A desgraça é o vínculo mais estreito entre os corações
La Fontaine
La Fontaine, como sabemos, foi um extraordinário fabulista,
mas o pensamento que vai em epígrafe e lhe é atribuído, ao contrário das muitas
fábulas que nos deixou não esconde a verdade sob uma qualquer ficção, porquanto
ela evidencia com todo o rigor da análise histórico-social o facto de ser nas
horas amargas que deve ganhar mais sentido o entendimento das partes, sejam
elas pessoas ou comunidades.
O que actualmente se passa em Portugal é – não tenhamos medo
das palavras – um sobressalto que já atinge o colectivo da velha Nação que
somos e que devia implicar entre as forças que formam o triunvirato político
(PSD; PS e CDS-PP) um esforço redobrado para esbaterem as diferenças que os
separam e fazer delas o vínculo mais
estreito entre os corações tendo presente que é necessária uma aproximação
de boas vontades para salvar o coração arrítmico do País, que sofre por causa
das inquietações do povo onde já são visíveis estados de pobreza e até, de
alguma de pobreza envergonhada, que é mais dura de sofrer.
Deixem governo e oposição de armar em sabichões e de se
querer impôr a receita de um à do outro, porque ninguém tem ao dispor o mesinha
que salve a doença de que sofremos num “abrir e fechar de olhos” tendo em cima
de nós a “bota ferrada” do capital internacional que nos emprestou o dinheiro
que as nossas aventuras de supostos novos-ricos nos obrigaram a pedir, á beira
da bancarrota.
A memória colectiva do povo não pode deixar que O PS que
pediu o empréstimo e o assinou em nome de Portugal se esqueça disto e quem o
subscreveu – PSD e CDS-PP – exijam responsabilidades tripartidas quanto à
solvência que é preciso fazer.
Extremaram-se posições, é verdade, mas tem de ser a partir
dos desentendimentos que elas causaram que temos de construir os vínculos
possíveis – que não tenham apenas têm como horizonte o umbigo de cada um dos
partidos – mas de boas vontades para resgatar o País do pesado fardo que não há
o direito de fazer passar para as gerações futuras, como já aconteceu.
A hora é de “toque a rebate”, mas não há defuntos a chorar.
Há um País que toca, finalmente, na torre sineira do nosso
descontentamento os badalos de uma “troika” sem coração, porque, habitualmente,
quem empresta dinheiro põe de lado os sentimentos e o que pretende é ter de
volta o dinheiro emprestado.
Importa, por isso, levar a sério o conceito do homem
público que foi La Fontaine e tomar como traço de concórdia o que ele disse
quanto ao facto da desgraça, neste caso, o endividamento em que estamos envolvidos
poder vir a ser o vínculo mais estreito
entre os corações dos homens públicos e de todos os que fazem parte – como
eu - dos homens comuns, a quem cabe nesta hora difícil o discernimento de
ajudar os dirigentes da res publica a
tarefa patriótica da devolução ao povo da honra que temos em ser portugueses, a
Nação mais antiga do Continente europeu.
Não tenhamos ilusões.
Ou cumprimos ou nos sucede o que está a acontecer na velha
Grécia, Pátria de grandes filósofos e dos alvores da democracia mas que o
capital – que é cego – não respeita, como não nos respeitará, se nesta
hora enegrecida por culpas que nos pertencem, não criarmos no meio das nossas
diferenças o elo comum da serenidade que é preciso encontrar. Que isto nos
acalente, porque é sempre de qualquer noite – por muito negra que seja – que
surge a madrugada.
Não entender isto e acirrar os ânimos e é um crime social
que as gerações futuras não nos desculparão, se continuarmos com a arruaça das
palavras e das atitudes
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