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domingo, 22 de setembro de 2013

Coisas do anticlericalismo

 
Só os mais desatentos não reparam no anticlericalismo actual, mercê do papel activo da maçonaria infiltrada às escondidas no poder, ao arrepio do conceito das novas democracias que tendem para que o jogo político se não faça nas costas do povo.
Esta prática do jogo escondido – com a agravante de nele se jogar a sorte do povo sem que este seja consultado -  vem desde meados do século XVIII, quando subiu ao trono D. José, dando a Sebastião José de Carvalho e Melo, (futuro Marquês de Pombal) pelas provas dadas como embaixador em Londres e Viena de Áustria, o lugar de Primeiro-Ministro, entregando-lhe toda a condução dos negócios do Reino, um facto que causou, então, as maiores inimizades na Companhia de Jesus, relativamente ao rei reformar dor.
Esta Ordem religiosa nascida a partir da corrente da Contra-Reforma existia em Portugal desde 1540 e tinha uma como regra uma profunda acção educativa, fazendo dela a sua principal tarefa, a par da experiência pedagógica e da gratuidade do ensino, visando a formação integral do homem, de acordo com a fé e a cultura do tempo.
Não tardou que o vingativo chefe do executivo ordenasse em Setembro 1759 a expulsão dos jesuítas, em obediência a si mesmo e ao Rei, seduzido pela filosofia herética que então aflorava, indo a sanha persecutória ao ponto de em Junho do ano seguinte ter sido decretado por alvará a alteração do ensino público, tendo sido extintas as escolas reguladas pela Companhia de Jesus.
A Companhia de Jesus era um obstáculo ao projecto político que se pretendia implementar: um sistema que Carvalho e Melo queria ver centralizado no Estado, sendo mais fácil de controlar. Era o sistema baseado nas teorias iluministas que ele queria impor sem escrúpulos quanto aos meios a usar e indiferente face à resistência das forças sociais do País. Tendo sido iniciado na Maçonaria aquando da sua estadia como embaixador em Viena de Áustria, deu grande impulso à disseminação dos maçons  em Portugal, na peugada do escocês George Gordon, que em 1733 havia estabelecido uma loja em Portugal, designada Casa Real dos Pedreiros-Livres da Lusitânia.
Estes ataques, porém, visavam mais fundo
Não era só o problema dos jesuítas.
Era o da existência da Igreja, enquanto obstáculo ao absolutismo que Pombal queria impor, dando-se o agravamento das relações em Abril de 1759, quando D.José, em carta dirigida ao Papa Clemente XIII, solicitou autorização para julgar colectivamente a Companhia de Jesus, respondendo o Papa em Agosto desse ano, recusando a proposta real, o que viria a justificar que a 15 de Julho de 1760, fosse participado ao Núncio Apostólico a ordem régia para se retirar do reino o mais breve possível, consumando-se o corte de ralações entre Portugal e a Santa Sé.
Como corolário destas desavenças em 21 de Setembro de 1761, acabou por ter sido condenou à morte o Padre Gabriel Malagrida que a Inquisição julgou como réu de lesa-majestade.
O que aconteceu, com a extinção dos jesuítas foi um desastre civilizacional à escala nacional, porque na educação e na ciência se perderam metas e assim veio a morrer o dinamismo moral e intelectual da época, motivado pelo encerramento de algumas dezenas de Colégios em todo o Império, porque o ensino do povo que os padres encarnavam, nunca mais se equilibrou até aos dias de hoje, há que dizê-lo, com frontalidade.
Este foi, em síntese, o primeiro ataque à Igreja, em Portugal, tendo sido um ataque à própria Nação, por instigação de um homem dominador do seu próprio rei.
Com a Viradeira (1) Pombal caiu em desgraça, e Pina Manique perseguiu as lojas e os maçons, tendo mudado a situação com as invasões francesas. A Família Real, acossada,  retirou-se estrategicamente para o Rio de Janeiro, deixando o País entregue à ajuda inglesa, que por fim com o povo revoltado sacudiram os franceses, mas deixando a germinar as sementes revolucionárias.
Com a Corte no remanso brasileiro, a revolução liberal triunfou no Porto. Estava-se em 1820. A revolta tinha sido cozinhada numa loja maçónica chamada “O Sinédrio”.
D. João VI voltou à pressa mas nunca mais conseguiu liderar os acontecimentos. Jurou-se uma Constituição, a primeira, em 1822, e o Rei deixou de governar.
Preparava-se na amálgama dos acontecimentos políticos o segundo ataque à Igreja, num tempo em que as relações entre Portugal e a Santa Sé já se haviam recomposto.
Eclodiu com o Liberalismo triunfante,  quando D. Pedro IV, três dias depois de chegar a Lisboa, vindo do Brasil, ordenou a saída – mais uma vez - do Núncio Apostólico, através de um ofício datado de 29 de Julho de 1833.
Foi o começo duma perseguição atroz à Igreja, com a formação nesse ano de uma Comissão de Reforma eclesiástica, que de imediato, substituiu a hierarquia católica por vigários eleitos pelos cabidos sujeitos às leis governamentais, por não ter sido revogado o número 2 da artigo 75º da “Carta Constitucional” outorgada em 1826, que decretava que o rei tinha poderes para: Nomear Bispos e prover os Benefícios Eclesiásticos, uma anormalidade que deu azo à eclosão de um clero situacionista e apático, de mesuras ao Governo, longe das suas funções apostólicas, dando-se uma forte ingerência política na nomeação dos Bispos e daí, a consequente degradação da vida da Igreja, com esta a viver prisioneira do Estado liberal.
De novo, os jesuítas, que se haviam reorganizado, são expulsos por ordem do célebre “Mata-Frades”, Joaquim António de Aguiar, ministro do Reino, que ordenou a extinção das Ordens religiosas, mandando incorporar os seus bens na Fazenda Nacional.
A Igreja, um dos pilares do regime absolutista derrotado, tinha agora que se adaptar aos novos tempos, nem que para isso se substituíssem os padres relapsos ao regime por outros fiéis ao regime liberal.
A oposição aos liberais chegou ao ponto de levar as populações das dioceses de Braga, Porto, Bragança, Viseu, Aveiro e Coimbra, a recusar participar em actos de culto oficiados pelos novos párocos ou expulsavam os padres aderentes ao liberalismo.
Assim estava o Portugal da era revolucionária de 1820, quando o Liberalismo às costas da Maçonaria impôs a sua lei.
Este estado de coisas só viria a atenuar-se com a subida ao trono da rainha D. Maria II, em 1834, mas tendo durado até 1842, quando foram restabelecidas as relações com a Santa Sé.
Uma nova perseguição surgiu em 1910, quando os republicanos chegaram ao poder, ao constatarem que havia um obstáculo às suas ideias: a influência da Igreja na opinião pública.
Retomando a tónica de Miguel Bombarda que dizia: Só ao Estado compete formar os espíritos, só a ele pertence modelar as forças vivas da nação. Só ele sabe fazê-lo e só ele tem recursos para o fazer,  era preciso expulsar Deus da Constituição e, em consequência, expulsar, mais uma vez as ordens religiosas que desde meados do século XIX estavam sediadas em Portugal, com o seu papel determinante nos campos da assistência e do ensino, o que o Estado não fazia minimamente.
Não importava.
Havia que separar a religião da política – o que era admissível e até necessário – se não fosse querer o Estado formar as consciências através de uma formação cívica obediente e deformadora da moral natural do indivíduo.
O decreto da separação não tardou. Aconteceu em 20 de Abril de 1911.
Os republicanos de 1910, nada tinham aprendido com o abatimento moral da Nação levada a cabo pelos liberais do século anterior, tendo prosseguindo as ilusões do Iluminismo, cuja ideia maior era a de que o homem tinha a capacidade de progredir até alcançar a perfeição através da Razão.
Era tarefa do Estado de mudar as consciências e formar os espíritos, dentro dos ideais jacobinos da Revolução Francesa, que tantos os liberais como os republicanos de então tentaram impor a Portugal, era algo que tinha de ser cumprido, não lhes bastando remeter a religião para a esfera íntima do indivíduo, porquanto era necessária extirpá-la das consciências.
De pouco ou nada importava que ao pretender-se suprimir a religião da vida pública e, como se pretendia da vida privada, se perdessem – como veio a acontecer  - a perda de valores fundamentais, devido em grande parte à subserviência de uma grande parte do clero durante décadas, tendo-se deixado acorrentar aos ideais perversos do Estado,  até ao surgimento de grandes e destemidos Bispos, como D. Sebastião Leite de Vasconcelos, Cardeal Mendes Belo e D. António José de Sousa Barroso.
E na actualidade?
A Concordata de 1940 demorou anos a ser revista até que, finalmente, foi aprovado um novo texto em 18/12/2004, mas que até à data pouco ou nada foi regulado, o que levou  a hierarquia da Igreja portuguesa em 12/7/2007 a apelar ao primeiro-ministro para que o Governo avançasse o mais rapidamente possível com "propostas dialogantes" de legislação complementar sobre a Nova Concordata, com o fim de se evitar "um vazio legal", porquanto é desejável uma real separação de poderes devidamente regulamentados.
Num passado bem recente (12/11/2005) por ocasião do Congresso para a nova Evangelização, a Igreja promoveu uma procissão com a imagem de Nossa Senhora de Fátima, em Lisboa, um facto foi um sucesso juntando muitos milhares de fiéis, mas logo, no dia seguinte (coincidência? )foi decretado pelo Governo a proibição dos crucifixos em 12 escolas públicas onde estavam presentes aqueles objectos de fé.
Não têm cessado outros ataques à Igreja, onde a sua intervenção âmbito social é cada vez mais delimitada.
A imprensa regional, onde a Igreja tem grande implantação, é cada vez mais dificultada na sua acção.
O número de capelães militares não pára de diminuir, tendo culminado com as incríveis regras com que se pretendem agrilhoar a acção dos capelães hospitalares, um facto a que a Igreja resistiu e, parece estar a ser estudado.
O Parlamento nacional aprovou uma nova Lei sobre o Protocolo do Estado, onde a Igreja só estará representada, se for convidada, de acordo com a Constituição de 1976 que restaurou o princípio da separação tão querida desde os tempos da Primeira República.
Mas o ataque à Igreja, de longa tradição humanista entre nós e a quem Portugal tanto deve, não se fica por aqui.
Critica-se às escancaras a bênção religiosa de obras ou equipamentos públicos, a celebração de cerimónias religiosas por iniciativa de entidades públicas, e até a presença de entidades oficiais, nessa qualidade, em cerimónias religiosas.
O que conta, porém é que hão-de passar todos os Estados e todas as Maçonarias e a Igreja, pilar eterno de um poder intemporal há-de ficar por cima dos escombros das sociedades laicas que não têm sabido ler o que nela é o seu estatuto maior: o do Amor, em contraposto ao tripé enganador da Liberdade, Igualdade e Fraternidade, que importado de 1789, da França revolucionária, foi adquirido como divisa das lojas maçónicas, mas onde aqueles conceitos só fazem sentido, não para o povo em geral, mas para as elites dos seus apaniguados.
Ontem como hoje.
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(1) - Viradeira é designação que se dá ao período que se iniciou a 13 de Março de 1777 com a nomeação por D. Maria I de novos Secretários de Estado, em substituição do marquês de Pombal. Neste período deu-se uma progressiva quebra do controlo estatal sobre muitas das áreas económicas, com a extinção de alguns dos monopólios mercantis estabelecidos por Pombal, e permitiu-se uma retoma da influência da Igreja e da alta nobreza sobre o Estado. Muitos dos presos políticos foram libertados e muitos nobres foram reabilitados, incluindo alguns a título póstumo. (in, Wikipédia)


 

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