Há algo que nos deixa nervosos com a
velocidade do tempo: saber que viver é morrer um pouco. Cada vez contamos com
menos tempo para sonhar, para fazer planos e rectificações. (…) Não podemos
saber tudo, ter respostas para tudo. Acontece, porém, que todos nós
necessitamos de um mínimo de respostas para podermos assumir uma atitude diante
da vida e ter uma visão harmoniosa da realidade.(…) Nós cristãos ao aceitarmos
a Revelação temos mais elementos de juízo, porém, maior complexidade na hora de
fazer uma síntese. Por essa razão (…) deveríamos levar ao extremo nossa
simpatia pelos nossos irmãos que, sem terem recebido o dom da fé, buscam, a
nosso lado, a verdade.
M.E. Iglesias
In, “Entre Luzes e Sombras”
O título do
livro que nos serve de reflexão, reflecte bem a vida do homem que vai
deslizando entre luzes e sombras, entre madrugadas radiosas e ocasos pungentes,
tendo, porém, que ser vivida na busca de algo, que é seguramente, o maior dos
desafios: a busca da verdade.
Diz o autor
que, para tanto, precisamos de conquistar uma
visão harmoniosa da realidade, exortando-nos a começar por nós mesmos – sem esquecer que somos parte de um mundo que
nos rodeia – e, nunca, pelo outro ou
pela sociedade, onde se movem vidas complexas, de grandezas e misérias, as
quais devemos procurar em primeiro lugar no nosso interior e, sempre, numa
atitude de regeneração.
Deixemos,
depois, para outra análise o cosmos
material que nos rodeia e, até, Deus, que é o desconhecido por natureza.
Fica,
portanto, de pé, a procura da realidade no homem que somos.
Como é isto
possível?
Porque a nossa
vida nos pede – se nos dispusermos a procurar essa realidade – devemos começar
por ser humildes e sinceros.
Como a
natureza do homem não se explica isoladamente, a procura que é preciso fazer
para que cada um se conheça a si mesmo tem de passar por aquilo que está à sua
volta: as outras pessoas, os animais e
todas as coisas, onde se entretece numa teia maravilhosa o cosmos e
Deus, que parecendo estar em último lugar, está na dianteira, porque é d’Ele
que tudo dimana e é d’Ele que recebemos a chama do encontro real com a vida que
acontece.
É preciso,
apenas, que a humildade e a sinceridade sejam em nós as bandeiras do amor
humano, à sombra das quais é preciso abrigar os que sem terem recebido, ainda o
dom da fé, buscam, a nosso lado, a
verdade.
Há “porquês”
enormes e dúvidas de igual monta.
E, embora
sabendo que viver é morrer um pouco - nos aspectos biológicos - é
preciso dar vida àqueles que nos parecem sinceros em encontrar caminhos e a
todos os que parecem caminhar derrotados, sem nunca lhes fazer sentir a glória de irmos um passo à frente, porque na
economia do Deus que nos conduz, a glória maior é a de levarmos para Ele, a par
dos passos que damos, os que encontramos a fazer perguntas sem encontrarem
respostas.
É certo que não podemos saber tudo, nem ter respostas para tudo, mas
impõe-se-nos que tenhamos um mínimo de certezas no cumprimento de um mandato
que foi dado a cada homem, de, pelo motivo de fazer parte – embora de maneira
modesta – de um todo cósmico e lhe pertencer, ter cada um como dever, influenciar
o mundo numa relação íntima e interpessoal que constitui a dádiva que deve ser dada – de graça - para o conserto dos homens e das coisas.
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