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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

"Um tiro no pé"...




Ontem, na TVI24 qualquer membro da oposição ao governo actual não teria sido mais contundente que a antiga líder do PSD, Manuela Ferreira Leite.
Se fica bem a independência política  a quem realmente o é, aquilo a que se assistiu não pode deixar de se considerar "um tiro no pé" de quem se reclama social-democrata e assim é considerada pelo comum das pessoas que seguem a vida política nacional.
Tudo veio a propósito do recente chumbo do Tribunal Constitucional sobre a "requalificação dos funcionários públicos", mas quando se diz: é " preocupante que se amedronte as pessoas com um papão" chamando à colação a dificuldade acrescida - segundo o governo, do futuro diálogo com a "troika" que não trada aí - esta frase podia fazer parte de um qualquer compêndio da oposição e não de quem, pela sua antiga responsabilidade partidária, deveria ter sido mais comedida no trato público dado ao governo do seu próprio partido, quando a verdade que é dita, é chamada: um 'bluff' de todo o tamanho, acrescentando: Tudo isto é um processo que demoraria muito mais de um ano, porque só na qualificação eles estariam um ano, mesmo que não tivesse sido considerado inconstitucional nunca isto teria qualquer efeito orçamental nem este ano, nem no próximo.
Não nego a verdade desta afirmação.
Nego o local. Nego a afronta directa a um governo do seu Partido - que com dificuldades bem conhecidas e pouco traquejo político - está a emendar a mão que por demais enterrou o País numa orgia gastadora, de que ela mesmo, no tempo em que foi Ministra das Finanças não pôs termo.
Qualquer dirigente do PS fica a milhas desta antiga dirigente do PSD, nesta opinião e noutras de que tem sido protagonista.
São recados de quem?
Será que é difícil adivinhar?
É por esta e por outras que o eleitor se vai afastando do interesse que lhe devia merecer a causa nobre da política, chamando para defesa da sua tese - e como exemplo -  o poema de Francisco Quevedo: "Desenganado da Aparência Exterior" e da qual o Poeta nos dá conta deste jeito:


     Vês tu este gigante corpulento
 que solene e soberbo se reclina?
 Pois por dentro é farrapos e faxina,
 e é um carregador seu fundamento.

     Com sua alma vive e é movimento,
 e onde ele quer sua grandeza inclina;
 mas quem seu modo rígido examina
 despreza tal figura e ornamento.

     São assim as grandezas aparentes
 da presunção vazia dos tiranos:
 fantásticas escórias eminentes.
 
     Vês que, em púrpura ardendo, são humanos?
 As mãos com pedrarias são diferentes?
 Pois dentro nojo são, terra e gusanos.

 in 'Antologia Poética'
 
Tem razão Francisco Quevedo.
Como tem razão a voz do povo quando diz: "quem não quer ser lobo não lhe veste a pele", o que devia conduzir Manuela Ferreira Leite a ter uma postura diferente pelo respeito que lhe devia merecer a sua própria imagem e todos aqueles que se reviram postados nela, num tempo bem recente e em que acreditaram.
Lamento ter escrito isto.
Mas não resisto a dizer que a "res publica" - coisa do povo - merecia ser melhor tratada para que o povo acreditasse mais nos agentes políticos que o servem e não se sentissem, como diz o título do poema "desenganados da aparência exterior".

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