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quinta-feira, 12 de setembro de 2013

O Renault 4 do Papa Francisco

 
 
 
 
 
O Padre Renzo Zocca,  pastor de uma cidade de Verona, no início de Agosto manifestou por carta dirigida ao Papa Francisco o desejo de lhe oferecer o seu velho automóvel, gesto que mereceu do Papa um telefonema, tendo dito o seguinte, acompanhado com esta pergunta:
- Entendo que me queira obsequiar... mas não seria melhor dar aos pobres o seu valor?
A que o ofertante respondeu:
- O automóvel já fez muito pelos pobres. Agora tem de ser do Papa.
E assim no sábado, dia 7 de Setembro de 2013, antes da vigília de oração pela paz na Siria, o Papa Francisco encontrou-se na Praça de Santa Marta com um grupo de 50 fiéis da Diocese de Verona que se faziam acompanhar pelo Padre Renzo Zocca, tendo recebido deste a oferta: um Renault 4 branco, modelo de 1984, que conduzido por ele percorreu 300.000 Km entre o Val D'Aosta, as Dolomitas e Roma.
A cena foi simples.
Como foi simples o gesto do ofertante e do mesmo jeito o do beneficiado.
Esta cena reflecte à evidência a nova mentalidade que a Igreja tem de assumir, bem fundada como está nas raízes do seu Fundador, que cumpre recriar em cada dia com o espírito da simplicidade que deve viver-se e de que o Papa Francisco tem sido pródigo em linguagem e acções em que a pompa e o artificialismo de que alguns membros da Igreja - pela sua postura fora das regras canónicas -  fazem lembrar uma famosa passagem de um trecho de Vauvenargues, quando diz: Cansado às vezes do artificialismo que domina hoje em todos os géneros, (...) digo comigo mesmo: se eu pudesse encontrar um homem (...) que falasse somente para se fazer entender e para exprimir os sentimentos do seu coração, um homem que só tivesse a razão e um pouco de naturalidade: com que ardor eu correria para descansar na sua conversa ao invés do jargão e dos epigramas do resto dos homens! Como é que acontece perder-se o gosto pela simplicidade a ponto de não mais se perceber que ele foi perdido? Não há virtudes nem prazeres que dela não retirem encantos e as suas graças mais tocantes. Existe alguma coisa de grande ou de amável quando dela a gente se afasta? Do momento que ela não é reconhecida, não é falsa a grandeza, o espírito desprezível, a razão enganadora e todos os defeitos mais hediondos? (1)
Peçamos a Deus que ponha sempre nos nossos caminhos homens - como o Papa Francisco - que falem somente para se fazer entender e para exprimir os sentimentos do seu coração e, nos livre, dos artificialismos da linguagem erudita demais e, também, dos gestos largos, mas de sinais pequenos ou, mesmo, ausentes.
Resta-nos pedir a Deus que no velho Renault 4 - igual a um que teve na Argentina - o Papa Francisco faça boas viagens como aquela que fez após o recebimento daquela oferta singular.
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(1) - Luc de Clapiers Vauvenargues, in 'Das Leis do Espírito'

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