocada pelo insidioso Baco (70 e ss.), com nova intervenção de Vénus (85 e ss.) que amaina o furor dos ventos. Chegada a Calecute (92), acção de graças de Vasco da Gama (93-4) e elogio da verdadeira glória — a dos que enfrentam "trabalhos graves e temores", " tempestades e ondas cruas".

 
CANTO VII

Chegada à Índia. Elogio de Portugal pelo Poeta. Descrição da Índia. Encontro com o mouro Monçaide, que descreve a Índia (31-41). Portugueses recebidos pelo regente dos reinos — O Catual, o Samorim. Troca de gentilezas e informações. O Poeta novamente invoca as musas (78 e ss.) para, inspirado,  poder prosseguir no canto.



CANTO VIII

Paulo da Gama, irmão de Vasco, narra ao Catual a história dos heróis portugueses (Luso, Ulisses, Viriato, Sertório, D. Henrique, Afonso Henriques, Egas Moniz, etc.). Baco insiste na perseguição, instigando em sonhos os chefes dos nativos. Hostilidades e retenção de Vasco da Gama em terra, que só se liberta a poder de dinheiro (93-6), donde se comprova  o poder corruptor do vil metal (96-9).

 
CANTO IX

Retenção de Álvaro e Diogo – ver estrofe 94 do canto VIII -  portadores da "fazenda" como um mero pretexto para deterem-se os descobridores europeus. Por fim, libertados, recolhem às naus que preparam a volta à Pátria. Vénus resolve premiar os heróis (18 e ss.) com prazeres divinos: descrição da Ilha dos Amores (51-87) e do seu simbolismo (88-95).

 

CANTO X

Banquete de Tétis aos Portugueses, na Ilha dos Amores. Canta uma ninfa profecias de Proteu. Nova invocação do Poeta a Calíope (8-9), que permita condigna conclusão do poema. Relembrança das profecias da Ninfa; glórias futuras de Portugal no Oriente (10-73). Tétis mostra a Vasco da Gama a máquina do Mundo, como a viu o sábio Ptolomeu (76-142) — céus e terras, com destaque para a Ilha de São Tomé (109-19). Partida da Ilha dos Amores e regresso a Portugal. Desalento do Poeta (145. "No mais, Musa, no mais, que a Lira tenho / Destemperada, e a voz enrouquecida") por "cantar a gente surda e endurecida". Fala final a D. Sebastião e conclusão do poema

 

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