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quinta-feira, 26 de setembro de 2013

O sino do nosso descontentamento




A desgraça é o vínculo mais estreito entre os corações
La Fontaine


La Fontaine, como sabemos, foi um extraordinário fabulista, mas o pensamento que vai em epígrafe e lhe é atribuído, ao contrário das muitas fábulas que nos deixou não esconde a verdade sob uma qualquer ficção, porquanto ela evidencia com todo o rigor da análise histórico-social o facto de ser nas horas amargas que deve ganhar mais sentido o entendimento das partes, sejam elas pessoas ou comunidades.

O que actualmente se passa em Portugal é – não tenhamos medo das palavras – um sobressalto que já atinge o colectivo da velha Nação que somos e que devia implicar entre as forças que formam o triunvirato político (PSD; PS e CDS-PP) um esforço redobrado para esbaterem as diferenças que os separam e fazer delas o vínculo mais estreito entre os corações tendo presente que é necessária uma aproximação de boas vontades para salvar o coração arrítmico do País, que sofre por causa das inquietações do povo onde já são visíveis estados de pobreza e até, de alguma de pobreza envergonhada, que é mais dura de sofrer.

Deixem governo e oposição de armar em sabichões e de se querer impôr a receita de um à do outro, porque ninguém tem ao dispor o mesinha que salve a doença de que sofremos num “abrir e fechar de olhos” tendo em cima de nós a “bota ferrada” do capital internacional que nos emprestou o dinheiro que as nossas aventuras de supostos novos-ricos nos obrigaram a pedir, á beira da bancarrota.

A memória colectiva do povo não pode deixar que O PS que pediu o empréstimo e o assinou em nome de Portugal se esqueça disto e quem o subscreveu – PSD e CDS-PP – exijam responsabilidades tripartidas quanto à solvência que é preciso fazer.

Extremaram-se posições, é verdade, mas tem de ser a partir dos desentendimentos que elas causaram que temos de construir os vínculos possíveis – que não tenham apenas têm como horizonte o umbigo de cada um dos partidos – mas de boas vontades para resgatar o País do pesado fardo que não há o direito de fazer passar para as gerações futuras, como já aconteceu.

A hora é de “toque a rebate”, mas não há defuntos a chorar.

Há um País que toca, finalmente, na torre sineira do nosso descontentamento os badalos de uma “troika” sem coração, porque, habitualmente, quem empresta dinheiro põe de lado os sentimentos e o que pretende é ter de volta o dinheiro emprestado.

Importa, por isso, levar a sério o conceito do homem público que foi La Fontaine e tomar como traço de concórdia o que ele disse quanto ao facto da desgraça, neste caso, o endividamento em que estamos envolvidos poder vir a ser o vínculo mais estreito entre os corações dos homens públicos e de todos os que fazem parte – como eu - dos homens comuns, a quem cabe nesta hora difícil o discernimento de ajudar os dirigentes da res publica a tarefa patriótica da devolução ao povo da honra que temos em ser portugueses, a Nação mais antiga do Continente europeu.

Não tenhamos ilusões.

Ou cumprimos ou nos sucede o que está a acontecer na velha Grécia, Pátria de grandes filósofos e dos alvores da democracia mas que o capital – que é cego – não respeita, como não nos respeitará, se  nesta hora enegrecida por culpas que nos pertencem, não criarmos no meio das nossas diferenças o elo comum da serenidade que é preciso encontrar. Que isto nos acalente, porque é sempre de qualquer noite – por muito negra que seja – que surge a madrugada.

Não entender isto e acirrar os ânimos e é um crime social que as gerações futuras não nos desculparão, se continuarmos com a arruaça das palavras e das atitudes

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