Busto em homenagem ao
primeiro centenário
do nascimento deste
poeta.
Praça da República - São Pedro do Sul
António Corrêa de Oliveira
(1878-1960) é, hoje, um poeta esquecido.
Injustamente, diga-se, porquanto
ele foi no seu tempo um acrisolado autor da exaltação patriótica e do idealismo
cristão, quando estes sentimentos eram gratos à alma lusitana, o que hoje não
acontece, porque morreu o amor que os nossos avós tinham por Portugal, um amor
que agora anda esbatido pelos federalismos de uma Europa que nos está a roubar
a identidade de Nação altaneira que manda a verdade dizer, deu novos mundos ao mundo.
De pouco ou nada importa que esta
frase seja do Estado Novo, onde uns certos senhores vêem fascismos, enquanto
outros – como eu – vêem um regime duro de pendor ditatorial, cujo único pecado
foi o de não ter aberto o caminho à rotatividade dos homens que tinham pela
Nação o respeito que agora se perdeu.
Será que para sempre?
António Corrêa de Oliveira foi um
desses homens.
Grande cultor da poesia de cunho
popular e um dos cantores mais lídimos do Saudosismo, na linha de Pascoaes, num
dado passo da vida ligou-se ao Movimento cultural do “Integralismo Lusitano” (1)
onde o levou o seu pendor monárquico assumido e, depois, se viria a transformar
num poeta oficioso do Estado Novo, com muitos textos escolhidos para os livros
únicos de língua portuguesa do sistema de ensino primário e secundário.
É este o anátema que pesa sobre
ele, porque os homens da esquerda dos pós 25 de Abril, pregoeiros da liberdade
só a entendem quando ela se casa com o seu culto.
Esquecem que ele foi o primeiro
português nomeado para o Prémio Nobel da Literatura a partir de 1933, tendo
merecido 15 nomeações.
Em 1945, a concorrente que
viria a ganhar, a chilena Gabriela Mistral disse, que estando presente o autor
do livro publicado em 1926 “Verbo Ser e Verbo Amar” o prémio deveria ter-lhe
sido dado.
No ano em que escreveu o “Alívio
dos Tristes” (1901) adivinhava-se que o poeta aos 23 anos de idade começava já a
dar mostras do seu grande carinho pela alma do povo que se sentia joguete dos
jogos políticos que viriam a desembocar na queda da Monarquia, para imporem uma
República sem rei nem roque.
Possivelmente, por causa de
acontecimentos nacionais vividos naquele ano ele escreveu aquele livro.
Os referidos acontecimentos
equacionam-se assim: publicação em 12 de Março do Decreto anticongreganista
sobre as ordens religiosas, com o apoio do Rei D. Carlos, que emite a posição anticlerical
do Partido Regenerador; pela apreensão em 28 do mesmo mês do jornal católico “A
Palavra” a que se sucede em 14 de Abril a saudação entusiástica na Praça de
Touros do Campo Pequeno ao rei D. Carlos em reconhecimento pelo seu
anti-clericalismo, e logo a seguir, em 18, ao aparecimento de um Decreto
controlador das casas religiosas, sendo apenas admitidas as casas religiosas
que se dedicavam à instrução ou à beneficência ou então à propaganda da fé e
civilização no Ultramar, com o consequente encerramento de várias casas
religiosas, tudo isto acompanhado pela criação de Juntas – ou Comissões
Liberais – de pendor anticlerical, como aconteceu em 25 de Abril com a
presidência de José Dias Ferreira e outra, no dia 30 a cargo de Miguel Bombarda,
a que não faltou em 1 de Julho a dissolução da Câmara dos Deputados, devido à
perda pelo governo do apoio da facção João Arroio do Partido Regenerador, já
enfraquecido pela saída do grupo de João Franco.
Corrêa de Oliveira, era então um
jovem, mas entristecido pelo caminho que Portugal levava, onde o ataque à
Igreja e a convulsão política continuava a degradar a coisa pública, lhe
mereceu os seguintes tercetos:
Quando Deus for
minha alma recebendo
Limpa de toda a
mancha, ou ruindade,
E do pecado feio e
ódio horrendo;
......................................................
Quero o meu coração
dentro do peito,
Tomado pela fé,
pela desgraça,
Num coração
mansíssimo e perfeito.
.........................................................
E com a mesma fé,
pedir, ainda
Por esta pobre
Terra Portuguesa,
A mais triste,
entre as outras a mais linda.
E contar suas penas
e tristeza
Por agora se ver
onde é chegada
De tanta formosura
e fortaleza.
.........................................................
Terra de ao pé do
Mar, tão forte, quando
Granjeava uma fama
peregrina
Que eternamente irá
peregrinando...
Fama tão grande!
Terra pequenina,
Que dela enchendo o
mundo, se assemelha
A uma candeia acesa
que ilumina.
..........................................................
Ó Nação
cristianíssima e infeliz!
Ó terra que tens
fome e que tens sede!
“Ó ninho meu
paterno”, ó meu País.
.......................................................
Ó minha triste
Pátria estremecida,
Para alegrias
grandes restaurada,
Para mortais
tristezas decaída!
O Poeta, para além da obra já citada deixou as seguintes:
Ladainha (1897); Eiradas (1899); Cantigas (1902); Raiz (1903); Ara (1904); Tentações de S. Frei Gil (1907); Elogio dos Sentidos (1908); Alma Religiosa (1910); Dizeres do Povo (1911); Romarias (1912); A Criação. Vida e História da Árvore (1913); A Minha Terra (1915-1917); Na Hora Incerta (Viriato Lusitano) (1920); Verbo Ser e Verbo Amar (1926); Mare Nostrum (1939); História Pequenina de Portugal Gigante (1940); Aljubarrota ao Luar (1944); Saudade Nossa (1944); Redondilhas (1948) e Azinheira em Flor (1954)
António Corrêa de Oliveira foi um
poeta nacionalista, mas isto só é defeito para aqueles que perderam o sentido da Pátria, algo
que está a acontecer nos tempos actuais, internacionalizados, descaracterizados
e envergonhados em que falar e sentir a Bandeira Nacional é uma atitude
ultrapassada e saudosista.
Própria, apenas, dos que não seguiram em
frente a cantar loas aos ventos novos de uma Europa rendida à deusa de uma
economia sem valores éticos que sem se saber, efectivamente, para onde nos
levam, nos continuam a levar numa atitude passiva – que essa, sim! – nos devia
envergonhar, pelo facto de colectivamente não termos sido chamados a dar a
nossa opinião como povo quanto ao caminho escolhido, onde parece, estamos
encurralados e sujeitos a leis estranhas à Pátria que somos.
Não admira, por isso, que se
esqueçam deliberadamente homens como António Corrêa de Oliveira, que tinha um
caminho e o soube honrar, por cima de todos os ventos e marés.
Mas não deixa de ser uma vingança
que a sua memória faz ao Portugal que somos hoje e que passado mais de um
século continuem correctos os seus
tercetos, especialmente o último, porque os homens públicos, através de tantas
gerações, onde se incluem as que fizeram e sustentaram o Estado Novo, parece
não terem encontrado maneira de livrar Portugal das mortais tristezas que nos acompanham desde a Revolução Liberal de
1820.
Cabe aqui, um reparo, ao 25 de
Abril de 1974.
Revolução contra um fascismo que
só existiu, verdadeiramente, nas mentes de alguns que prometeram a liberdade ao
povo, e lha retiraram ao assinar sem o ouvir, a Constituição europeia do porreiro, pá!
(1) - Foi inicialmente um movimento cultural em
reacção ao anticlericalismo da Primeira República. Em 1914, o movimento
tornou-se político incorporando republicanos desiludidos com a República, sendo
formalmente constituído em Coimbra em 1914 em torno da revista Nação
Portuguesa. O seu ideário monárquico tradicionalista afirmava que não
pretendiam voltar à monarquia deposta e que não aceitavam a república recém
implantada. Apoiavam o rei deposto, D. Manuel II, embora recusassem o
rotativismo dos Partidos ideológicos do final da Monarquia Constitucional, que
designavam por "regime das oligarquias partidárias", pretendendo uma
Monarquia assente na representação municipalista e sindicalista, segundo as
antigas tradições da Monarquia portuguesa. O velho Ramalho Ortigão chegou a
aderir, com entusiasmo, ao movimento.
Em 1915, os integralistas
são projectados para a ribalta política ao realizarem um ciclo de conferências
na Liga Naval, em Lisboa, alertando para o perigo de uma absorção pelo Reino de
Espanha. As conferências foram violentamente interrompidas, sendo as
instalações da Liga Naval assaltadas e destruídas. Com a entrada de Portugal na
Grande Guerra, em 1916, transformaram-se em organização política criando uma
Junta Central e organizações distritais e concelhias. Nessa altura, manifestaram
obediência a D. Manuel II, reconheceram a importância da Aliança
Luso-britânica, e clamaram pela mobilização dos portugueses contra a Alemanha.
Contou entre os seus
dirigentes mais destacados, Hipólito Raposo, António Sardinha, Luís de Almeida
Braga, Alberto Monsaraz, Pequito Rebelo e Francisco Rolão Preto.
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