C. Lahr, no seu
célebre “Manual de Filosofia” , Cap. VI, apresenta-nos duas vertentes da
democracia, consubstanciadas nas suas vantagens e nos seus perigos.
Se nas vantagens nos assinala que ela concede aos governados
a maior parte das liberdades que são compatíveis com a ordem pública (...) e que,
pelo facto de não admitir nenhuma distinção entre os cidadãos, a não ser
a que provém do mérito pessoal, a todos concede a possibilidade de desempenhar
as mais altas funções, acrescentando, a seguir, que essa vantagem permite a
cada um contribuir com o máximo do seu esforço para utilidade social.
O autor, cita a seguir, Aristóteles e um seu conceito
democrático, quando disse que a forma democrática é a mais sólida de todas,
porque nela domina a maioria, e a igualdade que se disfruta gera o amor de
constituição, razão que levou o mundo moderno a assistir à queda das monarquias
absolutas ou, das que, metendo-se nos novos tempos, deixaram que imperasse o liberalismo e o
parlamentarismo, adaptando-se ao sufrágio universal.
Contudo, ao fechar este capítulo, C. Lahr, não deixa de
apontar e de nos chamar a atenção para os perigos da democracia, o que faz,
dizendo que não basta decretar o sufrágio universal e conceder subitamente as
liberdades para realizar de improviso obra perfeita. (...)
E fundamenta esta asserção em cinco pontos, dos quais
tomamos, apenas, dois, como amostra que nos deve fazer pensar.
1 – No regime democrático em que todas as forças individuais
se podem exercer sem obstáculos, e onde os meios de repressão são menos
enérgicos, a desordem tem fácil entrada e o vício encontra as mais temíveis
facilidades de expansão
2 – Por outra parte, a possibilidade que todos têm de chegar
a exercer os cargos públicos traz consigo o perigo de abrir a porta às ambições
menos justificadas. Em lugar dos mais capazes e dos mais dignos apresenta-se a
multidão, sempre medíocre e pretensiosa. À força de se repetir que todos podem
chegar a tudo, cada um acaba por se persuadir de que é efectivamente idóneo
para todos os empregos e digno de todas as honras (...)
São, efectivamente, perigos e reais.
Portugal não foi e continua a não ser excepção e a nossa
democracia bem precisa de repensar o caminho, porque se torna urgente que os
mais capazes, de currículos profissionais e académicos irrepreensíveis se
sintam atraídos pela coisa pública, ou continuaremos a promover os que pensam
que podem chegar a tudo, com a agravante de se persuadirem de serem os
melhores, sendo, apenas, os que se chegaram à frente pela força do voto, que os
legitima, mas podendo não ser os mais capazes.
Até quando continuaremos com os mais dotados fora de cena,
indiferentes aos assuntos da Rex Publica , que é Coisa de todos... Casa de
todos... País de todos... e não, de alguns que até se tornam arrogantes, como
se o Poder fosse eterno ou, eles mesmos se eternizassem na política?
Esta reflexão tem um sentido, porque a não ser assim,
perdia-se o tempo.
O sentido é este: olhando a nossa jovem caminhada
democrática começada com uma Revolução, imergiram quando o tempo o permitiu,
alguns vultos de prestígio onde o povo se revia. Esta asserção, parece,
consensual.
- E agora? O que aconteceu?
- Será que deixámos abrir a porta às ambições menos
justificadas?
A ser assim, foi um erro, porque andamos a promover os que
não mereciam.
A dúvida é se nos dão hipóteses de o corrigir..
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