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domingo, 15 de setembro de 2013

Tens de comer!

 
 
 
Gravura publicada pela Revista "A Paródia" de 16 de Abril de 1902
 
 
Ninguém sabe, temporalmente, situar a cena bíblica personificada por Adão, Eva e a serpente capciosa que levou Eva a dar a comer a maçã da "árvore proibida" ao ingénuo Adão, que caiu na esparrela.
Mas a cena, inesperadamente - fora de qualquer contexto de ordem espiritual - situa-se no tempo que vivemos, com algumas diferenças: a serpente transfigurou o aspecto da cabeça e esta passou a ter a configuração humana personificando a pléiade de credores internacionais representados pela "troika" que de vez em quando nos vem visitar, para aquilatarem do modo como estamos a gerir o dinheiro que nos emprestam.
Quanto a Adão, envergonhado da nudez, apresenta-se como se fosse uma figura "moderna" de calções, chapéu na cabeça e de bordão de peregrino, que outra coisa ele não é, no tempo que passa, que um pobre de Deus à procura de um milagre qualquer que o livre da penúria.
No que se refere a Eva, esta mantém o mesmo aspecto - incluindo a nudez - com a diferença de representar o governo actual e deste modo, apresentar-se como representante da MAIORIA, nome que ostenta bem visível na gravura, dando a comer a maçã ao pobre Adão.
Resulta isto, da próxima vinda da serpente - leia-se "troika" - a Portugal, dia 16 de Setembro e, como de costume, do alto da sua postura - e impostura mal disfarçada por causa dos "patrões" que servem - dizem à Eva (entenda-se, o GOVERNO) que tem de convencer Adão (O POVO) a comer a maçã da malfadada árvore do convénio estabelecido.
Adão, ainda pergunta, por entre dentes:
- Mas eu, se nada fiz de mal, porque tenho de comer o que me dás? 
A que a Eva responde:
 - Nada a fazer, querido Adão... é a serpente que manda... e que, tu sabes, vieram a Portugal em  representação dos SENHORES DO CAPITAL... daqueles que nos emprestaram dinheiro... lembras-te?
E o pobre do Adão, com vontade de lhes dar na cabeça com o bordão de peregrino, por fim, teve de aceitar e comer do que lhe davam, pouco lhe faltando para se encher de desculpas de ter oferecido alguma resistência.
Isto, embora, romanceado, não é uma história...
É a dura realidade que temos por termos deixado à solta governos sem "rei nem roque", nos quais, alegremente votamos.
E se na história bíblica o bom do Adão se deixou enganar- não tendo culpa - neste facto real, o Adão que somos, e que parece  uma cópia decalcada da mítica personagem do Génesis, também como ele nos deixamos enganar - por culpa nossa -  não pela serpente bíblica que os nossos credores personificam, mas por umas certas "serpentes" que andam por aí e deviam ser expulsas do "Paraíso" em que vivem, à custa de nos terem enganado.
 



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