As sociedades são conduzidas por agitadores de sentimentos, não por
agitadores de ideias. Nenhum filósofo fez caminho senão porque serviu, em todo
ou em parte, uma religião, uma política ou outro qualquer modo social do sentimento.
Fernando Pessoa, in “Notas Autobiográficas e de Autognose”
O pensamento que aparece em epígrafe
é elucidativo da forma como viveu o ilustre autor da “Mensagem” guiado pela
consciência que se fez dona dos seus sentimentos mais altos e pela política,
quando esta assumiu, nele, saudavelmente, o cunho agitador das ideias com enfoque
social.
Fernando Pessoa, é sabido, nunca
foi um político na verdadeira acepção da palavra, embora aqui e ali, tenha tido
intervenção política, no sentido em que esta faz parte dos sentimentos de um
homem, que como ele, viveu um tempo de grande agitação social, tendo assistido
à morte violenta de dois Chefes do Estado: o rei D. Carlos, e o Presidente
Sidónio Pais, quando ele perfazia, respectivamente, 20 e 30 anos de idade.
Era o tempo da escrita da sua
grande obra: “O Livro do Desassossego”, que o leva a declarar, no Prefácio:
Nasci em um tempo em que a maioria dos jovens haviam perdido a crença
em Deus, pela mesma razão que os seus maiores a haviam tido – sem saber porquê.
E então, porque o espírito humano tende naturalmente para criticar porque
sente, e não porque pensa, a maioria desses jovens escolheu a Humanidade para
sucedâneo de Deus. Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre
na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também
os grandes espaços que há ao lado. Por isso nem abandonei Deus tão amplamente
como eles, (...)
Há, neste passo, um facto
importante.
Pessoa ao não ter abandonado completamente
Deus, põe-se na margem, mas na peugada do homem – animal político - pronto para
criticar porque sente, deixando para ele mesmo algum espaço para a acção
política, embora sem intervenção estrutural directa, mas consciente que toda a
crítica de ordem social, insere, de algum modo um pensamento político e, que, tendo-o
assumido num tempo em que teria considerado o sistema monárquico como o mais próprio para uma nação
organicamente imperial na evolução natural das ideias, acabou por considerar a
Monarquia completamente inviável em Portugal, donde se tivesse havido um
plebiscito para escolha de regimes, votaria, resignado, pela República.
Conservador do estilo inglês,
isto é, liberal dentro do conservantismo e absolutamente anti-reaccionário, foi
um nacionalista obediente ao lema "Tudo pela Humanidade; nada contra a
Nação".
Foi anticomunista e anti-socialista.
E nisto tomou uma posição clara, sem
rodeios.
Mas, porque era multifacetado nas
suas posições de índole socio-política, o estabelecimento de uma ordem coerente
torna-se uma tarefa, onde fica líquida, a sua inquebrantável fé em Portugal,
tendo deixado nos seus escritos o desejo de viver o seu tempo de um modo
intenso.
E de tal forma o fez, que nas
suas posições ideológicas, deixa que exista, embora fragmentada, a obra de um emérito
doutrinador, onde a política ganha o cariz sedutor da inconstância que nele
ganhou raízes num projecto nacional implantado no império do espírito, donde
resultou que todas as facetas políticas de Pessoa tenham redundado numa
construção mental onde se esconde a grande beleza das atitudes cívicas que
tomou.
Em Pessoa não morava, com efeito,
um ser político irracionalmente preso a uma tendência de ordem subordinada a um
princípio estático, como se o mundo tivesse parado no tempo, porque nele, a sua
verdade não se finou a si mesmo, pelo facto dele ser toda a gente, num profundo desejo de poder converter os seus
sentimentos num único, pervertendo, embora o que sentia, sendo disto um
exemplo, o voto contra a Monarquia – se, eventualmente, lhe tivesse sido pedido
– e a sua aposta na República em curso, ainda que, em cima do assassinato de um
rei que plasmou o seu tempo desde 1905, data que assinala o seu regresso
definitivo a Portugal, vindo de Durban.
Pessoa, tinha, então, 17 anos.
Era um jovem inquieto nas ideias
e nos comportamentos, aquele que se matriculou no ano seguinte na Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa e, dele mesmo, nos dá um retrato que é um
espelho sociólogo de alguém que ao caminhar atento à vida, fazia a apologia do
político que nunca viria a ser, sem no entanto esconder o facto de transportar
com ele a ideia de uma sociologia apegada aos homens esforçados que no labor
das fábricas produziam bens e serviços, um facto que mais tarde haveria de
reproduzir no “Livro do Desassossego”:
Vou num carro eléctrico, e estou reparando lentamente, conforme é meu
costume, em todos os pormenores das pessoas que vão adiante de mim. Para mim os
pormenores são coisas, vozes, letras. Neste vestido da rapariga que vai em
minha frente decomponho o vestido em o estofo de que se compõe, o trabalho com
que o fizeram – pois que o vejo vestido e não estofo – e o bordado leve que
orla a parte que contorna o pescoço separa-se-me em retrós de seda, com que se
o bordou, e o trabalho que houve de o bordar. E imediatamente, como num livro
primário de economia política, desdobram-se diante de mim as fábricas e os
trabalhos – a fábrica onde se fez o tecido; a fábrica onde se fez o retrós, de
um tom mais escuro, com que se orla de coisinhas retorcidas o seu lugar junto
do pescoço; e vejo as secções das fábricas, as máquinas, os operários, as
costureiras, meus olhos virados para dentro penetram nos escritórios, vejo os
gerentes procurar estar sossegados, sigo, nos livros, a contabilidade de tudo;
mas não é só isto: vejo, para além, as vidas domésticas dos que vivem a sua
vida social nessas fábricas e nesses escritórios... Todo o mundo se me
desenrola aos olhos só porque tenho diante de mim, abaixo de um pescoço moreno,
que de outro lado tem não sei que cara, um orlar irregular regular verde escuro
sobre um verde claro de vestido. (1)
Pode não ser relevante este
apontamento para o estudo do homem político que havia nele, mas a raiz
sociológica que o empenhava na vida e no bem colectivo, existia em crescendo,
em Fernando Pessoa.
Tinha, como já foi dito, 20 anos
quando aconteceu o bárbaro assassinato de Sidónio Pais, um facto que marcou o
factor decadente de um povo doente e sem rumo, o que nos leva a pensar que sem
ser político de carreira, ele o foi, em alto grau de uma consciência nacional
afectada, levando-o a afirmar que a decadência em que temos vegetado, deriva da
acumulação de três factores, que em três épocas diferentes intervieram na vida
nacional e cuja influência infeliz permaneceu.
O primeiro factor — a decadência propriamente dita — data da jornada
de Alcácer Quibir, prolonga-se pelo domínio dos Filipes, e até hoje ainda não
passou. Lampejos transitórios — a Restauração, o Marquês de Pombal, o
Presidente Sidónio Pais — são apenas (salvo o último caso, de cujas
consequências não podemos falar ainda) remissões da nossa doença colectiva.
O segundo factor — a desnacionalização — entrou com a vinda do
sistema monárquico estrangeiro que, implantado primeiro em 1820, se arrastou,
através de uma guerra civil constante, latente ou patente, até à sua fixação em
1851, e a corrupção definitiva dos nossos costumes políticos e administrativos,
o abandono total do governo à portuguesa.
O terceiro factor, prolongamento desse segundo, surgiu plenamente em
1910, com a implantação da República. A desnacionalização tornou-se, nessa
altura, degenerescência. Nem a degenerescência se limitava aos partidos que a
República trouxe (não há estado social mórbido que seja pertença exclusiva de
um partido), mas abrangeu também os velhos partidos monárquicos cuja obra a República,
anarquizando mais, apenas continuou.
O problema português consiste na destruição da tripla camada de
negativismo que assim cobre a Pátria. (2)
A ode que então escreveu, “À
Memória do Presidente-Rei Sidónio Pais”, publicada na “Acção” (3)
é, na sua essência mais profunda, a dor do Poeta ao ver esfumar-se em mais um nevoeiro uma figura sebastiânica que
havia surgido no horizonte da Pátria, onde havia esperança da fundação de uma
República nova e, na qual, o carisma de Sidónio Pais havia projectado na alma
de Pessoa o alento que havia de vencer as forças dissolventes que minavam a
sociedade portuguesa que haviam morto o rei D. Carlos, para em seu lugar
colocarem homens e partidos por outros semelhantes, bem ao contrário do
pensamento pessoano ao advogar que, ou a mudança
se dava nas estruturas mentais da Nação ou não valia a pena.
A ode é uma intervenção poética
com evidente pendor político, porque nela o Poeta deixa às claras o pensamento
patriótico de quem queria ver o País governado politicamente por homens
íntegros, de raiz bem fundada numa República de valores humanos e de índole
social, dada a miséria do povo, não só material como moral.
Eis, porque, comovidamente,
lembrando o Presidente assassinado, lemos na ode extensa a comoção do Poeta:
Longe da fama e das espadas,
Alheio às turbas ele dorme.
Em torno há claustros ou arcadas?
Só a noite enorme.
Porque para ele, já virado
Para o lado onde está só Deus,
São mais que Sombra e que Passado
A terra e os céus.
Ali o gesto, a astúcia, a lida,
São já para ele, sem as ver,
Vácuo de ação, sombra perdida,
Sopro sem ser.
Só com sua alma e com a treva,
A alma gentil que nos amou
Inda esse amor e ardor conserva?
Tudo acabou?
No mistério onde a Morte some
Aquilo a que a alma chama a vida,
Que resta dele a nós - só o nome
E a fé perdida? (...)
Pessoa não esconde a sua mágoa,
porque se no tempo da Monarquia, esta havia desperdiçado
os dinheiros públicos, a República que veio, multiplicou por qualquer coisa os
escândalos financeiros (...) e se esta
criara um estado revolucionário, a República veio e criou dois ou três estados
revolucionários.
E, continuando, declara que se a Monarquia não conseguira resolver o
problema da ordem, a República instituiu a desordem múltipla, de que foi
exemplo o caos na visão conservadora de Pessoa, que o levou a assistir a 29
governos nos espaço de sete anos (1919 a 1925).
Eis, porque, na sua alma a
memória do “Presidente-Rei” depositário de tantas esperanças, era o homem
notável que havia morrido às balas traiçoeiras do segundo sargento José Júlio
da Costa, o combatente da Rotunda, que terá agido a mando da Carbonária ou,
como, também se diz, da Maçonaria, onde então pontificava o Grão-Mestre
Sebastião de Magalhães Lima. (4)
Doloridamente, Pessoa, pergunta,
na ode:
Se Deus o havia de levar,
Para que foi que no-lo trouxe
Cavaleiro leal, do olhar
Altivo e doce?
Definitivamente, não ficou a fé
perdida no Portugal bandarrista que animava a alma do Poeta, mas,
possivelmente, o homem político que havia nele quando viu a política nacional
sem rumo, originou que ao pensar na República Portuguesa instituída, tenha
escrito: é actualmente um grupo
ininteligente de gatunos e de assassinos. As palavras são curtas e duras, mas a
simplicidade é aqui uma virtude.
É ponto assente que o assassinato de Sidónio Pais
criou um vazio no seu idealismo, porquanto, ele representava o redentor da
Pátria ferida pela incompetência e pelas ambições sem freio que originavam
excessos sem controle nos governantes a que se aliava a desordem nos partidos e
a consequente ausência de desenvolvimento económico e, logo, no tecido social,
de onde surgiram as mãos criminosas que haviam
morto o empecilho dos que ansiavam viver na falta de estabilidade e numa
caducidade mental que causava arrepios.
Politicamente, é também uma verdade que Pessoa se
identificou no início com as ideias republicanas, mas o equívoco desfez-se na noite
trágica de 14 de Dezembro de 1918, em pleno átrio da Estação dos Caminhos de
Ferro do Rossio, na mesma Lisboa, onde bem perto, havia caído o rei D. Carlos.
Não pode espantar, portanto, a constatação que
Pessoa faz da República se ter convertido num grupo ininteligente de gatunos e
de assassinos, algo de inaudito que o terá conduzido ao sentimento de uma Ibéria forte, afirmando a
criação desde já, da ibericidade. Fazer
tender todas as energias das nossas almas para um fim, por detrás de todos os
fins imediatos que tenham. Esse fim é a Ibéria (5)
Esta asserção é feita por volta
de 1920, ano em que acaba a primeira fase do namoro com Ofélia e assinala o
abraço iniciático de cunho maçónico que ela terá suscitado, donde não falte
quem aponte que neste passo, Pessoa, que sempre tinha sido um idealista de um
Portugal imperial, tenha sofrido a influência maçónica que ele abraçou e que
apontava para uma federação ibérica, com
carga política evidente, mas, também, surgem os que defendem ter havido um
exercício de retórica, onde o tempo político português teve um quinhão
importante pela instabilidade vivida e que veio a favorecer o golpe de estado
de 1926, que acabaria por abrir caminho para a ditadura do professor Oliveira
Salazar.
O ano de 1928, marca, definitivamente,
uma atitude de assunção política, mas como de costume, de ordem doutrinária, ao
defender no “Interregno”, um manifesto do Núcleo de Acção Nacional, a defesa da
ditadura militar, demonstrando-se um defensor de regimes autoritários, cuja razão sustenta com três
justificações – ou melhor dizendo, com três doutrinas - no opúsculo “Defesa e
Justificação da Ditadura Militar em Portugal”
Começa por dizer que metade
do País é monárquica, metade do País é republicana. São estes os factos. Não
falamos do País dividido em Norte e Sul, ou em qualquer outra divisão de erras.
Não falamos do País dividido em classes cultas e incultas, ou em qualquer outra
divisão de homens. Falamos de Portugal na simples quantidade dos seus
habitantes nacionais.
Não deixa de apontar um facto
importante: Somos o Pais das duas
ortografias. Da gente que entre nós sabe
escrever, parte escreve em ortografia latina, a outra parte na ortografia do
Governo Provisório. (...) para concluir, mais adiante: Em Portugal presente, pois, o problema institucional é inteiramente
irresolúvel.
Para se ter, no seu conjunto uma
ideia que levou Fernando Pessoa a escrever aquele opúsculo de 31 páginas, as
três doutrinas apresentam-se deste modo:
“(…) porque não temos uma ideia portuguesa, um ideal nacional, um
conceito missional de nós mesmos”.
2. Portugal, hoje, é um Estado de Transição
“(…) a condição de um país em que estão suspensas as actividades
superiores da Nação como conjunto e elemento histórico (…), mas não está
suspensa a própria Nação como conjunto e elemento histórico (…), mas não está
suspensa a própria Nação que tem de continuar a viver e, dentro dos limites que
esse Estado lhe impõe, a orientar-se o melhor que pode. (..) os governantes de
um País em um período destes, têm pois que limitar a sua acção ao mínimo, ao
indispensável.”
3. As esferas superiores da Nação acham-se quase completamente
desnacionalizadas
“Estamos hoje sem vida provincial definida, com a religião convertida
em superstição e em moda, com a família em plena dissolução. (…) Ora um país em
que isto se dá, e em todos sentem que se dá, um país onde (…) não pode (…)
haver opinião pública em que elas se fundem ou com que se regulem, nesse país
todos os indivíduos e todas as correntes de consenso, apela, instintivamente ou
para a fraude ou para a força, pois, onde não pode haver lei, tem a fraude, que
é a substituição de lei, ou a força, que é abolição dela, necessariamente que
imperar. (6)
Fica de pé, o seguinte: o apoio à
ditadura militar defendida por Pessoa, para além de todos os motivos já
apontados, tinha a sua génese no Portugal dividido entre monárquicos e
republicanos, como já a tivera no tempo da guerrilha constitucional do século
XIX, de que resultou a guerra civil entre liberais e absolutistas, o que ele desejava,
não viesse a acontecer o mesmo, agora com novos contendores, mas nunca esteve
no plano das ideias o seu apoio a Salazar, com quem não tinha afinidades culturais
ou políticas, advindo a sua oposição do facto deste ter recusando o regresso ao
parlamentarismo e à democracia da Primeira República, e ter criado a União
Nacional em 1930, visando o estabelecimento de um regime de partido único.
No decorrer de 1932, ano em que
Salazar assume a Presidência do Conselho, logo após a publicação da Constituição
que criava o Estado Novo, Pessoa escreveu um ensaio contra a ditadura, onde
desassombradamente, diz:
No meio de um povo de incoerentes, de verbosos, de maledicentes por
impotência e espirituosos por falta de assunto intelectual, o lente de Coimbra
(Santo Deus!, de Coimbra!) marcou como se tivesse caído de uma Inglaterra
astral. Depois dos Afonsos Costas, dos Cunhas Leais, de toda a eloquência
parlamentar sem ontem nem amanhã na inteligência nem na vontade, a sua
simplicidade dura e fria pareceu qualquer coisa de brônzeo e de fundamental.
(...) (7)
Pessoa deu o escrito por não escrito.
De uma vez por todas enterrou o
opúsculo: “Interregno” colocando muito longe da sua vivência interventiva o ano
de 1928, onde no plano das ideias a ditadura militar poderia ter sido – e não
foi – o arrepiar do caminho, mas tão só, culminou com a preparação de um outro
caminho: o que levou Salazar ao poder.
Pessoa fez a auto censura que
costuma dignificar os homens de génio, pois, só os medíocres é que teimam nas
suas atitudes, mesmo as mais descabidas.
Desassombradamente, escreve sobre Salazar a
Casais Monteiro, em 1935:
Meu caro Casais Monteiro:
Muito obrigado pelo seu postal de 25, relembrando o interesse que
vocês têm pela minha colaboração na Presença. Já tinha prometido, pessoalmente,
aqui há dias, ao Gaspar Simões, dar essa colaboração, de sorte que, não indo já
a tempo para o número que está a sair, pudesse todavia aparecer no que deve
sair pelo Natal.
Sucede, porém, uma coisa — sucedeu há cinco minutos —que me confirma
em uma decisão que estava incerta, e que me inibe de dar colaboração para a
Presença, ou para qualquer outra publicação aqui do país, ou de publicar
qualquer livro.
Desde o discurso que o Salazar fez em 21 de Fevereiro deste ano, na
distribuição de prémios no Secretariado da Propaganda Nacional, ficámos
sabendo, todos nós que escrevemos, que estava substituída a regra restritiva da
Censura, “não se pode dizer isto ou aquilo”, pela regra soviética do Poder,
"tem que se dizer aquilo ou isto”. Em palavras mais claras, tudo quanto
escrevermos, não só não tem que contrariar os princípios (cuja natureza ignoro)
do Estado Novo (cuja definição desconheço), mas tem que ser subordinado às
directrizes traçadas pelos orientadores do citado Estado Novo. Isto quer dizer,
suponho, que não poderá haver legitimamente manifestação literária em Portugal
que não inclua qualquer referência ao equilíbrio orçamental, à composição
corporativa (também não sei o que seja) da sociedade portuguesa e as outras
engrenagens da mesma espécie. (
No ano em que escreveu esta
crítica a Salazar, o Poeta morre.
Aconteceu no dia 2 de Dezembro de
1935, tendo-o acompanhado à sepultura, no cemitério dos Prazeres, em Lisboa,
muitos amigos, entre os quais se destacaram: Luís de Montalvor, António Ferro,
Raul Leal, Alfredo Guisado, Almada Negreiros, João Gaspar Simões, António Botto
e Carlos Queiroz, este último, sobrinho de Ofélia, o seu amor, com quem rompeu
duas vezes.
Coube a honra do elogio fúnebre a
Luís de Montalvor.(9)
(1) - número 298 do “Livro do Desassossego”
(6) - Fernando Pessoa, manifesto “O Interregno:
Defesa e justificação da Ditadura Militar em Portugal”
1ª publ. in José
Blanco. A Poesia de Adolfo Casais Monteiro.Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da
Moeda, 1985.
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