De vez em quando os homens tropeçam na verdade, mas a maioria deles
levanta-se rapidamente e continua o seu caminho como se nada tivesse
acontecido.
(Winston Churchill)
O
que é a verdade?
Eis
uma pergunta que tem acompanhado os homens de todos os tempos sem que para ela
– pesem embora todos os estudos e ciências – se haja encontrado uma resposta
comum e que pelo facto da evidência real da sua natureza, o homem se tenha
deixado ficar de tal modo preso à verdade indefectível que existe em qualquer
dos campos da realização humana, que tenha passado a segui-la para sempre,
quando o que acontece, como avisadamente nos diz o grande homem que foi o
antigo Primeiro Ministro britânico é que, a
maioria, esquece-a e rapidamente
e continua o seu caminho como se nada tivesse acontecido.
É
a tragédia que temos presente por cima da nossa fragilidade desde os primórdios
da sabedoria humana, tal como nos diz – para citar um exemplo – Samuel, o
derradeiro juiz de Israel: David dissera:
em vão, pois, guardei tudo o que esse homem possuía no deserto, sem que lhe
fosse tirada coisa alguma! E ele paga-me o bem com o mal. (1Sa 25,
21) apresentando assim o queixume sobre Nabal, que esqueceu a verdade que havia
no sentimento da amizade e passou adiante pagando mal por bem.
Diz
a cultura da velha Grécia – no tempo actual tão maltratada pela hodierna
economia selvagem que esquece os créditos de tão velha Nação – que na sua
sabedoria a verdade se chama aletheia,
significando: nada escondido ou
dissimulado, porquanto o verdadeiro é o que se manifesta aos olhos do corpo e
do espírito, sendo a verdade a manifestação daquilo que é ou existe tal como é,
opondo-se o verdadeiro ao falso, ao encoberto, ao escondido ou dissimulado,
àquilo que parece ser e não é como parece.
O
verdadeiro é o evidente ou o plenamente visível para a razão.
Na
cultura latina, onde se enraíza a língua portuguesa a verdade diz-se veritas, referindo-se à precisão, ao rigor e à exactidão onde é dito
com detalhes, pormenores e fidelidade aquilo que aconteceu. Verdadeiro, refere-se,
portanto, à linguagem enquanto narrativa de factos acontecidos, dizendo
fielmente as coisas tal como aconteceram.
Temos
assim, que o relato de Samuel apresenta a verdade de um acto acontecido sem as
distorções que, quantas vezes fazemos das coisas que acontecem, que não só se
apresentam como falhas à realidade, como se deixam ficar na sombra do disfarce.
Se
voltarmos ao brilhante axioma de Winston Churchill, constamos que ele usa o
verbo “tropeçar” para nos dizer, que – de vez em quando – o homem tropeça na verdade, ou seja, por não
fazer dela uma conduta, cai ao que parece com algum espanto, porque logo que dá
conta do “tropeção” levanta-se, sacode a vergonha de ter caído na verdade –
como se fosse uma armadilha – olha em redor e com medo de ter sido visto segue
o caminho como se nada tivesse
acontecido.
Na
leitura bíblica de que falamos, Nabal fez o mesmo.
Esquecido
da verdade que devia assumir perante o rei David passou adiante deixando para a
esposa Abigail o pedido de desculpa que era preciso fazer em face do mau
procedimento do marido que havia mandado a verdade para o lixo da esterqueira
moral dos seus sentimentos.
Nabal
caiu um dia, por acaso, em cima da verdade.
Não
raro é o que fazemos, pois desde o mais fundo da História temos passado séculos
à sua procura… e, no entanto, há dois milénios, já nos foi dito o que é a
Verdade.
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