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domingo, 8 de setembro de 2013

Manuel Laranjeira (1877-1912)

 
in, Wikipédia
  
De seu nome completo Manuel Rodrigues Laranjeira, nasceu em Mozelos, Santa Maria da Feira, em 1877 e faleceu no dia 22 de Fevereiro de 1912, suicidando-se com um tiro na cabeça no areal da praia de Espinho.

Com o intuito de frequentar a Escola Médico-Cirúrgica do Porto onde se matriculou em 1899, no ano anterior fixara a sua residência naquela cidade, vindo a concluir o curso de Medicina em 1904, a expensas de um seu tio brasileiro abastado - que intercedeu por ele através de familiares que viviam em Portugal, próximos de Manuel Laranjeira - superando, assim, com a sua nobre atitude as dificuldades da modéstia familiar do seu lar, que o pai sustentava a custo com os parcos ganhos da sua profissão de pedreiro.
Manuel Laranjeira chamou a si um saber multifacetado que o levou a falar cinco línguas, razão, porque, lia no original as obras que o seu espírito reclamava, onde se espraiou acutilante e mordaz o seu temperamento que nunca se acomodou com a fraca e incipiente cultura do meio em que viveu.

A cidade de Espinho tem uma Escola Secundária com o seu nome, uma prova que os vultos nacionais que se têm distinguido na arte e na cultura tem merecido - com alguns esquecimentos - a lembrança dos homens do poder, o que prova que não é em vão que se vive, como o fez o médico-poeta Manuel Laranjeira.

Foi amigo íntimo de Miguel de Unamuno com quem trocou vasta correspondência, um campo em que foi prolixo, correspondendo-se com grandes vultos nacionais de onde sobressaem: João de Barros, Afonso Lopes Vieira e Teixeira de Pascoaes.

Crê-se que para o seu suicídio muito terá contribuído o de Antero de Quental, por cujo acto tresloucado se interessou entre 1905 e 1906, na procura de encontrar razões científicas e biológicas, tendo, para o efeito realizado estudos sobre o "Nirvana", havendo quem defenda que esta intromissão na tese budista o teria levado a extremos que não soube concertar com a sua mente revolta e excitada, para que muito contribuiu uma vida sentimental atribulada, atribuindo-se a estes factos a grande instabilidade que o tomou e o conduziu ao desenlace trágico da sua vida.

A sua obra literária editada, em vida, conta com:  "A Doença da Santidade" (1907); "Comigo - Versos dum Solitário" -  (1912). Postumamente: "Cartas" (1943); "Diário Intimo" (1952); "Dor Surda" - novela - (1957) e "Prosas Perdidas" (1958).
Não tendo encontrado na sua vida a estabilidade sentimental tão necessária ao equilíbrio das emoções, este facto, transparece, veladamente, no poema "À TARDE", ao expressar-se de um modo onde a angústia se lê em cada verso:


A tarde lenta cai. E cai também
Uma melancolia venenosa,
Meu Deus! Que não se sabe de onde vem...
................................................................
E vem do fundo da alma... Persecrutasse
A gente o coração p'ra sentir bem
Que é do fundo da alma que a dor nasce
E é de lá, sobretudo, que ela vem...

De lá! De lá do fundo! Bem do fundo
De nós mesmos... E, lenta, vem subindo
Aos olhos que a reflectem, reflectindo
Na nossa dor a dor de todo o mundo!
........................................................
E vendo a claridade agonizar,
Como um olhar voluptuoso e triste,
Que sentimos subir-nos surdamente
Aos olhos o desejo de chorar
Baixinho, docemente,
Sobre o peito de alguém... que não existe!

E, quando sobre o mar
Cai a noite do céu, pesadamente,
Agente, sem querer... põe-se a chorar!

in, livro "Comigo"

Não é difícil crer que a tristeza deste poema - e sua verdade - teriam sido o mar de Espinho e a tarde que caía sobre ele, o quadro retratado por Manuel Laranjeira de uma forma que não deixam dúvidas a ninguém o sofrimento íntimo que o tomou num dado estádio da sua vida, a que, nem a circunstância de ser médico, o pode ajudar, por ser mais forte e profunda a sua dor, onde o espectro da morte ao persegui-lo lhe não deixou a escapadela que se impunha, tendo dado asas ao estro doente e marcadamente nevrótico no soneto: "VENDO A MORTE", no seu livro "Refúgio".
Em tudo vejo a morte! E, assim, ao ver
Que a vida já vem morta cruelmente
Logo ao surgir, começo a compreender
Como a vida se vive inutilmente...
Debalde (como um náufrago que sente
Vendo a morte, mais fúria de viver)
Estendo os olhos mais avidamente
E as mão p'rá vida... e ponho-me a morrer.
A morte! Sempre a morte! em tudo a vejo,
Tudo ma lembra! E invade-me o desejo
De viver toda a vida que perdi...
E não me assusta a morte! Só me assusta
Ter tido tanta fé na vida injusta
... E não saber sequer p'ra que a vivi!
Eloquente, mas trágico.

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