O ZÉ POVINHO "ANDA À NORA"
Na época, em plena Monarquia Constitucional, havia dois Partidos que entre si alternavam o poder: os Progressistas e os Regeneradores simbolizados nas duas noras montadas sobre a figura emblemática do "Zé Povinho".
Enquanto uma das noras prometia trazer aos cimo a água límpida, liberta de todas as mazela sociais, esta fazia tudo para afundar a outra, que em vez de água, de acordo com a crítica, trazia lodo e, no meio de tudo isto, o povo - porque, na altura o voto não era para todos - sofria as agruras do tempo sem saber ao certo em qual das noras podia acreditar.
Enquanto uma das noras prometia trazer aos cimo a água límpida, liberta de todas as mazela sociais, esta fazia tudo para afundar a outra, que em vez de água, de acordo com a crítica, trazia lodo e, no meio de tudo isto, o povo - porque, na altura o voto não era para todos - sofria as agruras do tempo sem saber ao certo em qual das noras podia acreditar.
Muito mudou na actualidade, mas a nível partidário continuamos bem parecidos: no aspecto das duas noras e da mesma corrente de alcatruzes, não se sabendo ao certo, qual é a nora que vai trazer a melhor água.
É uma dificuldade, não a escolha, que todos sabemos que as duas noras do tempo actual - o PS e o PSD - não nos dão, embora não faltem promessas, a água de que andamos sedentos, mas pelo facto de não sabermos em que campo e em que poço havemos de buscar a água fresca que os dois Partidos mais importantes não têm sabido dar.
Como aconteceu antigamente, os dois têm alternado o poder, com um deles - o PS - a prometer, hoje, a água límpida que lava tudo e põe tudo a brilhar, enquanto o outro - o PSD o que nos tem dado é a água lodosa, como agora acontece com a receita da "austeridade" - com o outro a pedir "crescimento", quando foi ele, anos a fio que meteu os alcatruzes da nora cada vez mais fundo e, de cada vez, a trazer ao cimo uma água turva de um compromisso económico que, no momento, não sabemos com que água havemos de limpar a mancha que deixou no País a lodo com que brindou o povo.
O PS, agora, diz saber o que deve ser feito, mas medidas e discussão inteligente e sábia não se vê, senão balelas, retórica e um novo canto de sereia, que está a dar resultado e de que se fez eco Mário Soares e outros no passado dia 22 na Aula Magna.
Este governo está a destruir Portugal. Está a massacrar os portugueses que vivem mal e têm fome. É preciso acabar com o governo.
Eis a sábia conclusão deste homem, que no seu tempo fez o mesmo.
É preciso acabar com o governo porque tem o defeito de não ser do PS, o paladino de todas as virtudes e, que agora, promete que os alcatruzes da sua nora háo-de dar água límpida, contra a água turva dos outros. É jogo eleitoral e nisto, Mário Soares é um jogador, dos que costuma pôr batota em cima da mesa.
Não se coibiu, mais uma vez, de exibir o "namoro" descarado e hipócrita a Paulo Portas, a propósito do sei ideário democrata-cristão para chamar à liça Sá Carneiro e dizer que ele - se fosse vivo - não era por este governo, perguntando: o que é que isso significa? Significa que estão a trair o ideal de Sá Carneiro.
Há frases que queimam os lábios em homens responsáveis, como devia ser este orador, mas é aquilo que sabe fazer: ferroadas envenenadas para concluir que dois terços do PSD não estão com o governo, quando ele sabe - e bem - é que essa massa do povo que agora está desapontada é a franja eleitoral movediça e inteligente que se vai movendo e que ele procura conquistar a qualquer preço para o PS.
Mário Soares não gosta do governo. Não lhe nego esse direito. Eu também não gosto de muitas coisas que estão a ser feitas, mas não chego ao ponto de lhe chamar ilegítimo, porque o não é.
Espanta a ligeireza do raciocínio deste homem, como se o resto do povo fosse estúpido, vindo, agora com o slogan "Libertar Portugal da Austeridade" que para além de ser falacioso é errático por fazer uma leitura apressada e errada do tempo que vivemos, quando ele, não soube, no seu tempo, como colocar o País a render dividendos, mas a acumular dívidas.
Olha, querido "Zé Povinho": o caricaturista da época representou-te, como se vê na gravura com duas noras e o mesmo jogo de alcatruzes, muito longe de saber que depois de tantos anos continuas igual - excepto na vestimenta - sem saber ao certo, qual a nora e os alcatruzes certos que te hão-de dar a água fresca que te lave o rosto da vergonha de viveres mais uma vez de mão estendida, com a pouca sensatez de te dizerem que a dívida não é possível ser paga, ameaçando alguns, rasgar o contrato que em teu nome o Estado fez.
São os que agora te acenam com a nora da boa água e te dizem para não usares a outra, quando foram ales que ajudaram a turvá-la.
Tens de escolher.
Ao fim e ao cabo as duas noras em que te obrigam a fazer a escolha são ferro-velho, como o são certas palavras que parecem novas por virem em cima de um tempo novo, mas com o defeito de trazerem do fundo o ferro-velho, ou seja, água que não se pode beber.
E como tu "Zé Povinho" bem precisas de beber água límpida e fresca... mas em que poço a encontrarás se andas à nora?
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