Na altura da
sua conversão ao cristianismo, Charles Nicolle (1) deixou escrito o seguinte: Dado que nem a inteligência nem a ciência
podem sondar as profundezas da vida, não valia a pena apartar-me da velha
tradição. Quanto a mim, a ela volto e sem dificuldade me inclino diante do
Senhor.
Este eminente
médico francês, agraciado com o Nobel de Fisiologia/Medicina de 1928, chegou à
conclusão que não valia a pena apartar-se da
velha tradição, porque era uma luta perdida. Humildemente, declara: a ela volto e sem dificuldade me inclino
diante do Senhor.
O mistério,
por fim, estava aceite, porquanto o cientista entreviu que toda a Natureza é na
sua multifacetada realização um imenso pregão de Deus, que só não se ouve
quando o raciocínio fecha as portas ao mistério da graça, sem que este se
disponha a ceder perante o que é eternamente incognoscível, como aconteceu com
ele num largo estádio da vida, num tempo em que uma razão exacerbada não deixava
aflorar a bondade do espírito.
Pelo mistério
da Graça, Deus quer que cada criatura ponha a render com a intensidade possível
as virtudes que lhe concedeu de fidelidade, bondade, fraternidade, justiça,
colocando em cada uma delas um coração misericordioso e repleto de amor que
possa aceitar o mistério, quanto à Sua existência, como algo que é proposto ao
homem pelas vertentes da razão e do sentimento tendentes ao esclarecimento das
leis cósmicas, onde se entronca a origem do homem e de todos os valores que lhe
preenchem a vida, como sejam: a verdade, o bem e a justiça.
E neste
encadeamento, Deus fica sempre acima de tudo quanto é possível explicar –
acima, até da razão humana – para a qual todos os pressupostos têm de conduzir
à Sua existência e, mesmo, a dar uma descrição quanto à Sua infinitude e
omnisciência, conduzindo a razão a admitir a Sua essência e o mistério que Ele
é para o homem, porque se assim não fosse o Absoluto era um ser a mais,
pertencente ao mundo visível e não como Ele é, a razão que explica todas as
coisas.
O mistério de
Deus, é assim, algo que se descobre.
Charles
Nicolle fez a descoberta e transmitiu-a aos seus semelhantes, cumprindo deste
modo os ditames de uma alma grande. Nele, a descoberta de Deus foi como o
arrebol matinal que se levantou após uma noite de tempestade, dando-nos, assim,
a certeza, que de cada noite por mais tenebrosa que seja pode romper sempre uma
manhã radiosa.
Conta-se, que
Charles Nicolle respondeu a uma pergunta que o inquietava: Há
mistérios na religião? a que terá respondido com toda a beleza reflectiva
que o animava: Felizmente, há, a que se
segue a opinião que é um assentimento da razão, à luz da Revelação, que por
fim, aceitou: Se os não houvesse,
desconfiaria… teria receio não fosse ela senão uma construção do espírito
humano.
Esta foi a
grande descoberta.
O mistério de
Deus não é uma construção do homem, mas este faz a sua descoberta quando a
Revelação o atinge por dentro.
Tentar
conhecê-lo somente pela razão é uma dificuldade por vezes insanável, vencida,
apenas, quando as verdades religiosas que excedem o entendimento humano se
tornam mais claras e que associadas às verdades morais – estas acessíveis à
razão – formam o conjunto que no silêncio do homem se agiganta e faz dele,
alguém que guarda no coração o desejo de estar face a face com Deus, numa estreita
comunhão, sendo esta o ponto de partida que o leva a concluir, que nem a
inteligência nem a ciência podem sondar as profundezas da vida, pelo que, esta
só encontra a paz verdadeira quando aceita o Mistério, como algo que é
impenetrável à razão, mas como um objecto de fé que sem a forçar, aceita o
chamamento eterno de Deus que paira no ar desde o princípio dos tempos.
(1) - Charles Jules Henri Nicolle (Rouen, 21 Setembro de 1866 - Tunis, 28 de Fevereiro de 1936) foi um biólogo bacteriologista francês. (in Wikipédia.
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