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segunda-feira, 23 de setembro de 2013

António Correia de Oliveira (1878-1960)

 

Busto em homenagem ao primeiro centenário
do nascimento deste poeta.
Praça da República - São Pedro do Sul


António Corrêa de Oliveira (1878-1960) é, hoje, um poeta esquecido.
Injustamente, diga-se, porquanto ele foi no seu tempo um acrisolado autor da exaltação patriótica e do idealismo cristão, quando estes sentimentos eram gratos à alma lusitana, o que hoje não acontece, porque morreu o amor que os nossos avós tinham por Portugal, um amor que agora anda esbatido pelos federalismos de uma Europa que nos está a roubar a identidade de Nação altaneira que manda a verdade dizer, deu novos mundos ao mundo.
De pouco ou nada importa que esta frase seja do Estado Novo, onde uns certos senhores vêem fascismos, enquanto outros – como eu – vêem um regime duro de pendor ditatorial, cujo único pecado foi o de não ter aberto o caminho à rotatividade dos homens que tinham pela Nação o respeito que agora se perdeu.
Será que para sempre?
António Corrêa de Oliveira foi um desses homens.
Grande cultor da poesia de cunho popular e um dos cantores mais lídimos do Saudosismo, na linha de Pascoaes, num dado passo da vida ligou-se ao Movimento cultural do “Integralismo Lusitano” (1) onde o levou o seu pendor monárquico assumido e, depois, se viria a transformar num poeta oficioso do Estado Novo, com muitos textos escolhidos para os livros únicos de língua portuguesa do sistema de ensino primário e secundário.
É este o anátema que pesa sobre ele, porque os homens da esquerda dos pós 25 de Abril, pregoeiros da liberdade só a entendem quando ela se casa com o seu culto.
Esquecem que ele foi o primeiro português nomeado para o Prémio Nobel da Literatura a partir de 1933, tendo merecido 15 nomeações.
Em 1945, a concorrente que viria a ganhar, a chilena Gabriela Mistral disse, que estando presente o autor do livro publicado em 1926 “Verbo Ser e Verbo Amar” o prémio deveria ter-lhe sido dado.
No ano em que escreveu o “Alívio dos Tristes” (1901) adivinhava-se que o poeta aos 23 anos de idade começava já a dar mostras do seu grande carinho pela alma do povo que se sentia joguete dos jogos políticos que viriam a desembocar na queda da Monarquia, para imporem uma República sem rei nem roque.
Possivelmente, por causa de acontecimentos nacionais vividos naquele ano ele escreveu aquele livro.
Os referidos acontecimentos equacionam-se assim: publicação em 12 de Março do Decreto anticongreganista sobre as ordens religiosas, com o apoio do Rei D. Carlos, que emite a posição anticlerical do Partido Regenerador; pela apreensão em 28 do mesmo mês do jornal católico “A Palavra” a que se sucede em 14 de Abril a saudação entusiástica na Praça de Touros do Campo Pequeno ao rei D. Carlos em reconhecimento pelo seu anti-clericalismo, e logo a seguir, em 18, ao aparecimento de um Decreto controlador das casas religiosas, sendo apenas admitidas as casas religiosas que se dedicavam à instrução ou à beneficência ou então à propaganda da fé e civilização no Ultramar, com o consequente encerramento de várias casas religiosas, tudo isto acompanhado pela criação de Juntas – ou Comissões Liberais – de pendor anticlerical, como aconteceu em 25 de Abril com a presidência de José Dias Ferreira e outra, no dia 30 a cargo de Miguel Bombarda, a que não faltou em 1 de Julho a dissolução da Câmara dos Deputados, devido à perda pelo governo do apoio da facção João Arroio do Partido Regenerador, já enfraquecido pela saída do grupo de João Franco.
Corrêa de Oliveira, era então um jovem, mas entristecido pelo caminho que Portugal levava, onde o ataque à Igreja e a convulsão política continuava a degradar a coisa pública, lhe mereceu os seguintes tercetos:
 
Quando Deus for minha alma recebendo
Limpa de toda a mancha, ou ruindade,
E do pecado feio e ódio horrendo;
......................................................
Quero o meu coração dentro do peito,
Tomado pela fé, pela desgraça,
Num coração mansíssimo e perfeito.
.........................................................
E com a mesma fé, pedir, ainda
Por esta pobre Terra Portuguesa,
A mais triste, entre as outras a mais linda.
 
E contar suas penas e tristeza
Por agora se ver onde é chegada
De tanta formosura e fortaleza.
.........................................................
Terra de ao pé do Mar, tão forte, quando
Granjeava uma fama peregrina
Que eternamente irá peregrinando...
 
Fama tão grande! Terra pequenina,
Que dela enchendo o mundo, se assemelha
A uma candeia acesa que ilumina.
..........................................................
Ó Nação cristianíssima e infeliz!
Ó terra que tens fome e que tens sede!
“Ó ninho meu paterno”, ó meu País.
.......................................................
Ó minha triste Pátria estremecida,
Para alegrias grandes restaurada,
Para mortais tristezas decaída!
 
 
O Poeta, para além da obra já citada deixou as seguintes:
 
Ladainha (1897); Eiradas (1899); Cantigas (1902); Raiz (1903); Ara (1904); Tentações de S. Frei Gil (1907); Elogio dos Sentidos (1908); Alma Religiosa (1910); Dizeres do Povo (1911); Romarias (1912); A Criação. Vida e História da Árvore (1913); A Minha Terra (1915-1917); Na Hora Incerta (Viriato Lusitano) (1920); Verbo Ser e Verbo Amar (1926); Mare Nostrum (1939); História Pequenina de Portugal Gigante (1940); Aljubarrota ao Luar (1944); Saudade Nossa (1944); Redondilhas (1948) e Azinheira em Flor (1954)

António Corrêa de Oliveira foi um poeta nacionalista, mas isto só é defeito para  aqueles que perderam o sentido da Pátria, algo que está a acontecer nos tempos actuais, internacionalizados, descaracterizados e envergonhados em que falar e sentir a Bandeira Nacional é uma atitude ultrapassada e saudosista.
 Própria, apenas, dos que não seguiram em frente a cantar loas aos ventos novos de uma Europa rendida à deusa de uma economia sem valores éticos que sem se saber, efectivamente, para onde nos levam, nos continuam a levar numa atitude passiva – que essa, sim! – nos devia envergonhar, pelo facto de colectivamente não termos sido chamados a dar a nossa opinião como povo quanto ao caminho escolhido, onde parece, estamos encurralados e sujeitos a leis estranhas à Pátria que somos.
Não admira, por isso, que se esqueçam deliberadamente homens como António Corrêa de Oliveira, que tinha um caminho e o soube honrar, por cima de todos os ventos e marés.
Mas não deixa de ser uma vingança que a sua memória faz ao Portugal que somos hoje e que passado mais de um século continuem  correctos os seus tercetos, especialmente o último, porque os homens públicos, através de tantas gerações, onde se incluem as que fizeram e sustentaram o Estado Novo, parece não terem encontrado maneira de livrar Portugal das mortais tristezas que nos acompanham desde a Revolução Liberal de 1820.
Cabe aqui, um reparo, ao 25 de Abril de 1974.
Revolução contra um fascismo que só existiu, verdadeiramente, nas mentes de alguns que prometeram a liberdade ao povo, e lha retiraram ao assinar sem o ouvir, a Constituição europeia do porreiro, pá!



(1)  - Foi inicialmente um movimento cultural em reacção ao anticlericalismo da Primeira República. Em 1914, o movimento tornou-se político incorporando republicanos desiludidos com a República, sendo formalmente constituído em Coimbra em 1914 em torno da revista Nação Portuguesa. O seu ideário monárquico tradicionalista afirmava que não pretendiam voltar à monarquia deposta e que não aceitavam a república recém implantada. Apoiavam o rei deposto, D. Manuel II, embora recusassem o rotativismo dos Partidos ideológicos do final da Monarquia Constitucional, que designavam por "regime das oligarquias partidárias", pretendendo uma Monarquia assente na representação municipalista e sindicalista, segundo as antigas tradições da Monarquia portuguesa. O velho Ramalho Ortigão chegou a aderir, com entusiasmo, ao movimento.
Em 1915, os integralistas são projectados para a ribalta política ao realizarem um ciclo de conferências na Liga Naval, em Lisboa, alertando para o perigo de uma absorção pelo Reino de Espanha. As conferências foram violentamente interrompidas, sendo as instalações da Liga Naval assaltadas e destruídas. Com a entrada de Portugal na Grande Guerra, em 1916, transformaram-se em organização política criando uma Junta Central e organizações distritais e concelhias. Nessa altura, manifestaram obediência a D. Manuel II, reconheceram a importância da Aliança Luso-britânica, e clamaram pela mobilização dos portugueses contra a Alemanha.
Contou entre os seus dirigentes mais destacados, Hipólito Raposo, António Sardinha, Luís de Almeida Braga, Alberto Monsaraz, Pequito Rebelo e Francisco Rolão Preto.
 

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